29.01.2020

A forma como você se comunica pode mudar a sua saúde

Por CDD

Há divergências na web sobre o Dia Internacional da Não Violência ser hoje, dia do assassinato de Mahatma Gandhi, ou 02 de outubro, dia do nascimento do líder pacifista indiano. Mas como estamos no início de um novo ano, acreditamos ser importante falar sobre Não violência já. 

A violência, na nossa sociedade está presente nas mais diversas esferas. Fica escancarada nas páginas de jornais com notícias de assassinatos, estupros, violência contra a mulher. Mas e as nossas pequenas violências diárias? E as palavras que usamos e que ferem? E as atitudes violentas que temos em nossas relações de cuidado e cuidador e não percebemos? 

Boa parte dos conflitos que temos com outras pessoas podem ser causados mais pela forma como expomos nossas ideias do que propriamente pelas diferenças de opinião. Baseado nesta crença, o psicólogo Marshall Rosenberg desenvolveu o conceito de Comunicação Não-Violenta (CNV).

A CNV, nas palavras do psicólogo, “começa por assumir que somos todos compassivos por natureza e que estratégias violentas – se verbais ou físicas – são aprendidas, ensinadas e apoiadas pela cultura dominante”. Ou seja, em um ambiente que estimule a competitividade, a dominação e a agressividade, tendemos a nos comportar violentamente. Ao contrário, tendemos a agir com generosidade em ambientes acolhedores e cooperativos.

Assim, cada pessoa que esteja disposta a atentar para a sua forma de comunicação pode promover mudanças ao seu redor, em seu círculo familiar, profissional ou social, através de atos de acolhimento das necessidades do outro, da percepção do que ele está comunicando com a agressividade, o cinismo, a indiferença. Ninguém gosta de estar em constante atrito com os outros. É comum que por traz destes comportamentos haja uma dor muito grande, que a pessoa tenta mascarar.

Um dos mandamentos mais importantes da CNV é exercitar a capacidade de se expressar sem julgamentos e sem classificações de “certo” e “errado”, que buscam “vencer” um debate com o interlocutor e provar um ponto de vista. Muitas vezes, não ouvimos a opinião do outro para compreendê-la, mas apenas para podermos contra-argumentar, em um duelo sem fim.

Uma ideia da comunicação não-violenta é, ao invés de acusar o outro por atos com os quais não concordamos, dizer como nos sentimos diante deles. Ao ser chamado de violento, egoísta ou agressivo, o outro tende a se defender, justificar-se ou culpar fatos/agentes externos. Mas, se dissermos que ficamos tristes, angustiados ou nos sentimos desrespeitados diante da certa atitude, mostramos para o outro a nossa humanidade e as consequências de suas ações, possibilitando uma aproximação. Ao explicarmos o que sentimos, possibilitamos ao outro rever suas atitudes para não nos magoar, além de oportunizamos que ele fale sobre as emoções que o levaram a praticar certas condutas.

Pode parecer muito difícil manter a CNV no dia a dia. E quando começamos a praticá-la, pode até soar artificial. Mas, como toda prática, quanto mais usamos, melhores ficamos. E assim, nos sentimos melhores e tornamos o nosso entorno mais saudável.

Para quem convive com uma doença crônica, a CNV traz diversos benefícios. Como sabemos, altos níveis de estresse podem desencadear crises de piora nas doenças crônicas. Por isso, a CNV nos ajuda a tornar nossas relações melhores e nossa vida mais saudável. 

Segundo Rosenberg, é preciso seguir 4 passos para termos uma Comunicação Não Violenta. Veja quais são e tente praticar no seu dia a dia: 

1- Observação: Observar sem julgar

Observar é olhar para a situação de uma forma neutra, com atenção, interesse, sem fazer julgamentos, guardando sua opinião para si ou para expressá-la de modo específico no momento e contexto apropriados. Primeiramente, observamos e analisamos o que realmente podemos extrair de interessante e enriquecedor de determinado contexto.

Observar sem julgar é uma técnica, um recurso para resolver um conflito pacificamente, de modo que a relação seja transformada, refeita e não acabada.

 Cada pessoa possui o seu juízo de valor, acreditando no que considera ser melhor para a vida.  Quando impomos o nosso juízo de valor a outras pessoas estamos exercendo um julgamento moralizador. Estes julgamentos se manifestam quando não concordamos com os comportamentos e atitudes alheias.

2- Sentimentos: Identificar sentimentos

Não é tarefa fácil desenvolver um vocabulário de sentimentos para nos expressar de forma clara e específica quanto às emoções sentidas em determinadas conversas. A nossa cultura como também conceitos religiosos provocam um bloqueio psicológico, que resulta na ocultação de diversos sentimentos. Identificar e dar nomes às nossas emoções e às emoções do outro, distinguindo sentimentos dos pensamentos, é muito importante para a CNV. É fundamental aprender a identificar nossos sentimentos para saber como lidar com eles.

3 – Necessidades: Reconhecer e assumir os sentimentos

É saber reconhecer a necessidade que cada pessoa tem e que está escondida atrás de cada sentimento, de cada fala, de cada atitude tomada, para construir uma comunicação mais equilibrada e empática. Assim, quando as necessidades são identificadas, e cada pessoa se responsabiliza pelos seus sentimentos, consegue-se estabelecer uma conexão com si próprio e com os outros, conscientizando-se de que as atitudes e falas das pessoas podem estimular nossos sentimentos, mas não ser a causa deles. Somos nós que escolhemos a maneira como queremos receber o que as outras pessoas estão fazendo e falando sobre nós.

4- Pedido:

Quando conseguimos expressar aquilo que observamos, sentimos e necessitamos, fazemos então um pedido de forma clara e objetiva com o desejo de satisfazer nossas necessidades.

 É preciso pedir de forma genuína e demonstrando empatia, caso o pedido não consiga ser atendido. Isso faz com que o pedido não seja visto como uma exigência. Um pedido sem a necessidade expressa e sem o sentimento envolvido é visto pelo outro como uma exigência, punição e culpa, no caso de não serem realizados.

Redação CDD
Fontes:

Comunicação não-violenta. Técnicas para aprimorar relacionamentos pessoais e Profissionais: Marshall B. Rosenberg – São Paulo: Ágora, 2006. Disponível em: www.icomfloripa.org.br/wp-content/uploads/2016/03/Comunicação-Não-Violenta.pdf

https://www.cvv.org.br/blog/a-importancia-da-comunicacao-nao-violenta/
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