Qual a ligação entre asma e esofagite eosinofílica (EoE)?
Você sabe qual a ligação entre asma e esofagite eosinofílica (EoE)? Ambas são inflamatórias, caracterizadas por disfunção imunológica e aumento da permeabilidade da mucosa. Frequentemente, elas se manifestam em conjunto, especialmente em crianças. Assim, sugere-se que há uma predisposição alérgica comum e alguns mecanismos patogênicos compartilhados.
Asma e Esofagite Eosinofílica (EoE)
A asma, uma doença respiratória crônica que afeta milhões em todo o mundo, é caracterizada por inflamação das vias aéreas, hiper-reatividade brônquica e obstrução reversível do fluxo de ar. Essa inflamação, frequentemente desencadeada por alérgenos, infecções ou irritantes, resulta em sintomas como tosse, chiado no peito, falta de ar e aperto no peito.
Por sua vez, a EoE, uma doença inflamatória crônica do esôfago, é definida pelo acúmulo de eosinófilos na mucosa esofágica, levando a disfagia, dor torácica, impactação alimentar e, em casos graves, estenose esofágica. A fisiopatologia da EoE envolve uma complexa interação entre fatores genéticos, ambientais e imunológicos, com alérgenos alimentares desempenhando um papel crucial na sensibilização e inflamação.
A atopia: o elo comum
A atopia é um fator crucial que conecta asma e EoE. Ou seja, indivíduos atópicos têm um sistema imunológico mais propenso a reagir de forma exagerada a alérgenos ambientais, como pólen, ácaros e certos alimentos. Essa resposta imune desregulada pode se manifestar como diferentes condições alérgicas, incluindo asma, rinite alérgica, dermatite atópica e EoE.
De acordo com estudos, a grande maioria dos pacientes com EoE (até 80%) apresenta histórico pessoal ou familiar de atopia, sendo asma e rinite alérgica as condições mais frequentemente associadas. Então, a presença de atopia em pacientes com EoE sugere que mecanismos imunológicos semelhantes podem estar envolvidos na patogênese de ambas as doenças.
Nesse sentido, a associação entre asma e EoE é complexa e multifatorial, com evidências crescentes apontando para uma série de fatores interligados.
Marcha alérgica: a progressão das doenças alérgicas
A “marcha alérgica” é um termo que descreve a progressão típica das doenças alérgicas ao longo da vida de um indivíduo atópico. Isso significa dizer que a sequência geralmente começa com dermatite atópica na infância, seguida por alergia alimentar, asma e, por fim, rinite alérgica. Logo, a EoE pode ser considerada um componente dessa marcha alérgica, manifestando-se em conjunto com outras condições atópicas.
Mecanismos imunológicos compartilhados
Em resumo, asma e EoE compartilham mecanismos imunológicos subjacentes, incluindo a ativação de células T auxiliares tipo 2 (Th2) e a produção de citocinas pró-inflamatórias, como interleucina-4 (IL-4), IL-5 e IL-13. Essas citocinas desempenham papel fundamental na inflamação eosinofílica característica de ambas as doenças.
Fatores de risco genéticos e ambientais
Fatores genéticos e ambientais podem contribuir para o desenvolvimento tanto da asma quanto da EoE. Então, alterações em genes que regulam a resposta imune e a função de barreira epitelial se associam às condições. Além disso, fatores ambientais, como exposição a alérgenos, tabagismo e infecções respiratórias, podem influenciar o desenvolvimento e a gravidade dessas doenças.
Implicações clínicas
A forte associação entre asma e EoE tem implicações clínicas significativas. Pacientes com asma apresentam risco aumentado de desenvolver EoE e vice-versa. Por isso, é crucial que os médicos estejam atentos a essa associação, investigando a presença de ambas as condições em pacientes com sintomas sugestivos.
O manejo da asma e da EoE exige uma abordagem multidisciplinar, com foco no controle dos sintomas, prevenção de complicações e melhora da qualidade de vida. O tratamento da asma geralmente inclui corticosteróides inalados, broncodilatadores e modificadores de leucotrienos. Para EoE, o tratamento pode incluir corticosteróides tópicos ou sistêmicos, dietas de eliminação e, em alguns casos, dilatação endoscópica.
A pesquisa translacional continua a desvendar os mecanismos moleculares e celulares que conectam asma e EoE, abrindo caminho para novas estratégias de prevenção e tratamento. A identificação de biomarcadores específicos, o desenvolvimento de terapias direcionadas e a modulação da microbiota intestinal são áreas promissoras de pesquisa, porque têm potencial para revolucionar o manejo dessas condições.
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Referências:
- Medeiros, Myckanne Mirelle dos Santos, et al. “O uso do Dupilumabe no tratamento da esofagite eosinofílica.” Brazilian Journal of Implantology and Health Sciences 6.8 (2024): 535-545.
- Kinoshita, Yutaka, et al. “Eosinophilic esophagitis in adults: prevalence, clinical features, and endoscopic findings in a nationwide survey in Japan.” Journal of gastroenterology 50 (2015): 568-573.