O que a tireoide tem a ver com a saúde dos olhos
Doenças da tireoide acarretam perda ou ganho de peso, interferem na pressão sanguínea e no coração, promovem cansaço ou agitação… Poucos sabem, porém, que a visão também pode ser afetada pela pequena glândula com formato de borboleta situada na região do pescoço. A doença de Hashimoto, que culmina no hipotireoidismo, promove olho seco, ardor e vermelhidão. Já a doença de Graves, que deflagra o hipertireoidismo, está frequentemente associada à DOT. E o que seria isso?
DOT é a sigla para doença ocular da tireoide – também conhecida como oftalmopatia de Graves. Novembro marca o Mês da Conscientização sobre a Doença Ocular da Tireoide, e a ONG Crônicos do Dia a Dia (CDD) participa dessa empreitada por meio da campanha #OOlharDizTudo.
A DOT afeta mais mulheres do que homens. Cerca de 1% da população convive com a condição. E um ponto importante: apesar do nome, essa enfermidade não é causada por distúrbios na tireoide em si. A DOT na verdade é uma doença na qual anticorpos do próprio sistema imune do paciente atacam os músculos e a gordura por trás dos olhos. Ocorre que esses mesmos anticorpos também miram a tireoide e deflagram males nela – daí a relação com o hipertireoidismo e, em menor escala, até com o hipotireoidismo.
Cerca de 60% dos indivíduos com DOT também possuem a doença de Graves. E aproximadamente 6% das pessoas com essa condição oftalmológica sofrem com a doença de Hashimoto.
Normalmente, a DOT é detectada antes ou junto ao diagnóstico da doença de Graves. São doenças diferentes que requerem tratamentos distintos, mas, se o paciente tiver as duas, o oftalmologista e o endocrinologista devem trabalhar juntos e manter contato regular.
Como a DOT se manifesta
O ataque do sistema imunológico faz com que o tecido atrás dos olhos inche, levando-os a ficarem arregalados. Outros sintomas são sensibilidade à luz, lacrimejamento excessivo, visão dupla, dor e vermelhidão nos olhos. “Também ocorre a retração palpebral. Com isso, há maior exposição ocular”, afirma a oftalmologista Keila Monteiro de Carvalho, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).
A DOT é progressiva e crônica. Os fatores de risco incluem idade, genética, tabagismo e, como dissemos, as próprias doenças da tireoide. Outro ponto para ficar atento é a terapia com iodo radioativo, usado em tratamentos contra o câncer. Esse recurso, embora importante contra tumores, pode desencadear o problema.
A DOT é mais frequente em mulheres, porém tende a se manifestar de forma mais grave principalmente em homens idosos. Na primeira fase da doença, que dura de seis meses a dois anos e é chamada de aguda ou ativa, os sintomas aparecem de repente e pioram com relativa velocidade.
É nessa etapa que às vezes surge a neuropatia óptica distireoidiana – a complicação mais grave da DOT, que danifica o nervo ótico. Ela acomete cerca de 4% a 8% dos pacientes com a doença e, se não tratada, leva à cegueira, sendo irreversível em até 30% dos casos.
Depois da fase aguda vem a crônica, em que a DOT permanece inativa por um tempo. Isso, porém, não significa que ela tenha desaparecido; com o avançar dos anos, os sintomas voltam e alguns, como visão dupla e olhos arregalados, podem permanecer.
A boa notícia é que a doença pode ser bem manejada, principalmente se diagnosticada cedo. Os tratamentos incluem principalmente colírio ou gel lubrificante (para evitar que os olhos fiquem secos por causa da retração da pálpebra), corticoides e radioterapia. Na radioterapia, são aplicados feixes de energia na área atrás do olho para proporcionar alívio dos sintomas.
O ideal é que a doença seja gerenciada não apenas por um oftalmologista, mas também por um endocrinologista especializado no tratamento. “Casos muito graves têm indicação de descompressão orbitária, ou seja, redução do volume da órbita ocular”, afirma a oftalmologista. “Ela pode ser feita pela remoção de gordura ou aumentando o volume orbital pela fratura da parede óssea. As duas técnicas são geralmente associadas”, explica. Sim, estamos falando de cirurgias.
A primeira medicação para tratar especificamente a DOT foi aprovada pela FDA, agência reguladora de medicamentos dos Estados Unidos, em 2020. Espera-se que a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) faça o mesmo em breve.