Esquizofrenia e a importância da psicoeducação
A esquizofrenia ainda carrega estereótipos que precisam ser desconstruídos; entenda mais sobre a condição
Há décadas, a indústria cultural retrata a esquizofrenia como quase sinônimo de ‘loucura’ e ‘marginalidade’. Muitas vezes, essa estigmatização afasta pacientes e familiares do tratamento adequado para o diagnóstico.
A Organização Mundial da Saúde estima que 1,6 milhão de brasileiros tenham o transtorno e é o terceiro maior motivo de perda de qualidade de vida em pessoas entre 15 e 44 anos. Os principais sintomas são: delírios, falsas convicções, alucinações e outros.
“A esquizofrenia é um diagnóstico que precisa ser conhecido pela sociedade. A gente sabe que é um estereótipo associado à loucura, a violência, etc. O primeiro contato dos familiares e pacientes com o diagnóstico é recebido com negação, uma tentativa de esconder e, quanto mais se faz isso, mais se retarda o tratamento. É necessário falar, conversar e conhecer. É importante o papel das associações, pacientes e familiares reconhecerem esse lugar e lutarem por políticas públicas”, afirma a assistente social Luciene Redondo, coordenadora de Inclusão no Programa de Esquizofrenia da Universidade Federal de São Paulo (Proesq-Unifesp), especialista em Classificação Internacional de Incapacidade Humana, Funcionalidade e Saúde (CIF).
Um passo importante para dar visibilidade ao tema foi a implementação do Dia Mundial da Pessoa com Esquizofrenia, em 24 de maio. O projeto de lei foi aprovado pelo Congresso Nacional em 2021. “Isso foi importante para mostrar que essas pessoas existem e que não devem estar só nos espaços de tratamentos, mas que possam estudar, trabalhar, elas também querem namorar, morar sozinhas e ter uma vida sustentável. Essas pessoas existem e precisam ser tratadas como pessoas e não como doenças. E aí é que faz sentido tomar cuidado com as palavras”, enfatiza Luciene.
Nesse contexto, a psicoeducação se faz necessária. Trata-se de uma intervenção terapêutica que fornece apoio e informações para entender e lidar melhor com a doença física ou mental.
Sarah Nicolleli é fundadora e presidente da Associação Mãos de Mães de Pessoas com Esquizofrenia (AMME) e tem um filho com o diagnóstico. “Eu nunca falei que meu filho é ‘esquizofrênico’. No começo sim, mas por desconhecimento e por não entender o ‘peso’ da palavra. Parece que a pessoa é 24h por dia ‘a doença’ e não é. Meu filho é o Cainã e tem esquizofrenia”, enfatiza.
Ela também dá um bom exemplo em outros contextos: “Às vezes nem preciso falar que meu filho tem (esquizofrenia). É a mesma coisa que eu chegar e dizer: ‘Muito prazer, sou hipertensa’. E depois falar que sou a Sarah. Não faz sentido”, ressalta. Para ela, é papel das associações de pacientes e familiares atuar junto à sociedade e quebrar o mau uso da palavra.