‘DPOC é uma das condições que podem causar bronquiectasia’; entenda

Por CDD

Pneumologista Angela Honda fala sobre diferenças entre a Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica e bronquiectasia em entrevista

Tosses diárias que ocorrem ao longo de meses ou até mesmo anos, além da produção diária de grandes quantidades de catarro. Estes são os principais sintomas de bronquiectasias (BQTS), uma dilatação anormal e irreversível dos brônquios. 

Tuberculose, pneumonia ou episódios recorrentes de infecção pulmonar podem dar origem ao quadro crônico. “A explicação para o aparecimento das BQTS é a que propõe a interação, em diferentes níveis de intensidade, entre uma agressão ambiental e um indivíduo com pulmões congenitamente susceptíveis”, enfatiza a médica pneumologista Angela Honda, líder de programas educacionais da Fundação ProAR, médica voluntária na reabilitação pulmonar da Unifesp e consultora científica da CDD.

A asma aguda e Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica (DPOC) também estão associadas à ocorrência da bronquiectasia. O tratamento pode ser multidisciplinar, com a consulta por médico pneumologista e reabilitação com fisioterapia respiratória.

Para tirar mais dúvidas sobre as BQTs e a relação também com a DPOC, nós entrevistamos a pneumologista Angela Honda. Confira:

Quais são os principais sintomas da bronquiectasia?
O paciente geralmente tem sintomas crônicos de vias aéreas como tosse seca ou com catarro que podem aparecer em pequenas, moderadas ou grandes quantidades, principalmente pela manhã e evoluindo com  infecções (pneumonias) recorrentes.

O que a bronquiectasia pode causar?
Como descrito da definição da doença e pelo sintomas, infecções de repetição que causam alterações irreversíveis na estrutura pulmonar. Chamamos de “círculo vicioso” da fisiopatogenia das BQTS: infecções bacterianas (pneumonias, tuberculose, micobacteriose não tuberculosa, imunodeficiência predispondo a infecções); inflamações nas vias aéreas (aspergilose broncopulmonar alérgica, doenças do tecido conjuntivo, doenças inflamatórias intestinais, refluxo gastroesofágico), dano estrutural nas vias aéreas (defeitos anatômicos congênitos, doenças do tecido conjuntivo, doenças inflamatórias intestinais) e ineficiência dos mecanismos de limpeza das vias aéreas (fibrose cística e discinesia ciliar).

Quais são as principais causas de bronquiectasia?
Das causas adquiridas, podemos citar: tuberculose, micobacterioses não tuberculosas, infecções fúngicas, virais, Síndromes de Swyer-James-MacLeod, doenças bacterianas, DPOC, asma brônquica, HIV, neoplasias, tratamento com imunossupressores ou biológicos, artrite reumatóide, síndrome de Sjögren, lúpus eritematoso sistêmico, doença inflamatória intestinal, aspergilose broncopulmonar alérgica, refluxo gastroesofágico, microaspiração crônica, radioterapia, inalação de gases ou outros tóxicos, intrabrônquicos, reação hospedeiro, síndrome das unhas amarelas, sarcoidose, endometriose, amiloidose, panbronquiolite difusa. 

Das congênitas: fibrose cística, deficiência de alfa-1 antitripsina, discinesia ciliar primária, Síndrome de Young, imunodeficiências primárias, defeitos anatômicos da árvore traqueobrônquica, traqueobroncomegalia, sequestro pulmonar. 

 Porém, no Brasil, uma causa frequente é a tuberculose por sermos um país endêmico para essa doença. No passado, não tínhamos tratamento e as sequelas pulmonares acabavam sendo importantes, além disso, temos muitas crianças que apresentam infecções pulmonares na infância que causam sequelas como BQTS em seus pulmões.

Qual a diferença entre bronquiectasia e DPOC?
As BQTS são dilatações brônquicas irreversíveis com causas diversas que podem ser congênitas e adquiridas como descrito acima. A  Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica (DPOC) é uma condição pulmonar heterogênea caracterizada por sintomas respiratórios crônicos (dispneia, tosse, produção de escarro, exacerbações) devido a anormalidades das vias aéreas (bronquite, bronquiolite) e/ou alvéolos (enfisema) que causam obstrução persistente e frequentemente progressiva do fluxo aéreo.

O diagnóstico de ambas pode ser confundido?
Pode ser confundida pelos sintomas clínicos, mas na tomografia de tórax fazemos a diferenciação claramente. Muitos pacientes com DPOC têm BQTS também, já que a DPOC é uma das condições que podem causar a BQTS.

Como são feitos os tratamentos da bronquiectasia e da DPOC?
Em geral, o uso de broncodilatadores e corticóide inalatório pode ser necessário para as duas condições, dependendo da dos sintomas e causas. 

A BQTS tem como característica principal o quadro de tosse, geralmente com secreção constante e com infecções de repetição, portanto necessitando de antibióticos frequentes. Numa fase mais  prolongada pode haver colonização por bactérias que necessitem ser monitoradas e muitas vezes tratadas com antibiótico inalatório semelhante a fibrose cística, mas infelizmente no Brasil ainda não tem antibióticos inalatórios disponíveis para o tratamento das BQTS como temos em outros países.

Gostaria de fazer mais alguma consideração aos pacientes e familiares?
As BQTS, assim como DPOC, asma e outras doenças respiratórias, são condições crônicas, por isso, necessitam de tratamento e acompanhamento contínuo. É necessário uma adesão ao tratamento, além de muita resiliência e paciência consigo mesmo e dos familiares, pois é uma doença que dependendo da sua extensão acaba levando o paciente a uma limitação grande, com muitos sintomas e internações hospitalares frequentes, mas atualmente temos tido um avanço no conhecimento e tratamento dessa condição e esperamos que logo tenhamos acesso e disponibilidade no Brasil.

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