15.09.2023 Obesidade

Quais são os principais tratamentos de obesidade disponíveis no Brasil?

Por CDD

De acordo com a Pesquisa Nacional de Saúde de 2020, mais de 40 milhões de brasileiros que convivem com obesidade

A Organização Mundial da Saúde aponta que os índices de obesidade e sobrepeso quase triplicaram no planeta desde 1975. A Pesquisa Nacional de Saúde de 2020 revelou que, no Brasil, 41,2 milhões de pessoas maiores de 18 anos têm obesidade. Para a OMS, ela é considerada uma doença crônica não transmissível (DCNT) de origem multifatorial e complexa.

Fatores biológicos, econômicos, sociais, políticos, ambientais e culturais estão entre as principais causas. Mas a que se deve esse aumento considerável no número de casos? Descobrir as causas é importante, mas um passo além da questão é refletir sobre as abordagens que são ineficientes. Para o nutricionista Erick Cuzziol, a conscientização agora precisa partir para os agentes que estão falhando. 

“É preciso entender que essa pessoa vai sofrer com o diagnóstico, que vai precisar de tratamento a longo prazo e que enquanto isso, vai ter dificuldades para a manutenção, como encontrar alimentação adequada para o seu tratamento. Ela também precisa enxergar, enquanto paciente, que socialmente, outras mudanças precisam acontecer, como conquistar direitos e acessos que asseguram seu direito de se tratar. Se partir do princípio de que ‘quem se esforça está a salvo’, a gente vai ter que conseguir alinhar (esse discurso) com todos os especialistas, porque, vai deixar de fazer sentido a preocupação atual deles (que seria as reais evidências científicas e a noção distorcida da sociedade incluindo responsáveis por decisões sociais) “, enfatiza o fundador do perfil ‘Nutricionista Gordo’ no Instagram e consultor da CDD.

Somos bombardeados com alimentos ultraprocessados que nos adoecem. Nos falta tempo (que atualmente é valioso demais) para preparar o que respeita nossa saúde. Aliás, até quem trabalha no campo tem passado muita fome. Estamos fazendo muitos esforços para resistir, mas será que não estamos sozinhos demais nessa batalha?

Falar sobre tratamentos para obesidade no Brasil hoje, seja no SUS ou na rede particular, é um desafio. Isso porque, além da falta de uma estrutura de saúde multidisciplinar que o assunto exige, existem muitas crenças que precisam ser desfeitas, como responsabilizar exclusivamente a pessoa pela condição. “É importante evitar, ao máximo, a culpabilização dessas pessoas. A maioria dos institutos e especialistas têm percebido que os acessos aos tratamentos de obesidade estão muito difíceis. E que “o que” os países do mundo todo estão oferecendo não é suficiente. E não dá pra gente continuar com a mesma narrativa e informação de que a pessoa ‘tem que se esforçar’, de que ‘ela precisa se cuidar’ somente”, ressalta Erick Cuzziol. 

Um dos tratamentos mais conhecidos no Brasil atualmente é a cirurgia bariátrica, que voltou à tona após procedimento realizado pela cantora Jojo Toddynho em agosto deste ano.

Jojo Toddynho recebe críticas após fazer cirurgia bariátrica

Depois de participar do quadro ‘Dança dos Famosos’, da TV Globo, a cantora Jojo Toddynho decidiu realizar a cirurgia bariátrica. “Quando você está no sobrepeso, você tem uma certa limitação. Teve uma vez que fui fazer um passo e acabei machucando o meu joelho, às vezes não queria me apresentar porque estava insegura. Aí pensei: ‘Jordana, você se ama, você se respeita, você se valoriza, então, vamos ter um cuidado a mais com a sua saúde?'”, disse a artista, em entrevista ao ‘Fantástico’. 

A repórter perguntou sobre o plano de metas para redução de peso com a cirurgia, mas Jojo foi enfática: “Olha, não fiz estimativa não, mas eu quero estar com 85kg, 90kg, tá bom”. Antes do procedimento, ela estava com 140kg. 

A cantora só contou a notícia aos 27 milhões de seguidores no Instagram após a realização da bariátrica. E recebeu duras críticas de internautas por isso. “Teve pessoas dizendo que eu estava com medo de ser cancelada. Cancelada por estar buscando saúde? Cancelada por estar buscando uma vida melhor? Eu quero ser mãe. Eu quero ter qualidade de vida para passar para os meus filhos”, concluiu.

A narrativa de Jojo Toddynho de que buscou a cirurgia bariátrica com o objetivo de conquistar mais saúde vai praticamente contra todo discurso já proferido até agora que envolva ‘dietas’, ‘regimes’, ‘pensamento magro’, ‘hipervigilância na alimentação’, ‘emagrecer’ e toda a sorte de gatilhos emocionais para quem convive com essa condição. 

Para falar mais sobre os tipos de tratamentos disponíveis para a obesidade no Brasil e de que forma eles podem ser acessados, nós entrevistamos Glenda Cardoso, do perfil ‘Bari da Glenda’, no Instagram, confira.

Quais os tratamentos que existem para obesidade?
Glenda: Existem diversos tratamentos hoje, desde os mais conservadores até novas opções que surgiram mundialmente e trazem um efeito mais duradouro e eficaz. Eu tentei diversos tratamentos ao longo da vida e o que me trouxe o melhor resultado foi a gastroplastia, conhecida como cirurgia bariátrica. Tentei o tratamento medicamentoso, dietas restritivas aliadas a exercícios físicos, dietas da moda. 

E como não é uma fórmula mágica que vale para todos, cada organismo reage de uma forma a cada tratamento. O que tem funcionado para mim é o acompanhamento com equipe multidisciplinar após a cirurgia bariátrica. O acompanhamento com minha cirurgiã Dra Thayla Amaral no pós-operatório tardio, junto com o tratamento psicológico aliado ao nutricional e exercícios físicos após a cirurgia bariátrica, me rendeu menos 95kg. Sem todo esse suporte, teria sido muito difícil alcançar esse resultado. Cardiologista e endocrinologista são indispensáveis também. 

Eu tenho consciência de que faço parte de uma fatia privilegiada, com acesso a esses tratamentos e a bons médicos, e o sonho é que o SUS custeie esse acompanhamento a todas as pessoas com obesidade. 

Para isso, é necessário capacitar e formar profissionais que entendam sobre o tratamento dessa doença. Que tenha infraestrutura e acesso a equipamentos que realizem os exames, como por exemplo, tomografia e ressonância, que atendem ao tamanho de corpo e peso dessas pessoas.

Além da cirurgia bariátrica, existem outras possibilidades?
Glenda: Existem muitas possibilidades de tratamento e é necessário que um especialista avalie caso a caso. Cada pessoa reage bem a um tratamento. A cirurgia precisa ser bem indicada, assim como cada tratamento em particular. Analisar o histórico, as tentativas, comorbidades e aderência de cada pessoa é o mundo ideal. Por isso é tão importante profissionais com boa escuta e análise de cada pessoa.

Qual é o papel da saúde mental no tratamento para obesidade?
Glenda: A saúde mental é preponderante para a adesão do tratamento e também para identificar de onde vem os gatilhos. Entender como reagimos aos sentimentos nos ajuda a lidar melhor com eles. Se nossos sentimentos nos levam a comer, precisamos aprender a ressignificar. A terapia e os medicamentos ajudam demais também. Um bom psicólogo e um bom psiquiatra ajudarão com as melhores abordagens.

Historicamente os tratamentos para obesidade são atrelados ao “emagrecer”, “dieta”, “regime”, “hipervigilância na alimentação” e outros termos que podem provocar um efeito psicológico, ne? Gostaria que você analisasse um pouco essa questão, principalmente em uma sociedade que culpabiliza as pessoas nesse contexto.
Glenda: Ninguém escolhe, conscientemente, estar fora de um padrão estabelecido. Todos temos necessidade de pertencimento. É inerente ao ser humano. Desde pequenos tentamos fazer parte, ser aceitos, nos enxergar no outro. Thomas Merton fala que “nenhum homem é uma ilha” e nas nossas necessidades mais básicas está esse pertencimento. Durante muitos anos, a culpa de comer demais, ou de estar gordo, era considerada falta de vontade, preguiça, falta de comprometimento.

Hoje, a OMS e as sociedades médicas entendem que a obesidade é uma doença crônica, progressiva e altamente recidivante. Ou seja, uma doença que inicia aos poucos, tem longa duração e dura uma vida inteira, tem muitas causas, precisa de cuidado contínuo e mesmo com esses cuidados, não tem cura. Obesidade tem controle. A cirurgia ou qualquer outro tratamento não trará cura efetiva, trará o controle da doença. E, culpar uma pessoa quando ela tem o reganho de peso, dizer que ela não se cuidou é cruel. Porque você atribui apenas a ela o controle da doença. E são diversos fatores que podem influenciar esse processo.

Existe hoje um direcionamento dos médicos de que, uma perda de 10% do peso, já traz ganhos metabólicos significativos. E isso é um tremendo avanço. Existem pessoas que se sentem bem em seus corpos, estão emocionalmente bem com eles, e estão metabolicamente saudáveis. E entender o tratamento da obesidade como controle das comorbidades associadas, melhora na qualidade de vida, na mobilidade e, inclusive, nas relações sociais, é libertador. Que a sociedade se conscientize, lute pelos seus direitos e se muna de informações de qualidade, para de fato entender que não é uma questão de escolha, e então não culpabilize a pessoa com obesidade.

Como a obesidade é tratada no SUS

Atualmente, o Ministério da Saúde segue uma espécie de cartilha para o tratamento para obesidade no SUS. A porta de entrada é a Atenção Primária, onde profissionais irão acolher a pessoa, fazer o acompanhamento como estímulo à prática regular de atividade física, à alimentação adequada e realização de práticas integrativas. Após isso, se necessário, essa pessoa será encaminhada para a Atenção Especializada. 

Existe um Manual de Atenção às Pessoas com Sobrepeso e Obesidade no Âmbito da Atenção Primária à Saúde do SUS, que traz um conjunto de recomendações para qualificar a atuação dos gestores e equipes. 

O material traz orientações básicas como:

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