11.07.2022 Saúde Mental

Pandemia aumenta mortes relacionadas ao álcool e acende alerta por saúde mental

Por CDD

Pandemia aumenta mortes relacionadas ao álcool e acende alerta por saúde mental

Novo relatório do Centro de Informações sobre Saúde e Álcool (CISA) revela aumento inédito de mortes em 2020. Pacientes com transtornos psiquiátricos crônicos devem redobrar a atenção ao uso da bebida e riscos de dependência

Por Maurício Brum

A pandemia de Covid-19 trouxe uma série de efeitos colaterais, como um crescimento inédito na mortalidade ligada ao álcool. É o que indica a pesquisa “Álcool e Saúde dos Brasileiros – Panorama 2022”, a nova versão do estudo publicado anualmente pelo Centro de Informações sobre Saúde e Álcool (CISA), que compila dados públicos e traz depoimentos que ajudam a analisar os hábitos dos bebedores brasileiros. Entre os achados do levantamento, que leva em conta os números de 2020, os mais recentes consolidados pelo DataSUS, aparece um aumento de 24% nas mortes totalmente atribuíveis ao álcool. O crescimento é inédito na série histórica, iniciada em 2010.

Para Arthur Guerra, psiquiatra e presidente-executivo do CISA, ainda são necessários novos estudos para determinar as causas exatas do aumento abrupto, mas o possível impacto da pandemia no número não pode ser minimizado. “Ela mudou o cotidiano das pessoas, mexeu com expectativas e projetos e demandou adaptações que muitas vezes não foram fáceis”, aponta o médico. “Além disso, houve um enorme impacto no sistema de saúde, seja público ou privado”, aponta o médico.

Ora, com os reagendamentos e os remanejamentos de profissionais para lidar com as ondas de Covid-19, certas áreas do cuidado com a saúde perderam prioridade. E isso trouxe impactos negativos. 

Mas, mesmo com aumento das mortes, o documento trouxe um movimento inverso no que diz respeito às internações atribuíveis ao álcool: uma queda de 15% na comparação com 2019. Uma pesquisa da Organização Pan-Americana da Saúde (Opas) mostrou, ainda em 2020, que 95% dos brasileiros que relatavam consumo abusivo de álcool durante a pandemia não procuraram ajuda, mas este número não era tão diferente do registrado um ano antes, quando foram 92,7% afirmando o mesmo. 

É possível que a sobrecarga dos sistemas de saúde e o temor de infecção tenham sido mais determinantes na queda expressiva em internações observada entre um ano e outro. “Creio que a retomada dos serviços de saúde é uma das principais medidas para conter esse problema. Acredito também que a própria normalização do cotidiano, com a reabertura dos estabelecimentos e a volta da circulação, pode ter um impacto positivo”, projeta Guerra.

“Álcool não é remédio”

Além dos números compilados junto aos órgãos de Saúde, o Panorama 2022 possui um caráter qualitativo, já que inclui depoimentos (anônimos) de pessoas consideradas “bebedoras moderadas ou abusivas”. A pesquisa encomendada pelo CISA foi realizada pelo Ipec, que ouviu homens e mulheres brasileiros com mais de 18 anos, das classes sociais A, B e C, em encontros virtuais realizados em janeiro deste ano. Embora não possam ser generalizados para a  população inteira, os relatos individuais ajudam a lançar luz sobre o que pensam os consumidores de álcool.

Um dos pontos que se destacaram foi a razão apontada por muitos bebedores para seguir ingerindo o álcool: a busca por sensações positivas ou para aliviar as negativas

Essa motivação pode ser especialmente perigosa diante da depressão. “Álcool não é remédio”, reforça o presidente executivo do CISA. “Eu compreendo que possa parecer que o consumo de álcool melhore o estado de espírito. Mas isso é momentâneo, e os problemas voltam mais intensamente depois, com juros”, aponta. 

O uso constante da bebida pode gerar dependência, que dificulta ainda mais as medidas tomadas para mitigar a depressão. “Ele costuma ser antagônico com mudanças de estilo de vida que ajudam na real e sustentável melhora dos sintomas de depressão e ansiedade”, explica Guerra. São os casos da prática de atividades físicas, a busca de ajuda médica e psicológica, o comparecimento aos diferentes compromissos do dia a dia e o contato com o círculo de apoio.

Pacientes crônicos devem redobrar atenção

Todos que possuem algum transtorno psiquiátrico crônico devem ter cuidado especial com a ingestão de álcool. Isso vai de pessoas com depressão e ansiedade até as com esquizofrenia.

“Como há muitos riscos envolvidos, chegamos ao ponto de podermos dizer que, para qualquer transtorno mental, o uso de álcool não é recomendado”, reconhece Guerra.

Moderação?

O consumo moderado, segundo entidades como a Organização Mundial de Saúde (OMS) e o Instituto Nacional de Abuso de Álcool e Alcoolismo dos EUA, não passa de uma dose por dia para mulheres e duas para homens. Na prática, uma dose padrão equivale a 350 ml de cerveja (uma lata), 150 mil de vinho (uma taça) ou 45 ml de destilado (um shot). 

Problemas de saúde crônicos, porém, podem reduzir ou até zerar esse limite, o que torna necessário ouvir seu médico sobre a melhor maneira de se relacionar com o álcool. 

E vale o lembrete: mesmo o consumo esporádico, mas intenso, traz ameaças para a saúde. Esse é o caso das pessoas que só bebem ao sair no final de semana, mas acabam pesando bem na dose.

Dito de outra maneira, não é possível acumular o consumo para ir além do limite preconizado em um único dia. Esse comportamento é enquadrado pelos especialistas como “beber pesado episódico” (BPE), situação que também acarreta problemas de longo prazo.

Para quem não abre mão da bebida em momentos de descontração ou eventos sociais, convém ficar atento aos sinais de alerta de que o consumo pode estar se tornando pouco saudável. 

O presidente do CISA cita cinco pontos de atenção: 

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