Odontogeriatria: os cuidados com os dentes na terceira idade
A dentadura já foi um acessório comum a muitos idosos. Mas hoje, graças à conscientização sobre a importância da higiene bucal, as pessoas conseguem chegar à terceira idade com o sorriso original intacto (ou ao menos com a maioria dos dentes). E isso é muito positivo, uma vez que preservar a saúde bucal é especialmente importante para o bem-estar nessa fase da vida.
“A perda dos dentes não faz parte do envelhecimento. Ela ocorre quando o paciente não sabe higienizar com qualidade”, esclarece a dentista Denise Tibério, que atua há 30 anos nessa área. Denise coordena a especialização em odontogeriatria da São Leopoldo Mandic, em São Paulo.
“Você pode escovar os dentes dez vezes ao dia e ainda assim ter problemas”. Segundo ela, esse público deve evitar o cigarro e incorporar uma alimentação saudável, sem muitos doces, para manter a dentição firme e forte.
É claro que o envelhecimento, por si só, também afeta a boca. “Os dentes perdem a hidratação e quebram com mais facilidade”, explica Denise. Outro problema é a redução do tamanho do nervo do dente, o que o deixa menos sensível. “O idoso pode ter uma cárie e não sentir dor”, resume a especialista, que participou do podcast Envelhescência, da CDD (o episódio está disponível no Spotify). Como resultado, o diagnóstico demora a vir e, quando é feito, o dente pode estar condenado ou exigir tratamentos mais intensos.
Outro foco de atenção são os medicamentos para tratar doenças associadas ao envelhecimento. Alguns remédios, como os xaropes doces, são inimigos naturais dos dentes devido ao açúcar. Outros, como os antidepressivos e anti-hipertensivos, deixam a boca seca. E a saliva serve, entre outras coisas, para proteger o tecido da boca contra lesões e bactérias.
Outra consequência indireta para a saúde bucal na terceira idade é a perda da habilidade com as mãos. “Você não consegue mais escovar os dentes com a mesma força e alcançar todos os locais. Isso às vezes deixa a boca mais suja”, pontua a odontogeriatra.
No mais, certas doenças crônicas podem comprometer a saúde bucal, se não controladas. O diabetes, por exemplo, intensifica a periodontite, doença que inflama a gengiva e o periodonto, o tecido que sustenta os dentes. Só que essa é uma via de mão dupla: a periodontite também prejudica o diabetes.
A placa bacteriana na boca também piora a pneumonia aspirativa. “O idoso pode aspirar a bactéria, que vai direito para o pulmão”, alerta a odontogeriatra.
Um aliado da saúde bucal
A especialista detalha que a função do odontogeriatra começa em conhecer bem o paciente: saber quais medicamentos ele utiliza, as limitações de movimento das mãos e, principalmente, o estado da sua cognição. “Não adianta indicar implante para quem não consegue higienizá-lo. Se isso ocorrer, ele pode desenvolver uma doença na gengiva”, argumenta.
Não há tratamentos contraindicados para a terceira idade – as restrições dependem de cada paciente. Os resultados de um clareamento, por exemplo, podem não ser os mesmos nessa faixa etária por causa da diminuição do nervo do dente.
A prática clínica do odontogeriatra também é diferente. Como os idosos têm menor eficiência respiratória, não devem ficar deitados na cadeira de consultório, mas sentados. Também é preciso aferir a pressão do paciente com frequência. “Eu trabalho medindo a pressão a cada 10, 15 minutos”, relata Denise. “Um paciente com Alzheimer não sabe qual procedimento está sendo feito, leva um susto e eleva a pressão sempre que sente dor. Um paciente hipertenso não medicado pode ter uma crise no consultório”, explica.
Os odontogeriatras também atendem a domicílio ou em hospitais, quando o paciente está acamado. “Quando atendo pessoas com problemas comportamentais relacionados ao Alzheimer ou Parkinson, os familiares me relatam que eles passam a ficar menos agressivos e a se alimentar melhor. A agressividade era por falta de higiene. Imagine o incômodo de não conseguir verbalizar. A saúde bucal desses pacientes é normalmente esquecida”, lamenta.
Uma prática indicada é o polimento dos dentes, feita pelo odontogeriatra, de preferência a cada três meses. O dente mais “liso” acumula menos sujeira, ainda mais quando aliado à boa escovação.
Atualmente, existem apenas 347 odontogeriatras cadastrados no Conselho Federal de Odontologia, número insuficiente para atender a próxima geração de idosos, segundo Denise. “Muitos não sabem que existe essa especialidade”, lamenta.
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