28.04.2023 Doenças de Pele

Conitec abre consulta pública para elaboração do PCDT de Dermatite Atópica; veja como participar

Por CDD

Comissão recebe contribuições da sociedade pra a consulta pública de elaboração do PCDT para Dermatite Atópica até o dia 8 de maio

A Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias abre consulta pública para a elaboração de um Protocolo Clínico de Diretrizes Terapêuticas para dermatite atópica. Para o cuidado daqueles que têm a doença crônica de pele, é fundamental que os profissionais de saúde orientem suas práticas com base nas melhores evidências científicas disponíveis.

Após a portaria SCTIE/MS nº 116, de 5 de outubro de 2022, que incorporou a ciclosporina oral para o tratamento da dermatite atópica moderada a grave no SUS, fez-se necessária a elaboração do PCDT.

A Conitec quer ouvir sociedade, associação de pacientes e especialistas na área durante a consulta pública, que vai até o dia 8 de maio; para participar, clique aqui.

A dermatite atópica é uma condição crônica, recorrente, inflamatória e pruriginosa da pele, que ocorre com maior frequência em crianças (início precoce), mas também pode afetar os adultos, os quais representam um terço de todos os casos novos da doença. Os pacientes com DA têm barreira cutânea suscetível à xerose, um estado de ressecamento patológico da pele ou das membranas mucosas, fazendo com que a exposição a irritantes ambientais e alérgenos levem à inflamação e prurido. As alterações da barreira cutânea podem ocorrer pela diminuição dos níveis de ceramidas, que desempenham um papel na função de barreira da pele e previnem a perda de água transepidérmica.

Os membros do Plenário da Conitec publicaram uma recomendação preliminar favorável à publicação do PCDT para dermatite atópica. Para ter acesso ao relatório para a sociedade sobre o documento, clique aqui.

O papel da Associação Crônicos do Dia a Dia no PCDT de dermatite atópica

“Um PCDT é muito importante para qualquer patologia porque é ele que define o caminho que o paciente vai fazer a partir do diagnóstico no Sistema Único de Saúde. Atualmente a dermatite atópica não tem esse protocolo, então, esse caminho não existe. Isso significa que médicos não especialistas podem não saber como conduzir o tratamento”, afirma Bruna Rocha, vice-presidente da Associação Crônicos do Dia a Dia.

A integrante da CDD também esclarece que o governo precisa oferecer aquilo que está em protocolo: “Então, se não tem nada em protocolo, significa que o paciente está completamente desasistido”, diz. Bruna Rocha lembra que o assunto começou a ser trabalhado na ONG desde 2017. “E a gente já pensava na construção desse protocolo clínico, porque o paciente de DA é grave, normalmente é uma criança que não está indo para a escola ou um adulto que não está indo trabalhar, é uma pessoa que está tratando depressão, tem um maior risco de suicídio porque justamente não tem tratamento. É uma doença que atinge a pele e há mais discriminação. A gente lutou por esse protocolo! Em 2018 e 2019, fizemos um trabalho com pacientes com dermatite atópica para ouvir quais são os cuidados necessários, com médicos envolvidos também, para que a gente pudesse entender a melhor linha de tratamento. Hoje a gente comemora, pode ser que não seja o ideal ainda no momento, mas ter um primeiro PCDT para DA é uma conquista muito importante e a gente se sente muito orgulhoso de fazer parte dessa história, de trazer o protagonismo do paciente nessa decisão, e de saber que fizemos parte disso também”, conclui Bruna Rocha.

O que dizem os pacientes

Camila Ferreira Batista, fundadora do projeto ‘Você não é só Pele’, no Instagram, tem dermatite atópica desde criança e teve muita dificuldade em encontrar um tratamento adequado durante a infância. Na adolescência ela teve uma melhora, mas a DA ressurgiu na fase adulta: “Só a hidratação não estava resolvendo no meu caso, precisei tomar medicação e foi uma caminhada bem cansativa. Com coceira por horas e, no inverno, acabo piorando”, relata.

Para ela, a elaboração do PCDT para dermatite atópica é mais uma conquista para os pacientes. “Fico feliz, mesmo que ela tenha demorado. Sei que isso irá abrir novas portas para o acesso ao tratamento do paciente”, diz.

Camila acredita que, com o PCDT, muitas pessoas não sofrerão tanto, já que os profissionais de saúde estarão mais bem informados sobre o diagnóstico. “Que o paciente sofra com menos frustrações ao ser instruído de maneira errada no seu tratamento, já que isso assegura que o médico vai proceder de acordo com o protocolo. Como paciente eu sei que o caminho para o controle não é uma coisa linear, tem que ter paciência em todas as partes do processo mas, quando a pessoa que vai te dar as principais orientações do que deve ser feito está bem instruída, a gente espera que a qualidade e o amparo no tratamento sejam os melhores”, conclui.

O que dizem os especialistas

O PCDT é um instrumento que dá segurança e efetividade clínica para o tratamento da doença, de modo organizado e acessível. Na avaliação do dermatologista Guilherme Muzy, este documento veio em um excelente momento: “Principalmente agora que temos novas opções de tratamento. O PCDT é a base pela qual toda nova medicação e/ou tecnologia será avaliada para incorporação pelo SUS, então, ter este documento pronto e em pleno funcionamento neste momento é fundamental para que os pacientes possam, cada vez mais, ter acesso aos mais eficazes tipos de tratamentos”.

O especialista afirma que um dos destaques positivos é a incorporação da ciclosporina para a indicação de dermatite atópica. “Essa medicação, quando bem utilizada, é segura e eficaz para o tratamento. Ainda, ela servirá de base para comparação com outros tratamentos futuros”, diz. Muzy aguarda que a Conitec avalie mais medicamentos que já foram aprovados no âmbito do SUS. “Felizmente, o PCDT é um documento dinâmico e que se atualiza constantemente, então melhorias ocorrerão ao longo do tempo. O ponto principal é que agora temos um PCDT para DA, algo necessário para essa doença comum que acomete inúmeros pacientes”, enfatiza.

Na opinião da dermatologista Mara Bianchi, a elaboração do PCDT para a doença está atrasada: “Já faz muitos anos que, especialmente no Sistema Único de Saúde, o médico que acompanha esses pacientes com DA moderada a grave tinham que usar drogas off label sem aprovação da Conitec para o tratamento. E, há 5 anos já, nós temos o dupilumabe que é um medicamento para esses casos graves de dermatite atópica. Em outros países a gente vê que esses medicamentos são incorporados mais rapidamente e o rol de procedimentos cobertos pelo sistema privado também e aqui demorou bastante tempo”

Estão previstos no PCDT três medicações: hidrocortisona, dexametasona e ciclosporina. A médica acredita que outro fármaco poderiam ser incorporados outros corticóides de outras potências: “Então, poderíamos acrescentar loção, creme, pomada, além da incorporação do dupilumabe, que é um imunobiológico que revolucionou o tratamento de DA moderada e grave e que temos muita experiência clínica apoiando”, explica. Mara também afirma que o SUS poderia disponibilizar hidratantes para a população com DA, pois faz muita diferença na qualidade de vida daqueles que convivem com a doença de pele.

Saiba como participar da consulta pública

A consulta pública para elaboração do PCDT de dermatite atópica vai até o dia 8 de maio. Para dar opinião sobre o assunto e participar da consulta, acesse o portal da Conitec.

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