15.06.2023 Saúde Pública

As violências contra a pessoa idosa que ninguém vê

Por CDD

Dia de Conscientização da Violência Contra a Pessoa Idosa chama atenção para violações de direitos

Como você se sentiria se alguém dissesse que você é incapaz de fazer as coisas? Se te rejeitasse em uma vaga de emprego pela sua idade? Se olhasse feio para você por estar na fila de atendimento preferencial no banco com apenas dois funcionários? E se fosse ignorado?

Essas são algumas das violências não aparentes sofridas por pessoas que passaram dos 60 anos de idade. O Dia Mundial de Conscientização sobre a Violência contra a Pessoa Idosa, 15 de junho, foi instituído pela Organização das Nações Unidas em 2011. O objetivo da ONU é chamar a atenção para a existência de violações dos direitos e divulgar formas de denunciá-las e combatê-las.

A pergunta que levantamos aqui é: se a negligência, omissão ou falas preconceituosas não deixam marcas “aparentes”, como explicar à sociedade a importância de denunciar? Vamos voltar ‘algumas casas’ e entender o conceito de violência.

De acordo com a Organização Mundial da Saúde, o termo significa: “o uso intencional de força física ou poder, ameaçados ou reais, contra si mesmo, contra outra pessoa ou contra um grupo ou comunidade, que resultem ou tenham grande probabilidade de resultar em ferimento, morte, dano psicológico, mau desenvolvimento ou privação”.

A violência contra o idoso pode ser definida como “um ato único, repetido ou a falta de ação apropriada, ocorrendo em qualquer relacionamento em que exista uma expectativa de confiança que cause dano ou sofrimento a uma pessoa idosa”.

“As situações de maior risco para pessoas idosas em relação à violência devem ser analisadas de maneira interseccional e não isoladamente. Ou seja, deve-se considerar os indicadores de saúde e sociais presentes em todos os âmbitos da vida social e comunitária, política, institucional e familiar da pessoa idosa. Especialmente aqueles indicadores que se referem a singularidade do ser idoso e as desigualdades presentes na sociedade brasileira”, explica Jordelina Schier, especialista em Gerontologia pela Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG) e doutora em Enfermagem pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).

Por causa desse contexto amplo, vamos detalhar as situações de risco vividas por eles.

Fonte: Pixabay/ Ornaw

Situações de risco para pessoas idosas

Jordelina Schier, da SBGG, afirma que a identificação da situação de risco, isolada ou associada a outras situações, possibilitará a ação preventiva ou o enfrentamento precoce da violência.

Seguem exemplos de algumas situações:

Tipos de violência contra as pessoas idosas que ninguém vê

A violência contra a pessoa idosa, mesmo quando deixa marcas no corpo, pode ser invisível aos olhos daqueles que naturalizam a violação de direitos e da dignidade humana do ser idoso, a partir dos estereótipos, preconceitos e discriminação contra a velhice cultuados na sociedade.

“A invisibilidade das agressões pode ser do tipo psicológica/emocional e se manifestar de diferentes formas, seja dentro ou fora de casa, por meio de familiar ou cuidador, nas relações assimétricas de poder sobre a pessoa idosa, nas desigualdades sociais naturalizadas, na situação de abandono e na discriminação”, ressalta Jordelina Schier, especialista em Gerontologia pela SBGG.

Segue exemplos de algumas frases “corriqueiras” e situações:

Fonte: Pixabay/Congerdesign

Violência psicológica contra idosos e danos emocionais

Agressão verbal com insultos, ameaça de abandono, menosprezo (ignora o contato ou o chamado da pessoa idosa), desprezo, afastamento do convívio social, restringe a liberdade de se expressar e negligência são alguns exemplos de violência psicológica contra idosos, como esclarece o professor Antonio Serafim, do Instituto de Psicologia da USP, em entrevista ao site da CDD.

“De uma maneira geral, o idoso leva a vivência de intenso sofrimento, que parte de uma tristeza a cursando com o aumento de pensamentos negativos até configurar um quadro depressivo. Além do isolamento social (a pessoa sente-se desprezada e desprotegida), problemas alimentares, insônia que repercutem na autoestima e piora a qualidade de vida com risco de suicídio”, analisa.

Para o professor, o não cumprimento dos direitos do idoso ou a invisibilização de situações diárias, como ausência de campanhas de conscientização sobre HIV pelo estigma da sexualidade nessa população, também causam impacto social e emocional.

A especialista em Gerontologia Jordelina Schier acrescenta que envelhecer com dignidade é um direito humano fundamental: “Os direitos e deveres estão descritos no Estatuto da Pessoa Idosa, dentre outros dispositivos legais vigentes no Brasil e no mundo. Portanto, a violência contra a pessoa idosa é uma grave violação aos Direitos Humanos”.

Como denunciar a violência contra idosos?

Agora que já conseguimos identificar alguns tipos de violências “invisíveis” contra idosos, também devemos denunciar esses atos sempre que possível. Os canais de comunicação variam de estado para estado no Brasil, mas os principais são:

No estado de São Paulo, o Ministério Público tem uma promotoria que recebe especialmente casos de violência contra idosos. Mais informações direto no site do MP-SP.

O que é etarismo?

O chamado etarismo ou ageísmo é o preconceito, intolerância ou discriminação contra pessoas com mais de 60 anos. Quando alguém diz “você não tem mais idade para isso”, está reforçando o estigma.

Além disso, não é de hoje que pessoas até mais jovens, com mais de 40 anos de idade, são rejeitadas em vagas de emprego por esse motivo. É uma clara demonstração de que o mercado de trabalho não aceita o candidato já partindo do pressuposto de que ele não será capaz de executar as tarefas.

As pessoas de idade mais avançada também podem se sentir envergonhadas de revelar quando nasceram, por exemplo, e recebem olhares incômodos quando ocupam lugares como academias ou filas preferenciais de serviços a que, inclusive, têm direitos.

Nós listamos algumas dicas de filmes sobre preconceito em relação à idade e intergeracionalidade:

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