Relatório revela: mais de 68 milhões de dias de trabalho foram perdidos devido a DPOC em cinco anos

Relatório divulgado pela Firjan SESI diz que pacientes com DPOC encontram dificuldades para agendar consultas e não têm acesso a tratamento

A Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica (DPOC) é caracterizada pela redução do fluxo de ar para os pulmões. De caráter progressivo, ela tem uma idade média de início dos sintomas por volta dos 40 anos e reduz consideravelmente a autonomia da pessoa.

Um estudo divulgado pela Firjan SESI revela que, de janeiro de 2017 a dezembro de 2021, 68.256.505 dias de trabalho foram perdidos devido à DPOC. “Sabemos que uma das principais causas é o tabagismo, que é também uma condição crônica importante – nicotina é a substância que causa a dependência – e começar a transversalizar o tema com as campanhas de enfrentamento do problema no Brasil, disponibilizando informação, assistência e medicamentos para apoiar as pessoas a pararem de fumar”, afirma Sandra Marques, coordenadora Estadual do Programa Nacional de Controle do Tabagismo de São Paulo. 

A integrante do Grupo de Estudo e Pesquisa Respiratória na Atenção Primária à Saúde da Faculdade de Medicina do ABC ressalta que cerca de 85% a 90% das mortes em DPOC são ocasionadas pelo uso de tabaco. “Além disso, temos questões sociais e ambientais importantes como o tabagismo passivo, a queima de biomassa, poluição e fatores ocupacionais”, acrescenta. 

Outra situação preocupante é o aumento no consumo de cigarros eletrônicos no País. “Os cigarros eletrônicos também têm, em sua composição, vários agentes cancerígenos, irritantes e que podem causar injúrias pulmonares e fibrose pulmonar. Consideramos também um tipo de nicotina salinizada, que contém ácido benzóico, e que acaba tendo um grande potencial de tornar a pessoa dependente mais rapidamente. Cigarros eletrônicos são a porta de entrada para o uso dual, com uso de outras substâncias ilícitas”, enfatiza Sandra Marques. 

Dados estimados pela Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia apontam que sete milhões de pessoas sofrem com DPOC no Brasil. Apenas 12% dos casos são diagnosticados e 18% destes seguem com tratamento. Entre 2017 e 2021, mais de 510 mil pessoas foram internadas por causa da doença. O estudo realizado pela Firjan SESI ouviu pacientes que têm dificuldades para agendar consultas e não conseguem, muitas vezes, ter acesso a tratamento medicamentoso.

Sobre os custos totais dos serviços de saúde, que englobam internações e hospitalizações, quatro estados se destacam na série histórica com maiores custos: Rio Grande do Norte, Piauí, Rio Grande do Sul e Rondônia. Juntos, estes estados somam quase 60% dos valores totais despendidos para a doença no Brasil. Em muitos desses lugares, faltam médicos especializados também para o atendimento. 

“A falta de recursos humanos é um problema recorrente nos serviços públicos e  com a alta rotatividade dos profissionais de saúde com pouca expectativa de carreira e salários baixos, temos uma dificuldade em ofertar diagnóstico precoce destas patologias”, considera a coordenadora Estadual do Programa Nacional de Controle do Tabagismo de São Paulo. 

Sandra Marques sugere estratégias como o diagnóstico situacional, planejamento, qualificação de profissionais de saúde e agentes comunitários para minimizar o problema. Além disso, a consultora da CDD enfatiza a importância de maior acesso à informação do usuário do SUS para um autocuidado apoiado. “O tabagismo, entre outras drogas, sempre teve seu impacto minimizado por crenças estimuladas e reforçadas pelo marketing da indústria e que devem ser desconstruídas. Quanto aos outros fatores de risco, um planejamento adequado seria de grande valia. E informar que o SUS oferece tratamento gratuito incluindo a equipe multiprofissional e medicamentos”, conclui.

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