Andando na “corda bamba”
Tudo começa com a ansiedade, um certo dia ela transforma-se em crises exacerbadas, logo te joga à um estado de tristeza, apatia e angústia constante, com muito choro, ficamos na linha tênue da culpa por não sabermos como sair dessa situação.Somos tomados por um sentimento de vergonha, um misto de interrogações, porquê comigo? Nunca achamos que um dia estivéssemos no lugar daquelas pessoas que tanto ouvimos falar, minha amiga, minha irmã, meu conhecido está com depressão.
No meu caso, comecei a sentir os primeiros sinais, após os 50 anos, tudo foi ficando confuso, um sofrimento vivenciado em “montanha russa”, dias de alegria, dias de melancolia. Juntou a fadiga com a menopausa, onde na verdade eram mais sintomas da esclerose múltipla.Sempre tentando me manter positiva, sou positiva e feliz por natureza.Mantendo minha rotina de viagens e trabalho, com menos prazer em cada passo dado, com medo de tudo, até de mim mesma.
Quando aconteceu o primeiro surto da EM em forma de neurite óptica e parestesia lateral, entrei em pânico, o processo foi muito doloroso, uma jornada tão difícil, em reconhecer a doença e suas complicações, aceitar e lidar com as mudanças repentinas, me deixaram sem norte. Foi aí que a depressão se instalou em mim, ela é silenciosa e só precisa de um gatilho para trazer até você seus danos.
Lembro da fase mais crítica, dos momentos em que nada, nenhum motivo me fazia sair da cama, do sofá, da letargia, do sofrimento contínuo.Foi muito dolorido criar coragem para tomar um banho, pentear os cabelos, voltar a falar com as pessoas, era como se tudo tivesse parado ao meu redor.
Durante esse tempo eu nunca estive sozinha, sempre ao meu lado familiares, amigos principalmente os novos com a mesma patologia, profissionais de saúde, uma rede de apoio. Dentro de mim, ainda restava uma pontinha de fé.
Aos poucos consegui fazer terapia, iniciar os tratamentos da EM e a medicação para a depressão, fazer exercícios físicos, aprender a controlar e entender a chegada da ansiedade.
Escrever diariamente foi e é fundamental pra mim, consigo expurgar todos os sentimentos ruins, descrevo os bons como vitórias, conquistas. Um verdadeiro alívio e consciência da minha capacidade de conviver com essa “sombra” que atormenta tantos seres humanos.
Os piores episódios vivi durante longos dois anos.
De sequelas ficaram a ansiedade e a claustrofobia, mas estou trabalhando para diminuir gradativamente.
A Pandemia está sendo uma prova de fogo. Ando todos os dias na “corda bamba” do medo, mas minha alegria, positividade, fé(restaurada) e vontade de viver me dão coragem, gás extra para meu autoconhecimento e poder ajudar outras pessoas, onde o melhor remédio é partilhar nossas experiências.
Suzana Gonçalves
João Pessoa 13 de janeiro de 2021