25.10.2023 Saúde Pública

As consequências da não vacinação infantil no futuro das crianças

Sarampo e poliomielite ameaçam voltar a adoecer a população infantil; entenda

Há um ditado popular que diz “é de pequenino que se torce o pepino”, indicando que é na infância que se ‘molda’ o adulto. A maior queda contínua na vacina infantil em aproximadamente 30 anos foi registrada em dados oficiais publicados pela OMS e o UNICEF.

A vacinação infantil era uma boa prática no Brasil até pouco tempo atrás. Digo era, pois o índice de imunização nessa faixa etária tem diminuído nos últimos anos. Entre 2019 e 2021, 1,6 milhão de crianças não receberam nenhuma dose da vacina que previne contra difteria, tétano e coqueluche. No mesmo período, o mesmo número de pequeninos não foram imunizados contra a poliomielite. 

“Alguns pais que seguem um estilo de vida naturalista não querem vacinar seus filhos por se tratar de algo sintético. Outros têm medo dos efeitos colaterais ou reações adversas que os imunizantes podem causar e, neste ponto, as fake news que contestam a eficácia, a segurança e divulgam efeitos colaterais fantasiosos também influenciaram negativamente, assustando as famílias e reduzindo a cobertura vacinal”, explica a pediatra da Universidade Federal de São Paulo Marta Alves, endocrinologista infantil e especialista em Pediatria pela Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP).

No auge da pandemia de covid-19, muitos pais deixaram de imunizar os filhos com receio dos efeitos colaterais e argumentaram que não havia estudo suficiente na época. “A vacina de covid é extremamente segura. Nós temos um número imenso de crianças imunizadas no mundo e com pouquíssimos efeitos colaterais. Teve gente que dizia: ‘Ouvi falar que teve uma criança que teve ‘embolia’. E eu sempre perguntava: ‘Mas você viu mesmo essa pessoa?’. E a resposta era não”, conta a pediatra Zuleid Dantas Linhares Mattar.

A especialista acrescenta que é mais comum o registro de crianças com miocardite em decorrência do coronavírus do que pela vacina. “E quando você tem uma miocardite causada pela vacina, é transitória. Ela vem, tem o seu ciclo e desaparece. Ao passo que temos muito mais crianças com insuficiência cardíaca, inclusive com necessidade de transplante, pela covid”, acrescenta. 

Quais são as consequências da não vacinação de crianças para algumas doenças?

Segundo dados do Ministério da Saúde, para a poliomielite, a faixa de cobertura vacinal recomendada é de 80%. No ano passado, mesmo com a prorrogação da campanha, o reforço da vacina atingiu somente 54% das crianças brasileiras com até quatro anos de idade. Já contra o sarampo, só 47,08% receberam o imunizante. As duas doenças chegaram a ser erradicadas no País, mas especialistas acreditam em um possível surto, caso os índices de vacinação não melhorem.

No final dos anos 1970, o Brasil teve um surto de meningite que devastou muitas famílias. “Naquela época, eu trabalhei no Hospital Emílio Ribas e a gente chegava a fazer o exame de líquor de 40, 50 pessoas e crianças por dia. E muitos morriam porque naquela época não existia vacina. E hoje é inadmissível que, com uma doença tão grave como esta, as pessoas deixem de vacinar porque ‘acham que não precisam’ ou que ‘é uma doença que não existe'”, lembra a médica Zuleid Mattar.

Sem a vacinação, as crianças ficam mais suscetíveis a desenvolver doenças que seriam evitadas. “Além disso, as que não foram vacinadas aumentam a transmissibilidade destas doenças, podendo passá-las não somente para crianças saudáveis como também para imunocomprometidas devido a outras doenças crônicas como diabetes tipo 1, doenças renais ou crianças em tratamento oncológico”, acrescenta a pediatra Marta Alves.

Zuleid Mattar ressalta que as consequências para crianças que não são imunizadas podem ser graves: “Uma criança que, por exemplo, não foi vacinada por catapora pode pegar a varicela de forma hemorrágica e perder a vida. Outra que se contamina com meningite tem consequências como perda de visão, sequelas neurológicas graves. Também pode ocorrer a perda dos membros, porque a meningite não atinge só o cérebro. Ela pode fazer necrose nas extremidades do organismo, então, tem exemplos de pessoas que perderam as pernas e os braços em função da meningite”.

Como estimular a vacinação infantil?

Existem muitos projetos em andamento para estimular a vacinação infantil espalhados pelo Brasil. Em alguns municípios, unidades de saúde estenderam os horários de atendimento para que os pais que trabalham em horário comercial consigam levar os filhos ao postinho, por exemplo. Além disso, há escolas que mobilizam os familiares e responsáveis pelas crianças a atualizarem a carteirinha de vacinação.

  “São necessárias ações em conjunto, tanto de pediatras e profissionais da área da saúde que orientem os pais quanto a importância de vacinar seus filhos, tirando todas as dúvidas sobre reais efeitos colaterais esperados como febre, dores musculares e cabeça, vermelhidão no local da picada, dentre outros a depender da vacina e que geralmente são efeitos que duram poucos dias e que o benefício na prevenção das doenças e sequelas graves são maiores e compensatórios”, sugere a pediatra Marta Alves. 

“Dentre as doenças que foram erradicadas no Brasil mas que correm o risco de voltar, estamos ameaçados pelo sarampo e poliomielite. O vírus é esperto: se por muito tempo não for atacado, ele pode voltar com uma virulência muito maior e fazer mais estrago. Então, a maior forma de amor que você pode dar ao seu filho é a vacinação”, aconselha a médica Zuleid Mattar.

Compartilhe

Leia Também