“A falta de acesso também sufoca”: a história de Eliete e a luta por um tratamento respiratório eficaz

Por CDD

Aos 78 anos, Eliete Adalziza Betiol Ramos vive uma rotina moldada pela doença. Diagnosticada com DPOC (Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica) e bronquite crônica, ela é uma entre milhões de brasileiras que convivem com doenças respiratórias graves. Mas, diferentemente de outras condições que contam com tratamentos amplamente disponíveis, Eliete enfrenta mais do que os sintomas da doença — enfrenta o abandono do sistema.

Após contrair COVID-19, sua situação se agravou significativamente. O que já era difícil, se tornou ainda mais limitante. Desde então, Eliete passou a ser totalmente dependente de oxigênio suplementar. A autonomia que restava para pequenas tarefas diárias deu lugar a um cotidiano controlado por aparelhos e a necessidade constante de assistência.

Como muitas pessoas, Eliete esbarra em uma barreira invisível, mas devastadora: a falta de acesso ao tratamento adequado para o seu perfil de doença. Os medicamentos que recebe não são suficientes para controlar os sintomas, o que obriga a paciente a buscar alternativas por conta própria.

Essa realidade expõe uma ferida aberta na saúde pública brasileira: a desigualdade no acesso a medicamentos. Não basta ter diagnóstico, acompanhamento ou até mesmo o direito ao tratamento garantido em teoria. Quando a terapia ideal está fora da lista de fornecimento, os pacientes acabam ficando sem opção.

Eliete não está sozinha. Estima-se que 15% da população acima de 40 anos no Brasil tenha DPOC — uma condição que, segundo a Organização Mundial da Saúde, está entre as principais causas de morte no mundo. O impacto não é apenas físico. São anos de hospitalizações recorrentes, internações prolongadas, aposentadorias precoces, afastamentos do trabalho, queda drástica na qualidade de vida e no bem-estar emocional.

Além do impacto na saúde e na qualidade de vida, a DPOC também impõe um peso significativo sobre a vida profissional e econômica dos pacientes. Segundo levantamento recente, quase metade das pessoas com DPOC relatou ter interrompido a carreira, além de enfrentar prejuízos financeiros e afastamentos frequentes do trabalho. Entre 2017 e 2022, a doença foi responsável pela perda de aproximadamente 196 milhões de dias de trabalho no Brasil. Já uma pesquisa apresentada no congresso da ISPOR em 2024 estimou que o impacto sobre o sistema previdenciário brasileiro ultrapassou R$ 1 bilhão em uma década, principalmente em decorrência de aposentadorias precoces.

A história de Eliete evidencia como o acesso a tratamentos eficazes ainda é um privilégio — quando deveria ser um direito. E é nesse contexto que a incorporação de novas tecnologias como o dupilumabe no ROL da ANS se faz necessária e representa um novo horizonte de esperança. Esse imunobiológico tem demonstrado redução expressiva nas exacerbações, melhora precoce da função pulmonar e ganhos em qualidade de vida.

Para pacientes como Eliete — que não respondem bem às terapias disponíveis — a possibilidade de acesso a uma tecnologia como o dupilumabe pode significar a retomada da autonomia, do bem-estar e da dignidade. Representa a chance de respirar melhor, dormir com mais tranquilidade, se movimentar com menos esforço e conviver com a doença sem ser sufocada por ela.

O que está em jogo não é apenas o acesso a um novo medicamento. É o direito de viver com dignidade, mesmo diante de uma condição crônica. Enquanto isso não acontece, Eliete e tantos outros seguem resistindo — com coragem, mas também com o peso de um país que, muitas vezes, ainda não respira por todos.

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