Pesquisa revela os benefícios da caminhada para pessoas com artrose
Publicado na revista científica Arthritis & Rheumatology, estudo sugere que as caminhadas reduzem as dores e podem ser tratamento eficaz e barato para artrose
Por Fernanda Simoneto, da Redação AME/CDD
A osteoartrite atinge cerca de 12 milhões de brasileiros, e a maior prevalência está entre os idosos com mais de 85 anos. Mas um estudo conduzido por universidades americanas e publicado na revista Arthritis & Reumatology indica que o hábito de caminhar auxilia na prevenção das dores nos joelhos, uma das principais regiões acometidas pela osteoartrite. Também conhecida como artrose, é uma doença articular degenerativa que ataca principalmente as articulações dos joelhos, mãos, pés, coluna e quadril.
A pesquisa avaliou 1 mil participantes, todos com mais de 50 anos e osteoartrite já diagnosticada. Depois de quatro anos, aqueles que relataram ter caminhado como forma de exercício apresentaram um menor risco de desenvolver novos episódios de dores nos joelhos. Enquanto 37% dos participantes que não mantiveram uma rotina de caminhadas informaram novos episódios de dor, o percentual ficou em 26% entre aqueles com o hábito.
Os resultados foram significativamente positivos em quem já tinha a doença diagnosticada por meio de exames de raio-x, mas ainda não sentia dores diárias na região. “O estudo mostra que as pessoas que fazem caminhadas têm uma melhor recuperação em comparação com aqueles que não fazem a atividade, além de não apresentarem uma piora do quadro clínico”, explica o médico Marco Antonio Loures, presidente da Sociedade Brasileira de Reumatologia (SBR). “Era uma recomendação que já dávamos aos pacientes. O estudo confirma a prática e dá mais segurança para as orientações”, completa.
Loures explica que, com o avançar da idade, é natural que as cartilagens passem por um processo degenerativo. “O envelhecimento promove um desgaste da cartilagem e da articulação”, afirma o reumatologista.
O problema ocorre quando esse processo começa em pacientes relativamente jovens. “Se você tem 40, 50 anos e não consegue mexer alguma articulação, tem algo errado. Significa que as articulações não estão acompanhando o desgaste natural do organismo”.
O reumatologista explica haver diferenças entre o desgaste natural da cartilagem e o patológico. O natural geralmente acomete toda a superfície da cartilagem, enquanto no acelerado é possível constatar buracos ou fissuras. “A cartilagem do joelho, por exemplo, tem de 2 a 4 milímetros, é muito fina. Ela vai sendo desgastada até perder quase toda a superfície. Há casos em que fica quase osso com osso, o que torna a dor muito intensa”, descreve Loures.
As mulheres representam a maioria dos casos de artrose. Afetadas principalmente por fatores genéticos, elas sofrem de dores especialmente nas mãos.
Cerca de 85% das pessoas com mais de 65 anos desenvolvem a osteoartrite, mas nem todas vão ter sintomas graves. Fatores de risco como genética, obesidade e esforços repetitivos contribuem para as dores. No Brasil, dados da Previdência Social indicam que 7,5% dos afastamentos do trabalho acontecem por conta da osteoartrite.
Um levantamento feito pelo Colégio Americano de Reumatologia, e publicado no periódico “Arthritis & Rheumatology”, indicou um aumento expressivo, de 113,25%, dos casos registrados de osteoartrite durante os anos de 1990 e 2019.
Além do envelhecimento da população, o aumento nas taxas de obesidade e hábitos como o de passar muito tempo sentado favorecem a osteoartrite.
Atenção para quem já tem uma doença crônica
“Existe a artrose primária, que é genética, e a artrose secundária, que pode ter a contribuição de doenças crônicas”, afirma Loures. As alterações metabólicas causadas pelas enfermidades crônicas, que podem gerar sobrepeso, por exemplo, contribuem para o indivíduo desenvolver a osteoartrite. “A forma de evitar esse desfecho é controlar a sua própria doença crônica”, complementa o reumatologista.
Como prevenção, Loures recomenda exercícios de fortalecimento muscular, alimentação balanceada e acompanhamento médico regular. E, claro, atividades físicas como a caminhada.
“A caminhada auxilia no fortalecimento dos músculos, mas também dos ligamentos, dos tendões. Tudo vai ser importante para dar força para a articulação e prevenir o desgaste”, conclui Loures. Além das caminhadas, são indicados atividades na água, como a hidroterapia, e pedaladas, dependendo da área atingida.
Treinos com impacto, porém, exigem atenção redobrada de quem já padece com a osteoartrite. Longas corridas ou esportes com muitos saltos demandam uma avaliação pormenorizada. Mais uma razão para manter contato com profissionais de saúde.
Diagnóstico e tratamento
O diagnóstico da osteoartrite é feito por exames de imagem, como raio-x, ultrassom e ressonância magnética. “Também são feitos exames físicos para ver se há inchaço e qual a mobilidade da região. O histórico da pessoa também é levado em conta”, explica Loures.
O tratamento é indicado para os períodos de dor e pode envolver diferentes medicamentos, de anti-inflamatórios a analgésicos, passando por relaxantes musculares.
A fisioterapia é uma aliada importante no alívio das dores e na contenção da degeneração. “É importante que o paciente tente fazer o maior número de sessões possível”, afirma Loures. Nos casos mais graves, em que se perde a maior parte da cartilagem, é possível realizar intervenções cirúrgicas para instalação de prótese no local.