Um colo para a mãe que perdeu seu bebê
Para muitos, o Dia das Mães é uma data sensível. Enquanto todos estão festejando a existência da matriarca da família, outros tantos estão chorando a morte de um sonho. Pouco se fala sobre o luto gestacional, considerado um tabu social.
Segundo um artigo publicado pela revista médica The Lancet, em 2021, aproximadamente 23 milhões de gestações em todo o mundo terminam em aborto espontâneo a cada ano. Quantas dessas mulheres estavam na segunda, terceira tentativa de engravidar?
Diante do alto risco de perda, ginecologistas e obstetras aconselham as pacientes a não contarem sobre a gravidez para ninguém nos primeiro três meses. O objetivo seria evitar possíveis desgastes. Mas como é difícil guardar pra gente uma conquista, né? Dá vontade de gritar para o mundo: “vou ser mãe!”.
Quando muitas não conseguem manter esse segredo e passam pelo aborto espontâneo, são alvos de comentários como “você vai ficar bem”, “vai dar tudo certo”, “você é nova, vai conseguir ter outros filhos” – esta última, como se fosse possível substituir um amor por outro, assim, naturalmente. A falta de bom senso é geral.
Mulheres que passam por essa situação se sentem silenciadas em sua dor. É como se todos quisessem mudar de assunto. Comentários revestidos de ‘boa vontade’ despertam uma série de sentimentos como culpa, inadequação e fracasso. A vontade é de sumir. Alguns pensamentos também são comuns: “por que eu não consigo, sendo que muitas mulheres engravidam sem querer?”, “o que há de errado comigo?” e por aí vai.
Se você não sabe o que dizer em uma situação como essa, ofereça colo para a mãe que perdeu o bebê. E sabe como? Apenas ouvindo o que ela tem a dizer, dando um abraço, chamando-a para um chá, um encontro, e deixe-a falar sobre o que ela sente. Sem julgamentos. Sem considerações que provoquem mais angústia.
Se você passou por situações de aborto espontâneo, se sente sozinha em sua dor, e, sobretudo, se não sente acolhimento em sua rede de apoio, busque a psicoterapia. Lá, é possível lidar com a idealização da maternidade, elaborando o luto gestacional e tendo uma outra leitura da sua própria vida. Com a ternura e o respeito que essa fase merece.