Cobertura vacinal em alerta no Brasil: como reverter a queda da imunização?
Menos de 59% dos brasileiros foram vacinados em 2021; dois anos antes, o índice de imunização era de 73%
A cobertura vacinal está despencando no Brasil nos últimos quatro anos. De acordo com dados do Ministério da Saúde, em 2021, menos de 59% dos cidadãos foram imunizados. Em 2020, o índice era de 67% e, em 2019, de 73%. Para que o País siga um patamar seguro, seria preciso alcançar 95% das pessoas.
“Se você separar a população brasileira por grupos, têm aqueles com 80% de pessoas vacinadas. Mas certamente os mais necessitados não chegam nem perto desse número”, ressalta Dirceu Greco, infectologista e professor emérito de Doenças Infecciosas e Bioética da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
Conseguir chegar à quantidade ideal de imunizados é desafiador, ainda mais porque ainda buscamos um Sistema Único de Saúde que proporcione equidade em um Brasil de 8 milhões de quilômetros, fronteiras com diversos países, realidades diferentes.
“A queda das coberturas vacinais não tem uma única causa, é multifatorial. Precisamos levar em conta isso, realidades diferentes, gestões distintas nos municípios e territórios que é onde as coisas precisam acontecer”, avalia Lurdinha Maia, coordenadora da Assessoria Clínica de Bio-Manguinhos e do ‘Projeto Pela Reconquista das Altas Coberturas Vacinais‘.
Dirceu Greco separa, em duas partes, as situações que precisam ser organizadas para que o sistema de imunização seja efetivo: operacional e de fundo. “Entre as operacionais ficam a disponibilidade das vacinas, o financiamento e o acesso, inclusive à informação. E de fundo que é uma espécie de ‘alfabetização da saúde’ e determinantes sociais. Além disso, é preciso combater as notícias falsas e a participação negativa de profissionais de saúde e suas entidades, como alguns conselhos de medicina”, acrescenta.
É preciso fazer um acompanhamento da educação continuada entre os profissionais da saúde para o atendimento da população. Ao mesmo tempo, a infectologista da Unicamp Raquel Stucchi, que é consultora da Sociedade Brasileira de Infectologia, sugere medidas simples e que podem fazer a diferença nos índices de imunização. “Temos problemas estruturais que precisamos resolver. Não podemos ter postos de saúde que trabalham com horário comercial porque as famílias também trabalham nesse período e não conseguem vacinar seus filhos. E outro ponto é que as vacinas são vítimas do sucesso delas, ou seja, as pessoas não se sentem mais ameaçadas pelas doenças”, diz.
O cenário atual confirma a avaliação da infectologista. Antigamente, em meados de 1980, a poliomielite causava paralisia em quase 100 crianças por dia no mundo, segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS). Entre 1968 e 1989, no Brasil, foram registrados quase 27 mil casos da doença. Em 2021, menos de 70% do público alvo estava imunizado, frente aos mais de 98% de vacinados em 2015. Corremos o risco real de ter a volta da poliomielite. Com o sarampo, a situação é parecida.