04.08.2021 Outras Patologias

Doenças crônicas e amamentação: um desafio para puérperas e bebês

Por CDD

Informação de qualidade e rede de apoio são determinantes para acolher mães com doenças crônicas na amamentação de seus filhos

Na reportagem, você ficará sabendo que:
– A amamentação é um processo que necessita de orientação para a gestante e puérpera.
– A recomendação da OMS é que os bebês recebam leite materno até os seis meses de vida, pelo menos.
– Mulheres com doenças crônicas muitas vezes precisam adaptar a rotina para lidar com o recém-nascido.
– Problemas como ferimentos na mama ou necessidade de UTI neonatal podem impedir o aleitamento materno.

Em 2017, Claudia Catrine Lima dos Santos, de 25 anos, descobriu o diagnóstico de asma grave e movimentos paradoxais das pregas vocais. Em 2020, soube que estava grávida com quase cinco meses de gestação. “No início foi muito difícil porque os médicos me diziam que não conseguiria levar até o fim e eu estava com muito medo. Não consegui completar os 9 meses, mas segurei até 8 com muita dificuldade por causa da doença”, conta.

Claudia Catrine Lima dos Santos e seu filho Miguel (Foto: acervo pessoal)

O pequeno Miguel nasceu e foi amamentado desde o início, mas a mãe acabou contraindo a covid-19 no meio do caminho e atrapalhou o processo. “Quando ele estava com quase 2 meses, precisei me internar. Quando voltei, ele rejeitou a mama. Durante os quase 2 meses que amamentei foi muito doloroso. Meus seios feriram, tive muita dificuldade. Na maternidade, me orientaram muito bem sobre a amamentação, me passaram táticas pra ajudar, mas infelizmente comigo não funcionou”, lamenta.

Claudia ressalta que os sintomas da asma grave acabam influenciando a maneira como lida com o filho: “O cansaço extremo me impedia de levantar de madrugada para amamentar em livre demanda, por exemplo”. No entanto, apesar das adversidades, a jovem enfatiza: “Pode parecer que não vai conseguir, mas você vai fazer o seu melhor, independente de qual seja a forma de alimentação, será única entre você e seu filho, só não desista, no fim, tudo dará certo”. Hoje, Miguel está com 1 ano e dois meses.

Larissa Dorneles Uavniczak, de 34 anos, tem Esclerose Múltipla, com remissão, e também teve de adaptar a rotina da combinação ‘doença crônica e maternar’. “Eu tenho muita fraqueza muscular no braço, então, para evitar isso, sempre amamentei ele com almofadas de amamentação como proteção e elevação do bebê até o seio, para que eu não precisasse fazer força ao segurá-lo… Algumas pequenas adaptações fizeram diferença para que eu não colocasse meu filho em “perigo” e prevenindo acidentes”, lembra. Ela e o filho, Otto, moram em Santa Maria, no Rio Grande do Sul.

Quando soube que estava grávida, Larissa procurou o neurologista para se informar mais sobre o assunto. Segundo ela, o período foi bem tranquilo: ” Eu não senti fadiga durante a gestação, foi uma maravilha, fiquei com uma disposição que há anos não sentia, saudades da gravidez”, brinca.

Larissa Dorneles Uavniczak e seu filho Otto (Foto: acervo pessoal)

Para Larissa, assim como para a maioria das mulheres, a amamentação é algo natural, sem grandes mistérios, mas ela se surpreendeu: “O Otto nasceu com 37 semanas e precisou ficar na UTI, então eu precisei aprender a “esgotar” meu leite para ele receber por sonda.

Foi algo totalmente novo e achava que era algo fácil e estava totalmente enganada. Aprendi muita coisa que eu não tinha noção. Mas amamentar é algo lindo, um elo de amor entre mãe e filho”.

E ela dá um recado para outras mulheres que têm doenças crônicas e se sentem inseguras nesse momento: “Com algumas adaptações, tudo é possível. Ser mãe é algo incrível e amamentar é ainda mais, se tiver oportunidade, faça isso por vocês. Não é fácil, mas não é impossível e vale muito a pena. Meu pequeno sempre foi resistente a resfriados e outros problemas clássicos infantis, e tenho certeza que o leite materno tem sua responsabilidade nisso”.

A recomendação da Organização Mundial da Saúde (OMS) é para que as mamães ofereçam leite exclusivo materno até os seis meses de vida da criança. A Semana Mundial da Amamentação ocorre entre os dias 1 e 7 de agosto.

Cinco anos atrás, Paula Prado Kfouri soube que estava grávida de João. Ela havia recebido o diagnóstico de Esclerose Múltipla em 2005 e viveu com tranquilidade a gestação. “Eu não tive nenhuma complicação relacionada à EM, nenhum sintoma. Tive uma gestação comum, dentro do que foi possível para mim”, afirma.

Paula Prado Kfouri e seu filho João (Foto: acervo pessoal)

Paula cultiva o hábito de cuidar da alimentação mais de perto, com mais atenção ao que consome. “Quando engravidei, uma das coisas que eram inegociáveis para mim era poder manter esse estilo de vida e amamentar o serzinho que eu estava gerando, por ter a consciência do quanto uma boa nutrição pode ser benéfica para nossa saúde integral e nos manter mais fortes, quando for preciso. Eu sabia que corria o risco de não conseguir alcançar esse sonho, mas fui me preparando para que isso fosse possível”, conta.

Os primeiros dois meses de amamentação foram muito desafiadores. “Tive ingurgitamento mamário, febre local, mastite…foi difícil não desistir. Passada essa fase, as coisas começaram a ficar mais tranquilas e acabei amamentando o João até quase os 2 anos! Foi uma fase incrível, eu amei amamentar! Tendo ou não algum diagnóstico, se não houver nenhuma contra indicação que ameace a sua sobrevivência ou a do seu bebê, siga o seu coração”, aconselha.

O que uma gestante precisa saber sobre amamentação?

Informação de qualidade é a principal recomendação para qualquer gestante, independentemente se tiver doença crônica ou não. Já percebemos na reportagem que é um processo que exige atenção e cuidado. “Informações como boa pega, posicionamento do bebê e possíveis obstáculos no período de aleitamento e como resolvê-los, ou quem procurar para pedir ajuda, farão o processo caminhar com muito mais tranquilidade e com maiores chances de sucesso”, avalia a consultora de amamentação Érica Lima.

Além disso, uma boa rede de apoio se mostra essencial para a puérpera. “Muitos fatores emocionais e dificuldades podem estar ligados à falta dessa rede. Até mesmo pessoas ao redor que não validem as escolhas dessa mulher ou que não a respeitem em suas decisões”, ressalta a especialista.

Érica Lima faz uma observação sobre o período de pandemia de covid-19. “Doenças como o coronavírus podem comprometer o bem estar geral da mulher e isso poderá acarretar em inúmeras consequências para o aleitamento como, por exemplo, uma diminuição na produção de leite”, pondera.

A consultora de amamentação também recomenda à gestante manter o calendário vacinal atualizado, se hidratar, tomar muito líquido durante a gravidez e após o nascimento do bebê e manter uma alimentação equilibrada.

Além disso, é importante cuidar da saúde mental desta mãe, criando espaços tranquilos para a amamentação, sem discussões domésticas, e acolhedor caso haja sofrimento na fase do puerpério.

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