‘No SUS só tem antipsicóticos de 1ª geração, os mais relacionados à Discinesia Tardia’, aponta psiquiatra
Discinesia Tardia é uma condição que afeta sistema nervoso pode ser causada por uso prolongado de alguns antipsicóticos
Os medicamentos chamados antipsicóticos, também conhecidos como neurolépticos, são prescritos em quadros de Esquizofrenia, Transtorno Bipolar, Transtorno Obsessivo-Compulsivo, Transtornos de Personalidade e, em alguns casos, no Transtorno do Espectro do Autismo. Eles proporcionam o alívio da agitação, mania, agressividade e funcionam como reguladores de humor.
Essa classe de medicamentos é dividida em antipsicóticos de 1ª geração e atípicos ou de 2ª geração. Ambos atuam nos receptores de dopamina. Alguns dos efeitos adversos mais relevantes destes agentes incluem distúrbios do movimento, sedação relacionada com a dose e síndrome metabólica.
Um efeito colateral mais sério a longo prazo é a Discinesia Tardia, que é caracterizada por movimentos involuntários repetitivos. “Esse transtorno (Discinesia Tardia) está muito relacionado ao uso de antipsicóticos de primeira geração. Isso é uma grande tragédia no nosso País porque, na atenção primária, no SUS, a gente só tem medicações de primeira geração antipsicóticas”, ressalta o psiquiatra Frederico Garcia, professor do Departamento de Saúde Mental da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
Confira um capítulo só sobre Discinesia Tardia no podcast ‘Desconfinamente’, no canal da CDD no Spotify:
Segundo o especialista, para ter acesso aos medicamentos de segunda geração no Brasil, é necessário cumprir um extenso protocolo, o que muitas vezes fica inviável ao paciente, que já está fragilizado. “Hoje há uma grande luta para que o governo reveja o rol de medicamentos básicos da atenção primária”, acrescenta.
O rol segue uma lista preconizada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) devido a tratados internacionais. “Antigamente esses medicamentos de segunda geração, os antipsicóticos, tinham um custo elevado e era justificado a gente ter uma ‘barreira’. Só que atualmente o custo deles quase que se equipara ao dos medicamentos de primeira geração. Então, a barreira virou mais uma barreira de acesso do que uma necessidade de controle de recursos”, afirma o psiquiatra.
Na avaliação de Frederico Garcia, é preciso haver uma pressão governamental: “Justamente para que haja uma revisão desse rol de medicamentos da atenção primária, que são simples como quetiapina, risperidona, clozapina que possam estar no posto de saúde e não mais aquela jornada de ‘você vai ao médico, leva a receita para a secretaria de saúde, volta para o médico, que tem umas 30 páginas para preencher, leva protocolo, leva a receita de novo, etc. Uma pessoa que tem dificuldades atencionais, déficit cognitivo, não consegue concluir nenhuma dessas etapas”, explica.
O professor do Departamento de Saúde Mental UFMG chama atenção para a desigualdade na oferta de medicamentos no SUS: “Na atenção primária, no posto de saúde, a gente tem os mesmos antidepressivos de 1950, 1960, 1970. Não foi inserido nenhum medicamento dos anos 1990! Estou falando de 30 anos atrás, então, é uma tristeza. Eu continuo tratando com um monte de efeito colateral, que não leva a continuidade do tratamento por parte do paciente e assim por diante. É injustificável que a gente continue tendo uma situação dessas. E a população não tem esse conhecimento”.
Para o psiquiatra Frederico Garcia, algumas ações poderiam ser feitas, como a revisão dos Protocolos Clínicos de Diretrizes Terapêuticas, os PCDTs, para os quadros clínicos que usem antipsicóticos no Brasil e a realização de uma consulta pública para aproximar as pessoas desta realidade.