08.10.2021 Outras Patologias

O que são Cuidados Paliativos e como podem ajudar pacientes e familiares?

Câncer, doenças neurológicas, degenerativas, congênitas e muitas outras podem ser beneficiadas dos cuidados paliativos

Na reportagem, você ficará sabendo que:
– A OMS define Cuidados Paliativos como ações feitas por equipe multidisciplinar que aliviam o sofrimento do paciente e de seus familiares;
– No Brasil, a área surgiu em 1990;
– Porém, existem poucos profissionais no País para dar conta da demanda;
– Enquanto isso, movimentos de familiares e pacientes trocam vivências e ajudam uns aos outros;

Você já ouviu falar em Cuidados Paliativos? “Eu conhecia por conta de uma amiga que fez doutorado sobre o tema. Mas eu via muito como uma medicina e um cuidado feito para pacientes com câncer. Não entendia muito como isso poderia ser útil para um paciente de doenças crônicas, como a esclerose múltipla”, afirma Bruna Rocha. Quando o marido dela começou a apresentar um quadro severo de piora da EM, buscou essa modalidade de atendimento. “Fui atrás dos Cuidados Paliativos e entendi que eles não são para o fim da vida. É o cuidado para que se viva bem o tempo que se tem de vida, independente de como você está. Então, se sua doença está piorando e a medicina tradicional diz que não tem mais nada para fazer, há muito a fazer com a medicina paliativa. Enquanto se está vivo, é preciso viver”, ressalta.

Na definição da Organização Mundial da Saúde, os Cuidados Paliativos são consideradas quaisquer ações realizadas por uma equipe multidisciplinar com o objetivo de aliviar o sofrimento do paciente e de seus familiares, diante de uma doença ameaçadora, buscando a qualidade de vida daquela pessoa que está sendo cuidada. “Além de ajudar a controlar alguns sintomas físicos, a equipe multidisciplinar pode apoiar o paciente e sua família no manejo de alguns sintomas psicológicos como ansiedade, depressão, angústia, além de cuidarem também de aspectos existenciais, espirituais e de orientações mais práticas, como tomada de decisão e confecção de um testamento vital (esse testamento vital ou diretrizes antecipadas são um conjunto de instruções e vontades apresentadas pelo paciente relatando qual tratamento deseja receber)”, explica a pesquisadora em Saúde Coletiva Olga Durães, que também é instrutora de Mindfulness.

Para Tom Almeida, empreendedor social, o primeiro contato com Cuidado Paliativo foi quando acompanhou o estado de saúde de Eduardo, o Du, um ‘primo-irmão’ como ele diz. “Já estava em uma fase bastante adiantada do câncer e sofrendo muito com os efeitos colaterais do tratamento e por um manejo da dor física muito mal feito. Foi quando, em uma conversa com a Fabiana Chino, que é uma enfermeira paliativista que se tornou amiga, aprendi que o tipo de sofrimento que ele estava passando poderia ser cuidado”, lembra. Tom exigiu que Du fosse atendido pela então intitulada ‘equipe da dor’ do hospital: “Já no primeiro contato com a equipe a sua dor física passou a ser melhor controlada e, partir disso, as suas outras dores: emocional, espiritual, social e familiar também puderam ser acolhidas com mais atenção”. E, com sofrimento físico, tudo fica muito mais difícil. “Entendi na prática o poder “curativo” dos cuidados paliativos. A partir desta experiência, passei a me dedicar para esta causa de promover o conhecimento sobre cuidados paliativos e desmistificar o tema”. Tom fundou o Movimento inFINITO, que busca tratar sobre o tema de forma didática e acessível para quem precisa.

De acordo com a Associação Nacional de Cuidados Paliativos, no Brasil essa especialidade começou a ser discutida entre os profissionais na década de 1970, porém, foi nos anos 1990 que ganhou força e começaram a aparecer os primeiros serviços organizados. O professor Marco Túlio de Assis Figueiredo, da Escola Paulista de Medicina – UNIFESP/EPM, foi um dos pioneiros no Brasil em abrir cursos e atendimentos contando com a filosofia paliativista. No Instituto Nacional do Câncer – INCA, do Ministério da Saúde, foi inaugurado em 1998 o hospital Unidade IV, exclusivamente dedicado aos Cuidados Paliativos e em dezembro de 2002, o Hospital do Servidor Público Estadual de São Paulo – HSPE/SP inaugurou sua enfermaria de Cuidados Paliativos, comandada por Maria Goretti Sales Maciel. “Porém ainda se nota bastante falta de informação e preconceito em relação a prática dos cuidados paliativos. Confunde-se o tema com eutanásia e os medicamentos utilizados para dor forte ainda são muito rechaçados, como é o caso da morfina. Conscientizar a população, falar abertamente sobre o tema, estabelecer leis que estabeleçam a necessidade de existir uma equipe de cuidados paliativos em todos os hospitais e ainda, ofertar a disciplina nas graduações da área de saúde são aspectos importantes para que os Cuidados Paliativos sejam estabelecidos como um elemento central na área de saúde pública”, afirma pesquisadora em Saúde Coletiva Olga Durães.

Doenças que podem se beneficiar de Cuidados Paliativos

Os Cuidados Paliativos podem ser oferecidos para todos aqueles que desejam uma melhor qualidade de vida. “Substituindo o mito de que esses cuidados existem apenas para quem “não há mais nada para fazer”, eles podem ser oferecidos a qualquer paciente que deseja ter mais bem-estar”, ressalta Olga Durães. Alguns exemplos de doenças que podem se beneficiar: câncer; doenças degenerativas neurológicas como Alzheimer, Parkinson, esclerose múltipla ou esclerose lateral amiotrófica; outras doenças degenerativas crônicas, como artrite grave; doenças que levam à falência de órgãos, como doença renal crônica, cardiopatias terminais, pneumopatas, DPOC, hepatopatas, dentre outras; AIDS avançada; e quaisquer outras situações ameaçadoras à vida, como traumatismo craniano grave, coma irreversível, doenças genéticas ou doenças congênitas incuráveis.

Na opinião de Tom Almeida, os benefícios são inúmeros: “E o mais importante de todos é que o paciente é colocado no centro da atenção: quais são suas dúvidas, seus medos, suas dores e seus desejos. A partir disso, a equipe multidisciplinar irá buscar a melhor forma de ajudá-lo. E isso reverbera nos familiares e cuidadores, que muitas vezes “adoecem” juntos. Cuidados Paliativos existe para trazer conforto e dignidade para pessoas que vivem doenças graves, independente do estágio da doença. É sobre cuidar e dar conforto em todas as dimensões”.

Quais práticas em cuidados paliativos poderiam ser mais adotadas?

A pesquisadora Olga Durães indica algumas práticas integrativas e complementares como reiki, massoterapia, aromaterapia e mindfulness para a melhoria do bem-estar do paciente. “Embora existam poucos estudos nessa temática, segundo alguns artigos, o reiki e a massoterapia podem ser úteis para o alívio da dor oncológica e o mindfulness pode reduzir o estresse vivenciado pelo paciente”, explica a instrutora de Mindfulness.Segundo Tom Almeida, o número de profissionais de saúde em Cuidados Paliativos ainda é pequeno no Brasil, mas isso vem mudando. “Justamente por isso é importante que a gente, como sociedade, pergunte e exija nos hospitais uma equipe de Cuidados Paliativos. Nunca é cedo demais para conhecer esta equipe. Cuidados Paliativos é uma sentença de qualidade de vida!”, conclui.

O movimento Infinito realizará, entre os dias 30 e 31 de outubro, um festival internacional com conversas sobre o viver e o morrer. Além disso, é possível encontrar grupos de redes de apoio sobre Cuidados Paliativos nas redes sociais, como a Casa Paliativa, no Facebook.

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