Em evento, Nísia Trindade fala sobre as prioridades do Ministério da Saúde
A ministra Nísia Trindade destacou o compromisso com o aumento da cobertura vacinal, o aumento nos investimentos em ciência e a necessidade de uma governança global em saúde
Fernanda Simonetto, da Redação AME/CDD
Uma das primeiras ações de Nísia Trindade ao assumir o Ministério da Saúde do Brasil foi o lançamento do Movimento Nacional pela Vacinação, em fevereiro. Em 2021, menos de 59% dos cidadãos estavam com a cobertura vacinal em dia – no ano anterior, o índice era de 67%, e, em 2019, de 73%.
A primeira etapa do movimento começou com a aplicação das doses da bivalente contra a covid-19, que farão parte do calendário nacional de imunizações. Em abril, o Ministério da Saúde iniciará a vacinação contra a influenza, e em maio, haverá um chamado nacional para atualização das cadernetas.
Em palestra realizada durante o evento Humanidades na Saúde, promovido pelo Projeto Ricardo Cruz, no Rio, a ministra Nísia Trindade elencou os desafios que enfrentará à frente da pasta, entre eles a volta das campanhas de vacinação.
Nísia reforçou que o MS fará vacinação em escolas, em uma ação conjunta com o Ministério da Educação (MEC). A busca ativa por não vacinados e a readequação dos horários de atendimento em postos de saúde e locais de vacinação fazem parte do movimento.
Para a socióloga, a pandemia de covid-19 foi um marcador social que expôs a urgência de vários temas, entre eles a demanda por investimentos em pesquisa.
“As vacinas para o coronavírus são resultado de investimentos prolongados em pesquisa”, afirmou, em sua palestra. “No caso da vacina de Oxford, houve um investimento de mais de 10 anos, não em uma vacina para o covid-19, mas para vacinas contra o coronavírus. Isso permitiu que o imunizante fosse desenvolvido rapidamente”.
A necessidade de uma liderança global para democratização da produção e acesso a bens científicos também foi abordada. “A desigualdade na base científica e tecnológica se ampara em uma série de desigualdades sociais, que resultam no impedimento da garantia da saúde como um direito”, disse Nísia.
Exemplo disso foi a disparidade na distribuição das doses das vacinas e a dependência de países em desenvolvimento da pesquisa feita em países ricos, que desenvolveram e produziram as vacinas. “Nós devemos pensar em uma governança global que não permita que determinados países tenham mais vacinas do que as necessidades da sua população”, disse a ministra.
No Brasil, por exemplo, quarto país que mais aplicou doses da vacina no mundo, 82% da população está imunizada com duas doses contra o coronavírus. Já em Angola apenas 24% da população recebeu as primeiras duas doses.
Outros desafios para o futuro do ministério de Nísia Trindade
A ministra também defendeu a reorientação das atividades de pesquisa no país. “A pesquisa deve ser orientada pelas necessidades da população, por lacunas sociais e não somente pela lógica do mercado”, argumentou.
A disparidade na distribuição de médicos no território brasileiro também está na pauta do Ministério, que planeja ampliar as vagas de residência médica no país em conjunto com o MEC. “É o centro das nossas preocupações. Estamos pensando na formação permanente para médicos”.
Juntos, o Ministério da Saúde e da Educação são responsáveis por 61% dos recursos que financiam as residências médicas no país. Segundo pesquisa realizada pela USP, 63,6% dos residentes estão concentrados nas capitais brasileiras, o que contribui para a geração de vazios assistenciais, lugares com escassez ou ausência de profissionais de saúde.
O MS também anunciou a retomada do programa Mais Médicos, que abrirá 28 mil novas vagas para médicos até o final de 2023. A intenção é que eles sejam deslocados para áreas com carência de profissionais, para realizar atendimento médico na atenção primária, porta de entrada para o SUS.
O foco na qualidade da atenção primária também será prioridade da atual gestão. “Não adianta ter uma estrutura hospitalar complexa, se não temos a atenção básica garantida”, disse Nísia Trindade no evento.
É a partir dela que as demandas são identificadas e os pacientes direcionados para os outros complexos de saúde. “Temos um país com índices elevados de desnutrição, ao mesmo tempo em que registra altos índices de obesidade. Ou seja, se trata de uma realidade complexa”, afirmou a ministra, “é um país que convive com problemas do século 19, século 20 e problemas do século 21”, concluiu a ministra, que tem a missão de fortalecer o SUS, que atende hoje 70% da população brasileira.