11.11.2022 Saúde Pública

Novembro Azul: quais são as doenças crônicas que mais atingem os homens no Brasil?

Os homens ainda precisam investir mais em prevenção e promoção da saúde durante todo o ano – e não apenas no Novembro Azul; saiba mais

A expectativa de vida dos homens brasileiros ainda é 7,1 anos a menos que as mulheres, segundo dados do Ministério da Saúde, e em todas as faixas etárias até os 80 anos. A estimativa é referente aos anos de 2000 e 2018. Em pleno século XXI, o autocuidado e a prevenção ainda são uma realidade distante para a maioria deles.

Até os 60 anos de idade, os homens têm uma tendência maior de mortalidade, especialmente por causa das DCNTs: Doenças Crônicas Não Transmissíveis. O estudo ‘Saúde-Brasil 2021-2022’ revela que as principais causas são as patologias cardiovasculares, respiratórias crônicas, neoplasias e diabetes mellitus, sendo responsáveis por 55% do total de mortes no Brasil entre eles há quatro anos.

Os homens têm 40% mais risco de morrer por problemas cardiovasculares. “Há vários motivos para os homens serem mais afetados. O principal é uma menor proteção hormonal, pois o estrógeno e a progesterona são protetores contra a aterosclerose. Os homens têm mais hipertensão, fumam mais, têm mais sobrepeso (embora obesidade seja igual entre homens e mulheres). E, além desses, classicamente os homens têm menor cuidado com sua saúde, com visitas menos regulares a médicos e serviços de saúde”, afirma o cardiologista Múcio Tavares.

Para o especialista, o controle dos fatores de risco reduz significativamente o risco de ocorrência da doença aterosclerótica e das consequências delas como infarto, derrame e doença renal. “Políticas públicas de cadastro de homens sob risco e proatividade em agendamento de visitas a médicos e serviços de saúde certamente contribuiriam para uma melhor aderência. Tão importante como, a redução na ingestão de sal, alimentos salgados e de açúcar e alimentos adoçados e menor acesso a alimentos compostos por gorduras trans. Essas últimas medidas devem ser ensinadas desde a infância”, conclui o cardiologista.

Os homens também têm 50% mais risco de morrer por doenças respiratórias crônicas. Osvaldo de Moraes, que mora em Poços de Caldas, Minas Gerais, tinha 60 anos de idade quando começou a dar os primeiros sinais de enfisema pulmonar, uma doença degenerativa que, no caso dele, foi desenvolvida após anos de consumo de cigarro. “De vez em quando levava ele para consulta aqui no postinho e o médico percebeu que o pulmão já estava comprometido. É bom alertar as pessoas sobre esse problema, pois não é fácil”, se recorda Vera, a esposa.

Agora, aos 78 anos, e com uma nova chance, ele mudou completamente os hábitos: “Eu parei de fumar, comecei a me alimentar melhor e hoje, quem diria, vou à academia todos os dias. Até aos sábados”, enfatiza Osvaldo.

Não precisa nem dizer que o uso excessivo do cigarro, álcool, uma dieta e estilo de vida pouco saudáveis contribuem para uma saúde mais debilitada da população masculina. A Pesquisa Vigitel de 2020 também aponta um risco aumentado para pressão alta e/ou alto índice de massa corporal nesses contextos.

Saúde mental masculina também merece atenção

Se os homens são considerados mais ‘descuidados’ no quesito saúde em geral, imagine sobre as questões emocionais? “A construção social de uma figura masculina forte, invulnerável e autossuficiente é imposta aos meninos que, buscando este ideal, podem se tornar homens que entendem o cuidado como uma necessidade atrelada ao feminino. Muitas vezes a resistência em buscar ajuda está ligada a entrar em contato com a própria fragilidade e, portanto, não ser bom ou até “homem” o suficiente para lidar com o próprio corpo e com a própria mente. E isso é uma falácia impregnada na cultura”, avalia o psicólogo e psicanalista Caio Cesar Rodrigues de Araújo.

Muitos acabam encontrando uma ‘válvula de escape’ no abuso de álcool, drogas e medicamentos, tentativas de suicídio e situações de risco por comportamentos violentos no trânsito e na vida em geral. “Precisamos parar de pensar no homem como uma figura agressiva e invulnerável, pois é justamente isso que os torna mais vulneráveis ao alcoolismo, à drogadição e à morte violenta ou autoinduzida. Buscar ajuda não é ser fraco, é se fortalecer sem usar a vida ou a saúde em troca”, afirma Caio.

O psicólogo explica que, na maioria das vezes, problemas financeiros, de relacionamento e até violências como o racismo e a lgbtfobia são reprimidos por eles: “Muitas vezes são abafados na voz do homem, como se ele não tivesse o direito de sofrer e falar sobre seu sofrimento. Sentimentos de culpa e insuficiência substituem a busca pela reparação e da melhora que um cuidado com a saúde mental promoveria”.

Um relatório da OMS de 2019 revela que 76% dos casos de suicídio no Brasil são cometidos por homens. “A ideia de precisar lidar com tudo sozinho, de viver na perspectiva do tudo ou nada promove a falsa impressão de que a falha não pode existir ao lado da vida. E isso é o que muitas vezes é trabalhado na saúde mental masculina: é possível viver, falhar, ser vulnerável e seguir em frente. Buscar ajuda precisa ser visto mais como um ato de coragem do que fracasso: saber buscar ajuda é se tornar um herói — e não um mártir — da própria vida”, conclui o psicanalista.

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