Obesidade: primeiro medicamento para perda de peso pode chegar ao SUS
Consulta pública fechada no final de maio avalia a possibilidade de inserção da liraglutida, substância com efeito comprovado para a perda e controle do peso
Por Fernanda Simoneto, da Redação AME/CDD
Uma pesquisa realizada pelo Ministério da Saúde (MS) em 2021 indicou que 22,35% da população brasileira tem obesidade. O número mais que dobrou quando analisados os índices de sobrepeso, que atingiram 57,25% da população.
Se por um lado a obesidade cresce, as políticas públicas dedicadas ao cuidado dessas pessoas não obedecem o mesmo ritmo. São poucos, e em alguns municípios até mesmo inexistentes, os programas dedicados a pessoas com obesidade. Atualmente, o Sistema Único de Saúde (SUS) não oferece nenhum tipo de medicamento para o tratamento de perda de peso, apesar de eles já estarem disponíveis em farmácias comerciais.
Mas essa realidade pode mudar se o resultado da consulta pública que analisa a inserção da liraglutida for positivo. O medicamento, inicialmente desenvolvido para conter o diabetes tipo 2, obteve resultados positivos contra a obesidade. Caso aprovado, será direcionado para pacientes com índice de massa corporal (IMC) acima de 35kg/m2, que tenham pré-diabetes e alto risco de doença cardiovascular.
A liraglutida é um dos medicamentos da classe dos agonistas do GLP-1. Eles agem simulando a ação do hormônio GLP-1, que é secretado quando comemos e ativa a produção de insulina no pâncreas quando a glicose está alta. No cérebro, a medicação também atua nos receptores relacionados ao apetite, tornando mais prolongada a sensação de saciedade.
“Todos os medicamentos têm seus efeitos colaterais, e isso deve ser pesado em termos do custo-benefício para o paciente. Mas atualmente esses medicamentos têm poucos efeitos adversos”, explica a endocrinologista Melanie Rodacki, vice-presidente do Departamento de Diabetes da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM). A reação mais comum são as náuseas.
A inserção do remédio pelo SUS, no entanto, envolve outros desafios, principalmente de ordem financeira. “Esses medicamentos não são baratos, e a população com obesidade é grande. Por outro lado, a obesidade traz riscos importantes para as pessoas, o que influencia nos custos da saúde pública para o país”, afirma a especialista.
De acordo com ela, os órgãos regulatórios devem considerar o custo-benefício desse fármaco em comparação inclusive com outras estratégias, como a cirurgia bariátrica. Esse procedimento, aliás, já é oferecido pelo SUS para aqueles com IMC superior a 40kg/m2 ou para pessoas com IMC superior a 35kg/m2, desde que possuam comorbidades (ou seja, outras condições geralmente associadas à obesidade).
De acordo com dados da Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica (SBCBM), entre 2019 e 2021 foram realizados 19 203 procedimentos bariátricos pelo SUS no país. “Mas infelizmente a demanda é maior do que a oferta”, aponta Rodacki. Para a endocrinologista, a incorporação do liraglutida poderia ajudar as pessoas na perda de peso e evitar que cheguem ao ponto de precisarem da cirurgia bariátrica.