21.03.2023 Saúde Pública

Conitec abre consulta pública para ampliação do uso de teste para detecção de tuberculose latente

Teste de liberação de interferon-gama é especialmente para pacientes com doenças inflamatórias imunomediadas ou receptores de transplante de órgãos sólidos

A Conitec abriu consulta pública para avaliar a ampliação de uso do Teste de Liberação de Interferon-gama (IGRA) para a detecção de infecção latente pelo mycobacterium tuberculosis em pacientes com doenças inflamatórias imunomediadas ou receptores de transplantes de órgãos sólidos. A Comissão recebe contribuições da sociedade civil, associação de pacientes e especialistas da área de saúde até o dia 10 de outubro; para participar, clique aqui.

A tuberculose é uma doença infectocontagiosa, causada pelo mycobacterium tuberculosis, que entra no organismo pelas vias respiratórias por meio de gotículas produzidas pela tosse, fala ou espirro de pessoas contaminadas. Ela afeta principalmente os pulmões, embora possa atingir tecidos de outros órgãos.

No caso da tuberculose pulmonar, é preciso ficar atento a alguns sinais como tosse com duração de três ou mais semanas, febre baixa ao entardecer, dores no peito ao respirar ou tossir, rouquidão, cansaço, perda de apetite e emagrecimento, sangue ao expectorar e suor noturno. Estima-se que o Brasil esteja entre os 30 países com alta carga da doença, registrando mais de 66 mil casos novos só no ano de 2021, segundo o Ministério da Saúde. Mas somente de 5% a 10% apresentam a forma ativa da tuberculose. “Muitos acabam tendo contato com pessoas que estão tratando da tuberculose e nem sabem. E, muitas vezes, mesmo vacinadas com a BCG na infância, essas pessoas não manifestam clinicamente a doença. Trata-se de uma infecção bacteriana que se desenvolve de maneira lenta e nem sempre estaremos sintomáticos na tuberculose latente”, explica a neurologista Raquel Vassão.

Antigamente, a tuberculose no Brasil era restrita aos ambientes mais rurais. Com o passar dos anos, foi se ‘urbanizando’, ficando mais comum nas periferias e nas penitenciárias, que são lugares úmidos, insalubres, com grande concentração de pessoas.

“Como a maior parte das infecções que não são tão virulentas, ou seja, que não são tão rápidas de instalação, a tuberculose tende a acometer os imunossuprimidos de maneira grave”, acrescenta a médica.

A Conitec divulgou um parecer preliminar favorável à ampliação de uso do Teste de Liberação de Interferon-gama (IGRA) para a detecção de infecção latente pelo mycobacterium tuberculosis em pacientes com doenças inflamatórias imunomediadas ou receptores de transplantes de órgãos sólidos.

O que dizem os especialistas

Pacientes imunossuprimidos e que tenham a forma ‘silenciosa’ da tuberculose, chamada latente, podem apresentar quadros ativos da doença quando passarem pelo tratamento. “Portanto, a detecção precoce da tuberculose latente nessas populações candidatas a imunossupressão é fundamental e é desejável fazer o teste IGRA ou quantiferon. São pessoas que têm doenças inflamatórias, oncológicas, reumatológicas, esclerose múltipla, neuromielite óptica (NMO). Para muitas delas, seria interessante fazer o rastreio”, alerta a neurologista Raquel Vassão.

Para a detecção da tuberculose ativa, no Brasil, existem algumas opções para fazer o diagnóstico. É possível fazer o teste do escarro, que é o muco liberado através da tosse e que será analisado em laboratório.

Caso a pessoa não tenha sintomas como tosse, o teste PPD (Purified Protein Derivative) pode ser feito, com a aplicação da tuberculina sob a camada superior da pele do antebraço. “Só que o PPD está em ‘extinção’. A gente não vê mais insumo e não consegue tão facilmente, independente de SUS ou sistema privado”, ressalta Raquel Vassão. Para a neurologista, o Teste de Liberação de Interferon-gama (IGRA) é o adequado nesse contexto: “Eu costumo pedir para alguns pacientes com esclerose múltipla, que serão submetidos a imunossupressão, para fazerem o IGRA. O objetivo é prevenir casos de tuberculose, apesar de não ser comum acontecer. O problema é que, quando ocorre, é grave e pode matar”, alerta.

O que dizem os demandantes

A ampliação de uso do Teste de Liberação de Interferon-gama (IGRA) para a detecção de infecção latente pelo mycobacterium tuberculosis em pacientes com doenças inflamatórias imunomediadas ou receptores de transplantes de órgãos sólidos é uma demanda da Secretaria de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde.

O Brasil está entre os 30 países com maior carga de tuberculose e relacionada ao HIV, segundo a Organização Mundial de Saúde. Em 2020, a doença matou quase cinco mil pessoas.

Para alcançar as metas de eliminação da tuberculose no Brasil até 2035, o Ministério da Saúde publicou a segunda fase do Plano Nacional Pelo Fim da Tuberculose com as estratégias para manutenção do diagnóstico, do tratamento e da prevenção, como o diagnóstico em pessoas com indicação de tratamento com imunobiológicos e/ou imunossupressores ou em situação de pré-transplante de órgão. Levou-se em consideração nesse contexto o elevado risco de ativação da tuberculose latente nessas populações.

Atualmente, o único teste de triagem para Mycobacterium tuberculosis disponível para essa população é a PT, teste in vivo realizado por meio de injeção intradérmica do derivado proteico purificado (PPD) no antebraço. Ao mesmo tempo, até agora, o único registro de PT junto à Anvisa está inativo, uma vez que desde a alteração na classificação do insumo PPD para medicamento, a detentora do registro não regularizou sua situação fiscal junto à agência.

Saiba como participar da consulta pública

A consulta pública para avaliar a ampliação de uso do Teste de Liberação de Interferon-gama (IGRA) para a detecção de infecção latente pelo mycobacterium tuberculosis em pacientes com doenças inflamatórias imunomediadas ou receptores de transplantes de órgãos sólidos vai até o dia 10 de outubro.

Para dar opinião sobre o assunto e participar da consulta, acesse o portal da Conitec, no link.

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