23.05.2023 Outras Patologias

Condições crônicas e exercícios físicos: como mudar o estilo de vida?

Pessoas com condições crônicas como problemas cardiovasculares, osteoporose, diabetes, obesidade e outros devem se movimentar

Começar uma rotina de exercícios parece o ‘terror’ para muita gente. E, para quem tem alguma condição crônica, isso pode ser ainda mais desafiador. A atividade física regular é fundamental para prevenir e tratar condições crônicas não transmissíveis (DCNTs), como as cardíacas, respiratórias, acidentes vasculares cerebrais, diabetes, osteoporose, câncer de mama e de colo do útero, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS).

Em 2015, Vivian Vieira, de 25 anos, descobriu que tem diabetes tipo 1. “Eu não fazia ideia do que era, qual a gravidade e como era tratado até ir ao postinho de saúde, onde tive um pequeno “treinamento” sobre como fazer o mínimo para sobreviver. Ali que minha ficha caiu e eu me toquei que precisava fazer pelo resto da minha vida”, afirma.

A jovem também faz tratamento para hipotireoidismo de Hashimoto desde os 10 anos. Quando descobriu o diabetes, teve uma mistura de sentimentos. “Me sentia muito culpada em levar tanta preocupação aos meus pais, medo do tratamento por ser tão invasivo (furar os dedos e aplicar as insulinas por pelo menos 5x ao dia) e exaustivo, ficava ansiosa com o que poderia acontecer caso eu não me adaptasse ao medicamento e ao tratamento – pois teria que mudar toda a minha rotina de vida, alimentação e atividades físicas”, conta.

Durante a infância e adolescência, Vivian tentou praticar diversos esportes: dança, natação, futebol, vôlei, basquete, handebol, ginástica, lutas e até golfe. “Não consegui me adaptar em nenhum, até me forçar (por tanta insistência médica) a praticar alguma coisa para melhorar a minha saúde, que foi quando entrei para academia. Não posso mentir e falar que amo ir agora, mas sei que é o que melhora minha qualidade de vida e me permite fugir um pouco da dieta”, diz.

Priscila Raabe Amélia Gonçalves Patez, de 28 anos, lida com a obesidade, que deixou de ser uma questão estética quando ela aceitou as mudanças do corpo e passou a olhar para si com mais amor e respeito. “Busquei alternativas para o meu peso quando sabia que o meu joelho poderia doer menos, assim como as minhas costas, e quando queria conseguir correr sem sentir falta de ar. Hoje consigo ter uma vida ativa. O peso pode dificultar, mas não me impede de nada. Aos poucos sinto melhoras na minha qualidade de vida, que prefiro atrelar as minhas mudanças de hábitos em geral do que apenas ao emagrecimento”, enfatiza.

Assim como Vivian, Priscila nunca foi fã da prática de exercícios físicos: “Sempre fui uma pessoa mais sedentária. Desde a adolescência, começava um esporte e logo abandonava. Com o passar dos anos e com os quilos a mais, me afastei cada vez mais da atividade física. Retomei na pandemia, com exercícios leves como yoga e pilates. Demorei até me encontrar com as aulas de fitdance, que hoje faço 4x na semana e tem me feito muito bem”.

O que te impede de começar a se exercitar?

Muitas barreiras estão no caminho de quem não consegue começar uma atividade física. Uma delas é o ambiente em que os exercícios são praticados. “Eu odiava ir para um lugar que nunca tive afinidade. Uma vez fui tão forçada e tão sem vontade que cheguei a vomitar no instrutor da academia nos primeiros 15 minutos de aula. Chorava por saber que precisava ir e me fazia mal por não ter a mínima vontade de estar lá”, lembra Vivian. Com o passar do tempo, indo com a mãe e o irmão, a jovem se sentiu mais confortável e segura. Hoje ela consegue ir sozinha e fazer todo o treino.

Antes de lidar com a obesidade, Priscila não sentia vergonha e nem recebia olhares preconceituosos: “O meu corpo padrão cabia naquele espaço de academia, eu conseguia fazer parte. Hoje não, quando entro numa academia e todos os olhares se voltam para mim, sinto culpa e vergonha, porque sinto que sou errada e não deveria estar ali”.

Segundo Victor Cavalcante, profissional de Educação Física, a desistência da prática esportiva logo no início vem acompanhada de alguns fatores: “Dentre eles entram a falta de adaptação com o ambiente em que o exercício físico é realizado, a distância até o local para realizar, fatores sociais como não se encaixar no círculo das pessoas envolvidas, entre outros. No entanto, sem dúvidas, o indivíduo escolher a modalidade esportiva de preferência faz com que o nível de desistência diminua consideravelmente”.

Exercícios físicos e condições crônicas

O mestre em Educação Física e também integrante do Grupo de Pesquisa em Performance Humana (GPPH-UTFPR) e do Grupo de Pesquisa em Exercício e Nutrição (GPEN-UEMG) avalia que, no caso de diagnóstico de condições crônicas, nada impede a pessoa de começar a se movimentar e desde que, claro, seja viável mediante as condições que determinada doença imponha.

“A Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda para adultos e idosos que vivem com condições crônicas (sobreviventes de câncer, hipertensão, diabetes tipo II, HIV): 150 à 300 minutos de atividade física aeróbia de intensidade moderada ou 75 à 150 minutos de atividade física aeróbia de intensidade vigorosa ou uma combinação equivalente a esses números acima citados”, destaca.

Victor acrescenta que, para benefícios adicionais, atividades de fortalecimento muscular de intensidade moderada que envolvam grandes grupos musculares com uma frequência semanal de dois ou mais dias também são importantes.

“Posso ressaltar que as durações, frequências e tipos de exercícios para serem realizados não se limitam somente às condições citadas pela OMS. A “triagem” para definir qual o tipo de atividade ideal para determinadas condições crônicas advém de um trabalho multidisciplinar, no entanto, os responsáveis pela prescrição são os profissionais de Educação Física”, conclui.

Nossas duas entrevistadas da reportagem têm recados importantes para você que tem uma condição crônica e não sabe como começar a se mexer. “Comece de leve e prefira exercícios em grupo. Ter alguém pra te motivar e ter um compromisso com outra pessoa te motiva bastante a ir. Com o tempo as coisas melhoram e o resultado sempre traz alívios incríveis – tanto na sua saúde física quanto na mental”, garante Vivian. “Eu busquei alternativas ao ambiente que para mim foi tóxico. Diria para a pessoa não desistir de cara, porque não vai ser fácil. Mas é possível encontrar um espaço seguro que irá te acolher e respeitar as suas particularidades”, finaliza Priscila.

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