18.08.2023 Saúde Pública

‘Projeto Pela Reconquista das Altas Coberturas Vacinais’ busca reverter trajetória de queda da imunização

Ministério da Saúde, Fiocruz e Sociedade Brasileira de Imunizações levaram o projeto para o Amapá e Paraíba; saiba mais

Para tentar reverter a queda no número de vacinação em todo o Brasil, o Ministério da Saúde, a Sociedade Brasileira de Imunizações e a Bio-Manguinhos/Fiocruz trabalham juntos no ‘Projeto Pela Reconquista das Altas Coberturas Vacinais‘ desde 2022. Os estados escolhidos como ‘pilotos’ nessa empreitada foram Amapá e Paraíba. 

Em 2021, de acordo com dados do governo, menos de 59% dos cidadãos foram imunizados no País. No ano anterior, o ápice da pandemia, o índice de vacinação era de 67% e, em 2019, de 73%. 

O ‘Projeto Pela Reconquista das Altas Coberturas Vacinais’ será concluído em novembro deste ano, com a entrega de um relatório detalhado das ações nos territórios ao PNI – Programa Nacional de Imunizações. “A ideia desse trabalho vem desde 2021, quando Nísia Trindade (atual ministra da Saúde) ainda era da Fiocruz. Nós levamos o projeto para ela, que gostou e nós fomos para a Secretaria de Vigilância e Saúde no governo passado. A partir daí, se assinou um termo de cooperação e nós fomos à luta”, afirma Lurdinha Maia, coordenadora do projeto e da Assessoria Clínica de Bio-Manguinhos, em entrevista à reportagem da CDD

Os agentes atuam na ‘ponta’, dialogando com o coordenador de imunização da atenção primária de vacina e o secretário da cidade em questão antes de ir para o Estado. No Amapá, 16 municípios receberam os agentes, e, na Paraíba, 25. “Foram os dois estados da federação que alcançaram as coberturas de campanha, tanto da pólio como agora da influenza, inclusive com as capitais. Lá no Amapá, apenas Serra do Navio e Marzagão não atingiram a imunização geral. A razão: 90% é área fluvial, precisa de barco para levar a vacina, entendeu?”, explica Lurdinha.

No quesito infraestrutura, a médica enumera uma série de questões que precisam ser resolvidas:

Lurdinha também avalia outras situações que contribuem para a queda nessas regiões: hesitação vacinal, falta de integração no programa de imunização de atenção primária à saúde, dificuldade de acesso pelo horário de funcionamento dos postos e agentes de saúde que precisam dar atenção a outros programas como hipertensão e diabetes, por exemplo. 

A coordenadora do projeto também constatou um manejo questionável das vacinas no dia a dia. “Algumas não estão sendo abertas todos os dias para economizar. Então, se é uma vacina que tem 5 doses ou 10 doses no frasco, se não estiver ali as 10 pessoas, eles não estão abrindo. E isso não pode existir, não é correto”, diz.

O projeto criou redes locais com a participação da Pastoral da Criança, Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, Central Única das Favelas (CUFA) e universidades.

“Agora, vou dizer que não é fácil porque a gente está lidando com cultura, com questões muito fortes. Na Paraíba, nós estamos com 30 jovens repórteres, preparados pelo Canal Saúde, que trabalham em 9 comunidades. Eles se prepararam para dialogar com os moradores. Lá no Oiapoque já estamos com os indígenas e o teatro, interpretando a realidade deles. Isso é controle social. Às vezes, coloco no meu Whatsapp assim: ‘olha, estamos saindo para Cuité, vamos ficar quatro dias’. Aí mostro aquele barquinho chegando nas casas e vacinando as pessoas. É preciso fazer com que o nível local se sinta vivo, que não está sozinho”, ressalta Lurdinha Maia.

A coordenadora da Assessoria Clínica de Bio-Manguinhos relata que o município de Oiapoque chegou a fazer festas, organizadas pelo governo municipal, em meio à pandemia de covid-19. “Aí, o Ministério Público ia lá e mandava parar. E com o projeto nós trabalhamos nesse município e as pessoas conseguiram não só acabar com essa situação, mas implementar as coberturas vacinais que não existiam. Hoje, os objetivos de imunização foram atingidos por lá. Então, é atuando na ponta e dialogando sempre”, conclui.

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