15.01.2021 Saúde Pública

Pacientes com doenças crônicas terão prioridade na vacina contra COVID-19?

Por CDD

Saiba quais informações sobre o assunto estão sendo avaliadas por especialistas até o momento

Na reportagem, você ficará sabendo que:
– Pacientes com doenças crônicas precisam ficar atentos à composição da vacina contra covid-19;
– Médicos precisam fazer uma avaliação prévia do sistema imunológico da pessoa;
– Existem atualmente cinco tipos de vacina sendo avaliadas por entidades regulatórias do mundo todo;
– Efeitos adversos ainda são desconhecidos.

Alguns países do mundo iniciaram o ano de 2021 aplicando a vacina contra o novo coronavírus em sua população. O Brasil ainda tem uma série de contradições a respeito do imunizante a ser utilizado e como fará para proteger a população.
Alguns grupos prioritários devem ser os primeiros a receber a vacina contra a covid-19, como os profissionais de saúde e pessoas com idade mais avançada. Mas e os pacientes com doenças crônicas, terão atenção especial?
Para essa população específica, é preciso pensar em alguns detalhes como, por exemplo, se a vacina é a chamada ‘viva atenuada’ ou ‘morta inativada’. O fato de o imunizante ser produzido com o vírus ‘vivo ou morto’, ou se é feito através de RNA também precisa ser avaliado.
O médico deve avaliar o comprometimento que a pessoa tem no sistema imunológico. “A covid, além de ter matado 200 mil pessoas no Brasil, pode matar muito mais. O grau de letalidade é pior do que os efeitos colaterais. Entre 1 e 2% das pessoas com covid vão parar no hospital e, dessas, 30 ou 40% têm chance de morrer. Ao tomar qualquer vacina, em geral, o risco é de 1 para 100 mil de desenvolver qualquer doença grave”, afirma a neurologista Raquel Vassão. Ela enfatiza que não dá para saber ainda qual vacina ou qual tecnologia é a mais adequada para pacientes com Esclerose Múltipla, com vírus vivo ou RNA: “Não parece ter uma diferença de eficácia entre as vacinas em andamento”, ressalta.
A médica participou de uma live no canal da AME no YouTube em dezembro e esclareceu algumas das principais dúvidas dos pacientes crônicos sobre a vacina contra o novo coronavírus.

Confira os principais trechos desse bate papo!

– Quais são os tipos de vacina disponíveis contra COVID-19 atualmente?
R: As empresas que estão produzindo as vacinas estão apresentando para a Anvisa algumas. Na Inglaterra e nos Estados Unidos, algumas pessoas estão sendo vacinadas. Atualmente a gente tem cinco vacinas que a maior parte das autoridades regulatórias, a Anvisa, o FDA e a EMA, uma espécie de Anvisa da Europa, estão avaliando. Estão quase prontas ou já estão sendo utilizadas em grupos menores. E tem três tipos que a gente muito provavelmente vai ter contato. A primeira delas é a que no Brasil gera polêmica: a Sinovac. É uma das que usa a tecnologia mais conhecida, que o Instituto Butantã está produzindo. É a vacina de ‘vírus inativado’, ou seja, eles pegam o vírus, injetam substância nele para morrer e essa vacina é injetada em nós para criarmos anticorpos. As cinco vacinas passaram pela fase 2, ou seja, a segunda fase que diz se isso é seguro para uso humano ou não. A gente não vai ter uma vacina só. Tem a vacina de ‘RNA mensageiro’ também e vacina da Pfizer, que usa o adenovírus, que é super corrente, que faz uma rinossinusite, um resfriadinho e, em vez de fazer com que ele cresça nas nossas células, entra no nosso corpo para produzir algumas proteínas e cria uma imunidade contra a covi-19.

– Quem pode e quem não pode tomar a vacina?
R: Em primeiro lugar é importante ressaltar: siga as recomendações do médico que te acompanha. Nós não teremos respostas através dos dados científicos para essa pergunta, do que já foi publicado sobre coronavírus. Quem vai poder usar o que, de Esclerose Múltipla, doenças raras, NMO, porque isso não é foco do estudo para uma vacina que está sendo produzida para bilhões de pessoas, mas já temos algumas respostas.
São apenas suposições mas, em princípio, todos poderão tomar as vacinas. O que pode acontecer é o seu organismo não ter a resposta adequada ou a esperada pelos estudos clínicos. Por exemplo, se você usa um determinado tipo de medicação para Esclerose Múltipla, para NMO, mas, em geral, a maior parte das pessoas adultas serão capazes de se vacinar. Falando em EM e NMO, os medicamentos em geral vão provocar uma alteração no sistema imune de cada paciente, mas o máximo que pode acontecer, de acordo com o que a gente está entendendo, é que não haja uma resposta adequada.
O fato de ter EM e NMO, alguns anos atrás, a gente tinha medo de estimular o sistema imunológico de quem tem uma doença imunológica justamente por causa de infecções. No passado, a gente estudava que as vacinas de ‘vírus vivos’ não deveriam ser usadas pelos pacientes das duas doenças. Em EM saiu um artigo bem grande e a gente passou a ter mais segurança para usar as vacinas de vírus vivos em pacientes com Esclerose Múltipla. O que não diminui o risco, como nada na vida… “ah, eu posso ter um surto logo após tomar a vacina?”. Pode ser que sim. “Ah, mas é por causa da vacina?”. Não sei. Para os meus pacientes, eu vou orientá-los a tomarem a vacina assim que ela estiver disponível. Não vou ser a médica que vai dizer “acho que não vale a pena”. O Brasil é reconhecido mundialmente por vacinação completa

– Quais podem ser os efeitos colaterais?
R: Alguns efeitos colaterais são comuns em qualquer vacina: dor no corpo no local da aplicação, mal estar no dia seguinte, estado febril. Mas nenhum efeito colateral é impeditivo pra gente usar. Não teve nenhum efeito colateral grave registrado até agora.

– Quais são os benefícios para os pacientes com doenças crônicas com a imunização contra a covid?
R: Os hipertensos, diabéticos, obesos, vulneráveis por outras doenças, de pele, autoimune, do pulmão… essas pessoas estão sob risco por estar no hospital. A internação por covid é muito solitária também. O maior benefício da vacinação é a redução de risco de parar no hospital sozinho e ficar sozinho. Você está provavelmente protegendo a si e aos outros. Muito provavelmente a gente vai passar 2021 com máscara e álcool em gel. E mesmo após isso, usar máscara pode virar um hábito positivo pra gente. Se tiver algum sintoma de gripe, por exemplo.

– A vacina pode provocar algumas interações medicamentosas? Quais são as recomendações para as pessoas que fazem remédio de uso contínuo?
R: A vacina para o vírus influenza é conhecida por gerar alguns quadros de doenças autoimunes, mas isso é diferente. Primeiro porque não é o mesmo vírus. A covid não é ‘prima’ do vírus da gripe. Segundo que não é nem a mesma maneira de produção da vacina. Em geral, os medicamentos da primeira linha, que são os interferons, na maior parte das vezes, para vacina não tem problema nenhum. A gente recomenda vacinas para as pessoas que tomam essas medicações. Pensando no Fingolimode, a gente provavelmente pode ter dificuldade na resposta imune contra o coronavírus, mas não tenha problema para tomar. Os imunossupressores, como Ocrelizumabe, podem comprometer a montagem da resposta final imune, mas isso vem de estudos que é uma resposta mais fraca mas não é ineficaz. No caso de Cladribina, a Ciclofosfamida, Alentuzumabe, são medicações que você não vai ser vacinado até três meses depois de uma dose, mas vai poder, à medida que sua imunidade vai se recuperando. Você poderá ser vacinado. Natalizumabe também não haverá problema na vacina. A maior parte das pessoas que tiverem com os exames bons poderão ser vacinadas.

– E sobre as pesquisas em cima dos interferons como proteção para covid?
R: As pesquisas acabaram não mostrando uma grande eficácia para isso, porque o grande problema da covid não é a gripe, mas a resposta inalatória absurda que o vírus gera no corpo. E isso faz piorar a pneumonia viral, a trombose, faz várias outras complicações. Então, quando você tem uma doença muito inflamatória, vai reduzir o sistema imune. Se eu tenho uma manifestação clínica que é muito inflamatória, eu posso pensar em usar coisas para reduzir a atividade do sistema imune. Os interferons não são capazes de reduzir a possibilidade de ter uma doença grave. Começar interferon contra covid não mostrou benefício.

– Quem tem EM tem maior risco diante do coronavírus?
R: O fato de você ter Esclerose Múltipla não te coloca em risco para ter covid, nem a Neuromielite Óptica, por exemplo. O fato de ter a doença não quer dizer que você tem o maior risco de ter covid grave. Tratar com as medicações para essas doenças também não mostrou chances de você ter covid grave. Se você tem doença crônica, anda pra cima e pra baixo, não tem problema grave, provavelmente vai para o fim da fila (da vacinação contra covid-19). Agora, se você tem EM ou NMO com quadros graves e debilitantes, provavelmente entrará no grupo prioritário.

– Vitamina D e imunidade: vale a pena suplementar?
R: Não, não adianta pensar “ah, agora com a covid e vou tomar vitamina D”. A vitamina D tem algum poder, mas é discreto. Até a gente que usa doses altíssimas de Vitamina D é difícil de aumentar. Fortalecer a imunidade é fazer uma alimentação balanceada, exercício físico…não tem milagre. Ter uma vida saudável, saúde mental em dia, isso é bom. Tomar dose altíssima de vitamina D não previne nada.

– Quais seriam os riscos de pegar o covid quando for tomar a vacina? Como se prevenir nos postos, aglomerações etc?
R: Na Inglaterra, só entra você para vacinar. Posso dizer para as pessoas usarem álcool em gel, lavar as mãos. Evitem ficar sem máscara, não abrace o coleguinha, não se aglomere. A fila tá grande, seja o chato da fila. O cara encosta em mim, tem que ser o chato da fila. Se alguém está querendo aglomerar, seja o chato de dizer que você quer distância.

– Muita gente acha que tomar vacina é uma escolha individual, mas não pensa na saúde pública e coletiva. Tomar vacina realmente é uma escolha individual?
R: Querer se vacinar não é um exercício individual. A gente falou no começo da pandemia sobre isolamento, mas agora a vacina é um ato de proteção, assim como a máscara, para si e para os outros.

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