“Eu saía mais cedo do trabalho para amamentar e os gestores não viam ‘com bons olhos’, mas era meu direito”
Conheça a história de amamentação e maternidade de Fernanda Hermsdorf Antoniassi, que convive com HPN, uma doença rara
A vida da mulher que tem um bebê e volta ao mercado de trabalho não é fácil. Além de lidar com a nova rotina que se impõe pela maternidade, há alguns medos que assombram a todas: a separação do filho ou o ‘fantasma’ da demissão. Pressionadas, muitas acabam criando estratégias para conseguir amamentar o neném, desde armazenar na geladeira o leite até tirar em meio às mesas do escritório, por exemplo.
Mas hoje você vai conhecer a história do pequeno Valtinho e de Fernanda Hermsdorf Antoniassi, a mamãe. Após uma trombose que teve em 2014, ela descobriu o diagnóstico de HPN, uma doença rara que atinge as células hematopoiéticas. Os sintomas mais comuns são dores no estômago, dificuldade em engolir e respirar, anemia, fadiga e, em alguns casos, formação de coágulos sanguíneos e insuficiência renal.
“A gestação do Valtinho foi em 2021, sete anos depois do diagnóstico. Por conta do HPN e das plaquetas baixas, cuidamos como gravidez de alto risco. Tive muitas muitas dores, um pouco de anemia, que me deixou fraca demais. Era dolorido aplicar o clexane (anticoagulante) na barriga todos os dias, eu vivia roxa. As plaquetas caíram mais, então tivemos que fazer um tratamento no hospital com imunoglobulina, o objetivo era aumentar as plaquetas, mas elas caíram mais e teve efeito colateral (meningite) tive uma enxaqueca horrorosa, vivia a base de remédios para aliviar a dor e no escuro”, lembra.
Como estava grávida em meio à pandemia de covid-19, Fernanda foi transferida para o home office. “Como vivia em exames, consultas praticamente semanais, e muitas dores, basicamente meu rendimento era muito baixo, me sentia mal até psicologicamente”, diz. Em paralelo, ela tocava o escritório particular que tinha de arquitetura e interiores junto com a sócia, que conseguia segurar as pontas.
“E eu quase nunca pegava atestado médico, por mais que todos eles quisessem me deixar de repouso, eu era teimosa e participava das reuniões online sempre, e entregava o trabalho. Pra mim era importante estar com a cabeça em outras coisas também”, relata. E esse ritmo continuou mesmo quando Valtinho nasceu. Fernanda seguia cuidando do bebê entre uma reunião e outra.
Por causa do risco de trombose, Fernanda precisava seguir tomando o anticoagulante mesmo enquanto amamentava, o que foi um desafio pois, segundo ela, o SUS só fornecia a medicação até 40 dias após o nascimento. Como seguir o protocolo da OMS de oferecer o leite materno até os seis meses de vida? “Aí, fiquei desesperada! Meu filho ia fazer dois meses e queria continuar amamentando”, lembra.
Quando voltou a trabalhar presencialmente, Valtinho já tinha 5 meses e já não pedia mais o seio da mãe. “Ele não quis mais o meu peito. E eu tinha certinho as seringas do clexane que arranjei com algumas amigas para ele tomar até os cinco meses. Quando voltei a trabalhar, não amamentava mais no peito, mas era importante ter aquele momento de parar para amamentar, mesmo com fórmula, o meu filho. Eu saia 1 hora mais cedo. Os meus gestores não ‘viam com bons olhos’, mas para mim era importante, era meu direito. Ninguém precisava saber se era no meu peito ou não”, afirma.
Fernanda sabe da importância do vínculo materno no momento da alimentação entre mãe-bebê, mas a pressão social a fazia sofrer: “Eu tinha vergonha de falar que não amamentava no meu peito. Mas a última mamada era importante para ele ficar no meu colinho, mesmo que fosse por fórmula. Encerrar o dia ali, sabe? Acontece que nem sempre conseguia pegar ele acordado, mesmo eu saindo mais cedo”, ressalta.
Sob a orientação de uma consultora de amamentação, Fernanda conseguia oferecer o leite através de uma sonda juntamente com o bico do seio, para que Valtinho pudesse desfrutar do carinho e atenção maternos.
Hoje, Fernanda não é mais CLT e cuida apenas do seu escritório de arquitetura com a sócia. “Não tinha condições físicas e psicológicas de levar 2 horas de deslocamento ida e 2 horas de deslocamento pra voltar do trabalho, era desafiador demais! Agora, o Valtinho tem quase dois aninhos e demanda muita atenção. Consigo ter uma maternidade 100% com o escritório”, conclui.