Menopausa, envelhecimento e estigmas femininos
Menopausa é uma etapa da vida é carregada de preconceito e assunto é ainda pouco discutido entre as mulheres
A menopausa é considerada uma ‘ameaça’ para muitas mulheres, não só pelos riscos de oscilações hormonais e mudanças corporais nessa fase da vida, mas por ser associada ao envelhecimento.
No Brasil, as mulheres chegam nessa fase entre os 45 e 55 anos, quando os ovários param de produzir hormônios. Os sintomas mais comuns são as chamadas ‘ondas de calor’ e secura vaginal. Mas nem todas vão apresentar as mesmas reações. Essa etapa também coincide com a queda do estrógeno, deixando a pele mais ressecada, aumentando a ansiedade e o mau humor.
A ginecologista Regina Paula Ares, com especializações em Acupuntura, Medicina Tradicional Chinesa e Antroposofia, alerta que, antes dos 38 anos de idade, a menopausa é considerada precoce. Segundo ela, há um fator genético que contribui para esse cenário.
A menopausa é considerada a ausência de menstruação maior de um ano ou mais. “Tudo o que vem antes disso, hemorragias, menstruar um mês sim e dois não, por exemplo, é considerado climatério. Os sintomas vão depender de cada paciente. O que posso dizer é que 80% das mulheres têm sintomas e 20% não”, afirma Regina Ares.
A jornalista Maria Antonia Demasi, mestre em Gerontologia Social e doutora em Ciências Sociais, ressalta que a menopausa precisa ser discutida com urgência. “Se você tem dez mulheres e oito estão sofrendo por um longo tempo, por algo que atravessa todo o feminino, porque não tem essa conversa?”, questiona.
Para ela, o estigma que o tema carrega e a falta de uma abordagem mais ampla e humana são frutos do patriarcado. “Falar que tem preconceito em relação à menopausa é pouco! Tem questões importantes que estão sendo ditas, como o abordo, a iniciação sexual, a gravidez, querer ou não ser mãe, tipos de maternidade, isso tudo está sendo mais dito hoje em dia. Eu tenho um pensamento otimista. Acho que a menopausa também vai chegar nesse lugar de ser muito falada, porque esse silêncio é insustentável”, pondera.
De acordo com um estudo conduzido pela empresa de higiene e saúde Essity e divulgado em 2022, 70% das brasileiras não estão preparadas para a chegada da menopausa. Isso revela a necessidade de abordar o assunto com mais frequência, além de questões como a prevenção dos sintomas. “Para algumas mulheres, a menstruação é algo super importante que significa bem estar. Para outras, principalmente as que têm endometriose, cólicas e que tiveram muitos filhos, a menopausa pode não ser um sofrimento. O momento ser bom ou não, vai variar”, acrescenta a médica Regina Paula Ares.
Após a menopausa, é mais comum o surgimento de doenças crônicas, como hipertensão, diabete, dislipidemias, artrite reumatóide e osteoporose.
Sobre políticas públicas, a ginecologista acredita que é preciso haver um treinamento voltado para os médicos que atendem mulheres nessa fase da vida no SUS. Isso porque, na visão dela, os profissionais de saúde costumam dizer que não existem tratamentos que possam aliviar os sintomas e dar mais qualidade de vida para as pacientes, como a própria reposição hormonal.
Para Maria Antonia Demasi, mestre em Gerontologia, é preciso uma campanha nacional de conscientização sobre a menopausa e a importância de elaborar melhor o envelhecimento na população feminina: “Essa abordagem generalizada da menopausa está muito ‘grudada’ com a ideia do envelhecimento. Existem distorções que atualmente estão diretamente ligadas no momento do neoliberalismo, do capitalismo que a gente atravessa. A questão do envelhecimento, que é datada pela menopausa, é muito séria. É um marcador social perverso”. Maria Antonia Demasi prevê que, muito em breve, a sociedade irá se render à discussão sobre a menopausa e os estigmas femininos.
Assista ao nosso episódio de Saúde na Roda sobre menopausa, envelhecimento e estigmas femininos!
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