Novas diretrizes da OMS para a qualidade do ar podem salvar milhões de vidas
Crianças e pessoas com doenças crônicas enfrentam maiores riscos à saúde causados pela poluição do ar. A poluição do ar é mais perigosa do que se pensava há algumas décadas, mesmo em concentrações mais baixas, e a carga de doenças que causa é semelhante a outros grandes riscos à saúde global, como uma alimentação não saudável e tabagismo, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS).
A cada ano, estima-se que a exposição à poluição do ar cause sete milhões de mortes precoces, bem como a perda de milhões de “anos saudáveis” de vida em todo o mundo.
Em resposta ao crescente corpo de evidências que mostram como a poluição do ar afeta negativamente muitos aspectos da saúde, a OMS publicou as novas Diretrizes Globais de Qualidade do Ar, a primeira atualização global desde 2005. As diretrizes recomendam níveis de qualidade do ar para seis poluentes que têm os mais fortes evidências de efeitos adversos à saúde: material particulado, ozônio, dióxido de nitrogênio, dióxido de enxofre e monóxido de carbono.
“Sabemos há algum tempo que o ar que respiramos tem um enorme impacto em nossa saúde”, diz Panagis Galiatsatos, médico pulmonar e de cuidados intensivos da Johns Hopkins Medicine em Baltimore.
“A Lei do Ar Limpo de 1970 nos Estados Unidos começou a estabelecer limites para as emissões em resposta às mortes e condições crônicas de saúde causadas pela poluição do ar”, diz o Dr. Galiatsatos. Nas décadas que se seguiram a essas primeiras regulamentações, milhões de vidas foram salvas como resultado das restrições sobre o que pode ser emitido por fábricas e automóveis, diz ele.
“Há agora um reconhecimento de que precisamos fazer mais para proteger nosso ar e nossa saúde; é uma prioridade de saúde agora maior do que nunca”, diz ele.
A poluição por material particulado (PM) é um grande problema global
Riscos à saúde associados a material particulado (PM) de diâmetro igual ou inferior a 10 microns (µm; PM10) ou igual ou inferior a 2,5 µm (PM2,5) de diâmetro – partículas inaláveis e partículas inaláveis finas, respectivamente — são de particular relevância para a saúde pública, de acordo com a OMS. Também conhecido como poluição por partículas, o material particulado consiste em uma mistura de partículas sólidas e gotículas líquidas encontradas no ar, de acordo com a Agência de Proteção Ambiental americana (EPA). Algumas partículas, como poeira, sujeira e fumaça, são visíveis, enquanto outras podem ser vistas apenas com um microscópio eletrônico.
A OMS estima que mais de 90% da população global vive em áreas onde as concentrações excedem a diretriz de qualidade do ar de 2005 para exposição a longo prazo ao PM. Os países com fortes esforços orientados por políticas para melhorar a qualidade do ar muitas vezes viram uma redução acentuada na poluição do ar, enquanto os declínios nos últimos 30 anos foram menos perceptíveis em regiões com boa qualidade do ar.
Não só a concentração de MP pode depender de onde você mora, mas o tipo de poluição também pode variar. Por exemplo, na Califórnia, uma grande parte das partículas poluentes são causadas por partículas de nitrato do escapamento de veículos motorizados, de acordo com a American Lung Association. Nos estados do leste, há mais partículas de sulfato, que são em grande parte causadas por altos níveis de dióxido de enxofre emitidos por grandes usinas a carvão.
De acordo com a American Lung Association, qualquer pessoa que viva onde os níveis de poluição por partículas são altos está em risco, mas alguns grupos enfrentam um risco maior:
- Bebês, crianças e adolescentes
- Pessoas com Asma e Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica (DPOC)
- Pessoas com doenças cardíacas
- Pessoas de origem hispânica ou afrodescendentes
- Fumantes ou ex-fumantes
- Pessoas com renda mais baixa
- Pessoas com obesidade
Também há evidências de que a exposição a longo prazo à poluição por partículas pode aumentar o risco de diabetes de uma pessoa, de acordo com a organização.
O risco que a má qualidade do ar representa para as crianças é especialmente preocupante, diz Galiatsatos. “Essas toxinas não apenas contribuem para que algumas crianças desenvolvam uma doença como a Asma, mas também estão roubando delas o potencial para o verdadeiro desenvolvimento pulmonar e a função pulmonar ideal”, diz ele. Isso ocorre porque nossos pulmões continuam a crescer bem no início da adolescência e a função pulmonar continua a evoluir até os trinta e poucos anos, diz ele.
Pesquisas sugerem que níveis mais altos de poluição do ar podem aumentar o risco de morte por COVID-19. Em um estudo publicado em setembro de 2020, na revista científica Environmental Research Letters, os pesquisadores descobriram que o aumento da exposição a poluentes perigosos do ar estava associado a um aumento de 9% na morte entre pacientes com COVID-19.
A ciência sobre material particulado e outros poluentes continua evoluindo, por isso é importante revisar e atualizar as diretrizes, diz Galiatsatos. “O desafio é que alguns dos efeitos na saúde desses produtos químicos não acontecem imediatamente. É como fumar; às vezes não vemos os danos na saúde até décadas depois”, diz ele.
Os pesquisadores usam as informações mais recentes para calcular o número de mortes que poderíamos evitar, ou as doenças que poderíamos melhorar, se reduzíssemos a quantidade de certos poluentes no ar que respiramos, diz Galiatsatos. Quase 80% das mortes relacionadas ao MP poderiam ser evitadas no mundo se os níveis atuais de poluição do ar fossem reduzidos aos propostos na diretriz atualizada, de acordo com uma rápida análise de cenário realizada pela OMS.
O que você pode fazer para ajudar a melhorar a qualidade do ar
Uma maneira de ajudar a reduzir a poluição do ar é escolher um representante político que faça dessas pautas uma prioridade, diz Galiatsatos.
Há também pequenas mudanças que você pode fazer em sua vida diária que podem fazer a diferença. A EPA sugere as seguintes estratégias para nos ajudar a respirar um pouco melhor:
- Economize gás (e emissões) pegando carona, usando transporte público, pedalando ou caminhando sempre que possível.
- Mantenha o motor do seu carro devidamente ajustado e certifique-se de que os pneus estão calibrados.
- Use aparelhos e equipamentos com a etiqueta Energy Star sempre que possível (veja abaixo a nota da CDD sobre o programa de eficiência energética no Brasil).
- Use folhas e resíduos do quintal para adubar o solo, ao invés de queimar.
Nota da CDD:
No Brasil, a Eletrobras e o Inmetro utilizam uma etiqueta de eficiência energética residencial, para promover o uso eficiente da energia elétrica e combater o desperdício e a reduzir os custos e os investimentos setoriais.
O Procel – Programa Nacional de Conservação de Energia Elétrica é um programa coordenado pelo Ministério de Minas e Energia e executado pela Eletrobras. Foi instituído em 30 de dezembro de 1985 para promover o uso eficiente da energia elétrica e combater o seu desperdício.
As ações do Procel contribuem para o aumento da eficiência dos bens e serviços, para o desenvolvimento de hábitos e conhecimentos sobre o consumo eficiente da energia e, além disso, postergam os investimentos no setor elétrico, mitigando, assim, os impactos ambientais e colaborando para um Brasil mais sustentável.
Veja abaixo algumas fontes sobre a qualidade do ar no Brasil:
- Relatórios de 2020 – Procel
- O estado da qualidade do ar no Brasil: lições e caminhos para o avanço
- Análise do monitoramento da qualidade do ar no Brasil
- Programa Nacional de Controle de Qualidade do Ar
- Poluentes e a qualidade do ar
- Padrões de Qualidade do Ar – Ministério do Meio Ambiente
- Brasil não cumpre legislação sobre qualidade do ar
- Padrões da qualidade do ar