13.12.2022 Outras Patologias

Dermatite atópica e autoestima: como lidar com as aparências?

Por CDD

Lesões na pele e coceira excessiva podem fazer com que pacientes queiram se esconder e se isolar

Na reportagem, você ficará sabendo que:
– Lesões na pele e coceira excessiva comprometem autoestima de pacientes com DA;
– O Brasil tem 4 Centros de Referência e Excelência em Dermatite Atópica (ADCARE);
– Depressão e isolamento social podem fazer parte da vida de quem tem dermatite atópica;
– Alguns alimentos e hidratação, através da ingestão de água, podem ajudar.

 A dermatite atópica faz parte da vida de Suzana de Almeida Costa Mesquita desde os seis meses de vida. Moradora de Brasília, a professora relata que o primeiro sintoma do diagnóstico para ela foi uma lesão na coxa, áspera, ressecada, grossa, com muito prurido, e que em poucos dias espalhou-se pelo corpo todo.

Por muitos anos, a dermatite atópica comprometeu a autoestima dela. “Por ser uma doença que  acomete principalmente a pele, me sentia exposta e vulnerável aos comentários e julgamentos das outras pessoas. A principal questão era essa, ter que lidar com a doença,  com o preconceito e falta de informação por parte dos outros”, lembra. O médico Luis Felipe Ensina, especialista em DA, ressalta que existem dois aspectos importantes para os pacientes no quesito autoestima: “Em primeiro lugar, o aspecto da pele e lesões fazem com que o paciente “se esconda” e não queira sair de casa, o que dificulta o relacionamento social e profissional/escola. A segunda questão é a coceira, às vezes tão intensa que é difícil controlar e isso leva a um constrangimento do paciente quando está diante de outras pessoas”.

Clara Fonseca (Foto: Acervo pessoal)

De fato, lidar com a aparência não foi tarefa fácil para Suzana. Ela aprendeu alguns truques para se esconder, como usar roupas longas e escuras. Mas não havia como fugir das observações das pessoas. “Os comentários às vezes doem mais do que as lesões na pele”, desabafou.

Suzana de Almeida Costa Mesquita (Foto: Acervo pessoal)

A dermatologista Mara Giavina-Bianchi, pós-doutora pela Faculdade de Medicina da USP, acrescenta que algumas pessoas que sofrem com dermatite atópica podem ser vítimas de bullying. “Sobretudo por causa do aspecto da pele. Geralmente os pacientes são introvertidos, socialmente pouco ativos, vão menos a festas, expõe menos o corpo em praia, piscinas”, ressalta.

Além da autoestima prejudicada, a coceira frequente é inquietante e desgastante. Em alguns casos, o paciente pode apresentar insônia, depressão, irritabilidade, pior desempenho em atividades como trabalho e estudo. “Tudo isso faz um quadro muito sombrio para o paciente, tanto que muitos deles pensam em suicidio e medidas drásticas de isolamento social e é realmente impactante na vida. Principalmente nas relações com amigos, namorados e família em geral”, avalia Mara Giavina-Bianchi.

Com o passar do tempo, Suzana começou a viver e a construir o processo de autoaceitação. A partir de então, a vida dela mudou. “Entendi que não era e nunca serei aquilo que as pessoas julgam ou determinam. Que a palavra de alguém nunca terá o poder de determinar quem sou eu. Aprendi que as minhas marcas, minhas cicatrizes, são parte da minha história, elas me lembram todos os dias que a tempestade é passageira, e os dias difíceis chegam ao fim. Parei de me esconder! Hoje quero ocupar todos os lugares que tenho direito, seja de short, de saia, de vestido, o que eu quiser, porque amo o corpo em que habito”, conclui.


Como buscar ajuda

A dica é procurar um atendimento médico adequado, que ajude a controlar a dermatite atópica. Os Centros de Referência e Excelência em Dermatite Atópica (ADCARE) são uma boa opção. No Brasil, já são quatro unidades com essa certificação internacional.  “A DA não tem cura mas tem controle e, ao melhorar a pele, as lesões e a coceira, o paciente ganha uma nova vida”, avalia o médico Luis Felipe Ensina.
Para a dermatologista Mara Giavina-Bianchi, é preciso enfrentar o problema. “Eu poderia dizer: ‘fica tranquilo’, ‘conviva com isso’, ‘não liga pra isso’. São boas dicas, mas pra falar bem a verdade, acho que o principal conselho para essa pessoa que não está bem controlada é procurar um médico, tentando alcançar o melhor controle da DA. Existem inúmeros medicamentos avançados. Acho legal você se aceitar do jeito que é, que possa conviver com todo mundo, mas mais importante do que isso é tentar controlar adequadamente a doença”, considera.
Além de não desistir de encontrar um bom especialista, você pode procurar acompanhamento psicoterápico para lidar com as questões emocionais e de autoestima.


O consumo de alguns alimentos pode ajudar a controlar a dermatite atópica?

A gente sabe que diversos alimentos que existem na natureza têm propriedades verdadeiramente curativas, inclusive antiinflamatórias. Mas será que alguns produtos e até mesmo alguns hábitos saudáveis podem ajudar a controlar a dermatite atópica?
Para esclarecer esse assunto, nós entrevistamos a nutricionista funcional Clara Fonseca.

1 – Com a sua experiência em nutrição, os alimentos podem ser aliados no controle da dermatite atópica?
R: Sim. O aumento do consumo de alimentos que sejam ricos em substâncias antioxidantes, com potencial antiinflamatório, melhorando a saúde do intestino, tão fundamental para quadros de dermatite atópica.

2 – Se sim, poderia falar quais são os principais e que podem ajudar o paciente?
R: Principalmente verduras, legumes e frutas. Parece meio simples demais, né? Mas a quantidade do consumo desses alimentos é baixíssima para o que deveria ser. Imagine um prato divido ao meio, metade deve ser ocupada por legumes e verduras no almoço e jantar. Consumir no mínimo duas frutas por dia. Lembrem-se: quanto mais variedade mais vitaminas, minerais e antioxidantes diferentes teremos contato. Essa diversidade é importante para o nosso organismo.

3 – Qual é o papel da ingestão de água? Existe alguma quantidade para o indivíduo ingerir considerada satisfatória para a saúde da pele.
R: Água é fundamental pra vida. Quando falamos de uma pele ressecada, ela deve ser fator fundamental. Sem falar que o consumo de água está ligado também ao bom funcionamento intestinal que também é ponto importantíssimo para DA. Calcule o seu peso multiplicado por 0,04 que você encontrará a quantidade de ml de água a ser consumida no seu dia.

Compartilhe

Leia Também