O que é Afasia? Conheça a condição do ator Bruce Willis
Recentemente a família do ator norte americano Bruce Willis anunciou que ele estaria se afastando da atuação devido a uma condição conhecida como Afasia. Embora bastante comum, muitos não conhecem esse distúrbio de comunicação capaz de afetar as habilidades da linguagem falada e escrita.
O que é Afasia?
A Afasia é o resultado de danos nas estruturas do cérebro envolvidas no processamento da linguagem, tornando a comunicação difícil e muitas vezes frustrante para a pessoa afetada e aqueles no seu entorno. A causa mais comum de Afasia é o Acidente Vascular Cerebral (AVC), embora lesões traumáticas, tumor cerebral, infecção, doenças neurodegenerativas e outras doenças também possam causar a Afasia. Segundo Bárbara Costa Beber, fonoaudióloga e professora da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA), na maioria massiva dos casos, as afasias são consequência de lesões no lado esquerdo do cérebro, que é o hemisfério responsável pela linguagem em aproximadamente 95% das pessoas destras. Já em pessoas canhotas, a afasia pode ser resultado de lesões em qualquer um dos lados do cérebro, pois o processamento da linguagem é distribuído de forma menos assimétrica entre os hemisférios.
“O termo Afasia, quando mencionado de forma isolada, é considerado um sintoma ou sequela de doenças neurológicas agudas como o AVC. Já a respeito do caso Bruce Willis, não foi noticiado de forma explícita o tipo de afasia diagnosticada, mas as notícias nos levam à suspeita de que, possivelmente, o ator esteja convivendo com uma Afasia progressiva Primária” explica Bárbara. Ela ainda alerta “falar em estruturas do cérebro pode parecer muito complexo, e é! Mas é importante ressaltar que diferentes áreas cerebrais impactam em habilidades e capacidades diferentes.”
Já quando o termo “Afasia” aparece dentro da expressão “Afasia progressiva Primária”, ele se refere a uma condição neurodegenerativa, progressiva e incurável, sendo uma doença semelhante à doença de Alzheimer, explica a Profa. Bárbara Costa Beber, responsável por uma série de pesquisas sobre afasia na UFCSPA. Na doença de Alzheimer ocorre a morte progressiva de neurônios responsáveis pela memória situados no hipocampo, por exemplo. Já na Afasia Progressiva Primária, essa morte neuronal ocorre em regiões responsáveis pela linguagem. Como a linguagem possui várias funções, o quadro clínico vai depender do local onde esse dano está mais concentrado. Por esse motivo, a Afasia Progressiva Primária pode se apresentar em três variantes diferentes: a afasia logopênica, a semântica, e a agramatical ou não-fluente. Nossa convidada especial fez um resumão para explicar cada variante dessa condição que ganhou as mídias sociais no último mês, lembrando que elas ocorrem em zonas diferentes de nosso cérebro.
Afasia Progressiva Primária – Variante Logopênica
Nessa variante o principal sintoma é o chamado “efeito ponta da língua”. É quando a pessoa tem a sensação que saber que palavra quer falar mas não consegue dizê-la. Também podem ocorrer trocas de sons na fala, por exemplo, falar “caleira”ao invés de “cadeira”, e apresentar dificuldade em repetir frases.
Afasia Progressiva Primária – Variante Semântica
A variante semântica é marcada pela dificuldade em dizer o nomes das coisas, por exemplo descrever um objeto pelo seu nome, e em compreender palavras, mas a articulação da fala costuma estar preservada. É comum que essas pessoas apresentem erros bem característicos na leitura e na escrita.
Afasia Progressiva Primária – Variante Não-Fluente ou Agramatical
Pessoas com a variante não-fluente ou agramatical costumam apresentar dificuldades em articular as palavras, precisando fazer muito esforço para emitir a fala. Também podem ter dificuldades com a gramática, apresentando erros na conjugação de verbos e no uso de preposições e artigos.
Existem ainda outros tipos de Afasia, cada um associado a diferentes problemas de linguagem que dependem da área cerebral atingida. As três mais discutidas são Afasia de Broca, de Wernicke e Global, confira:
Tipos de Afasia
Afasia de Broca
Identificada por volta de 1860 pelo cirurgião francês Paul Broca, que notou várias pessoas com tipos semelhantes de distúrbios da fala, a Afasia de Broca ocorre quando há lesão em uma área que se acredita controlar a articulação da fala. As pessoas com esta forma de Afasia são geralmente consideradas capazes de entender, mas não são capazes de produzir bem a fala e parecem ter dificuldade em expressar o que querem dizer. Como resultado, sua fala sofre com a incapacidade de usar funções e palavras conectivas como “o”, “é”, “para” ou “e”. Por exemplo, eles podem dizer “João… casa”, com uma longa pausa entre as palavras.
Embora a dificuldade em produzir sons e entonação seja muito comum, as pessoas com o diagnóstico de Afasia de Broca também parecem apresentar uma dificuldade gramatical, o que significa que é difícil para aqueles com esse tipo de Afasia encontrar as palavras certas, ainda que conscientes de sua dificuldade.
Afasia de Wernicke
Causada por uma lesão no lobo temporal (a porção lateral do cérebro), a Afasia de Wernicke afeta a estrutura responsável pela compreensão auditiva da fala e a semântica (ou significado), e nesse caso as pessoas com esse tipo de Afasia podem não estar cientes de sua dificuldade.
Na Afasia de Wernicke as pessoas articulam muito bem as palavras e usam a entonação correta, mas o que dizem não faz sentido. Um exemplo disso seria uma frase aleatória “Você sabe, o smoothie está pegando carona assim para ir”, ou não se relacionar com o que foi dito antes, “Esse é o gato dela” para uma pergunta sobre o tempo.
Há uma dificuldade para compreender a fala do outro e produzir frases coerentes, afetando a compreensão e limitando a capacidade da pessoa produzir frases com sentido.
Afasia global
Existem também formas graves de Afasia, conhecidas como Afasia Global, em que todos os aspectos da linguagem, desde a expressão da fala até a compreensão, a leitura e a escrita, sofrem prejuízo. Nesses casos, as pessoas às vezes só conseguem pronunciar respostas automáticas como “não” ou determinadas frases como “como você está?”.
Segundo a Profa. Bárbara, o tratamento ainda não é curativo:
Infelizmente não há um tratamento que possibilite a cura das afasias, por isso o recomendável é a terapia fonoaudiológica. Nos casos de afasias decorrentes de lesões como o AVC, há grandes chances de recuperação da fala com a terapia precoce e intensa. Já nos casos de Afasia Progressiva Primária, a terapia fonoaudiológica auxilia a manter a comunicação pelo maior tempo possível a partir da estimulação da linguagem nas fases iniciais. Em casos mais avançados, em que a pessoa com esse tipo de afasia já não consegue mais se comunicar pela fala, o profissional será importante para adaptar a forma de comunicação, que pode ser através da escrita, gestos ou do uso de aplicativos de comunicação alternativa.”
Nota da CDD:
Até o fechamento desta matéria, o tipo de Afasia do ator Bruce Willis ainda não havia sido noticiado, tampouco a causa da condição. As informações até o momento – e amplamente divulgadas pela mídia internacional – vieram de uma postagem da filha de Bruce no Instagram, Rumer Willis. Leia abaixo a mensagem de Rumer e sua família (tradução livre equipe AME/CDD):
“Aos incríveis apoiadores do Bruce, como família, gostaríamos de compartilhar que nosso amado Bruce está passando por alguns problemas de saúde e recentemente foi diagnosticado com Afasia, o que está afetando suas habilidades cognitivas.
Como resultado disso e com muita consideração, Bruce está se afastando da carreira que significou tanto para ele. Este é um momento realmente desafiador para nossa família e estamos muito gratos por seu amor, compaixão e apoio contínuos. Estamos passando por isso como uma unidade familiar forte e queríamos informar seus fãs porque sabemos o quanto ele significa para vocês, assim como vocês significam para ele.
Como Bruce sempre diz, “Viva” e juntos planejamos fazer exatamente isso.
Com amor,
Emma, Demi, Rumer, Scout, Tallulah, Mabel e Evelyn”
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Tradução de: Equipe da Crônicos do Dia a Dia (CDD)
Escrito por: Fernando Aguzzoli Peres
Com informações de: Valerie Fridland, revisado por Tyler Woods, em 1 de abril de 2022
Fonte: Psychology Today