Consulta Pública nº 88/2025: por que este foi um momento decisivo para quem vive com HPN — e quais são os próximos passos
A Consulta Pública nº 88/2025 da Conitec, que avaliou a incorporação do iptacopana ao SUS para o tratamento de pacientes adultos com Hemoglobinúria Paroxística Noturna (HPN) previamente tratados com inibidor de C5, representou um marco essencial para a comunidade de pacientes, familiares, profissionais de saúde e organizações da sociedade civil.
Com o encerramento da fase de contribuições, entramos agora em um novo momento: aguardar o parecer final, acompanhando atentamente o processo e reforçando o compromisso com um cuidado mais justo, equitativo e alinhado às necessidades reais das pessoas que vivem com HPN.
Por que essa consulta pública foi tão importante?
Como evidenciado no White Paper HPN no Brasil e nas discussões apresentadas durante a audiência pública e a reunião plenária da Conitec, a HPN é uma doença rara que impõe um impacto profundo na vida dos pacientes.
Dados fundamentais levantados pelo estudo mostram que:
- 100% dos pacientes entrevistados relataram fadiga persistente, o sintoma de maior impacto na qualidade de vida;
- 50% precisam viajar para outro município para infusões, com deslocamentos médios de 82 km;
- Muitos convivem com anemia, dor crônica, limitações funcionais e consequências emocionais significativas;
- 40% dos pacientes seguem sintomáticos mesmo com os tratamentos atualmente disponíveis no SUS.
Esses dados reforçam a importância de novas alternativas terapêuticas, especialmente para o grupo que permanece sem resposta clínica adequada.
Nesse contexto, a avaliação do iptacopana, um inibidor de C3 administrado por via oral, abriu uma perspectiva real de atendimento a uma necessidade clínica até então não suprida.
A voz do paciente foi determinante
Durante o processo, relatos individuais, como o da paciente Regina Furuta, trouxeram profundidade humana à discussão técnica.
Em seu posicionamento, ela destacou:
“Viver com HPN é enfrentar desafios físicos, emocionais e sociais, muitos deles invisíveis. A fadiga intensa, o medo das complicações, as idas frequentes ao hospital — tudo isso limita nossa vida, nossos planos e nossa autonomia.”
E completou:
“Uma terapia oral representa mais liberdade, menos deslocamentos, redução da fadiga e a chance de viver com mais normalidade. A incorporação de novas terapias é sobre equidade, dignidade e qualidade de vida.”
Essas falas ecoaram não apenas entre pacientes, mas também entre especialistas e gestores presentes na discussão.
O posicionamento da CDD
No documento submetido à Conitec, a CDD se posicionou favoravelmente à incorporação do iptacopana ao SUS, com base em:
1. Necessidade clínica não atendida
Os tratamentos atuais não oferecem resposta completa para cerca de 40% dos pacientes.
2. Melhora na adesão e autonomia
Uma formulação oral elimina deslocamentos frequentes e pode melhorar o controle da doença.
3. Impacto positivo e sustentável
O iptacopana atende um subgrupo específico, o que reduz impacto orçamentário inicial.
Além disso, melhora desfechos clínicos e reduz custos indiretos associados à rotina de infusões.
4. Equidade e cuidado integral
A tecnologia amplia opções terapêuticas e fortalece o princípio constitucional do SUS:
acesso universal, integral e igualitário.
E agora? Quais são os próximos passos?
Com o encerramento da Consulta Pública, o processo entra na etapa de análise das contribuições pelos membros da Conitec, que emitirão um parecer final.
Os próximos passos incluem:
- Avaliação técnica das contribuições enviadas pela sociedade, associações e especialistas.
- Nova deliberação do plenário da Conitec, considerando as evidências clínicas, econômicas e sociais.
- Publicação do parecer final, que aprova ou rejeita a incorporação.
- Em caso de aprovação: início do processo de incorporação ao SUS, definição de protocolos e ajustes operacionais.
A CDD seguirá acompanhando de perto cada etapa, mantendo pacientes, famílias e profissionais informados sobre o andamento da decisão e seus impactos.
Conclusão
A Consulta Pública nº 88/2025 foi um momento de grande relevância para a comunidade de pacientes com HPN.
Ela representou:
- visibilidade,
- inclusão,
- participação social,
- e o reconhecimento de necessidades clínicas reais.
Agora, entramos em um momento decisivo: aguardar o parecer final, confiantes de que a análise técnica será sensível ao impacto humano, social e científico apresentado ao longo do processo.
Informação é cuidado. Mobilização é mudança.
A CDD permanece comprometida em seguir amplificando vozes, fortalecendo evidências e defendendo o acesso à inovação em saúde para todos os pacientes com HPN no Brasil.

