Saiba tudo sobre Angioedema Hereditário
O que é Angiodema Hereditário?
Angioedema Hereditário (AEH) é uma doença genética rara que causa crises de inchaço em diferentes partes do corpo, incluindo pés e mãos, genitais, estômago, rosto e garganta. O inchaço nas vias aéreas pode restringir a respiração e causar morte.
Os sintomas de AEH geralmente aparecem na infância e podem ficar mais graves na adolescência. No entanto, por ser uma doença amplamente desconhecida, uma pessoa pode levar anos até receber o diagnóstico correto. Pessoas que não recebem o tratamento preventivo para AEH podem ter uma crise a cada uma ou duas semanas, com duração de três a quatro dias cada episódios.
AEH não causa coceira ou erupções na pele, e não tem as mesmas origens de angioedemas de ordem alérgica, portanto não pode ser tratado como reação alérgica. Anti-histamínicos, epinefrina e corticosteróides não são efetivos no tratamento dos sintomas de AEH.
Existem 3 tipos de angioedema hereditário:
- Tipo 1 é a forma mais comum de AEH. Pessoas com o Tipo 1 têm baixos níveis de inibidor de C1.
- No Tipo 2, os níveis de inibidor de C1 estão normais, mas a proteína não funciona como deveria.
- No terceiro tipo, AEH com inibidor de C1 normal, as pessoas têm níveis e função normais de inibidor de C1, mas apresentam inchaço semelhante aos Tipos I e II. Cientistas descobriram que defeitos em outros 3 genes – Fator XII, Angiopoietina-1 e Plasminogênio causam AEH.
Prevalência
AEH é considerada uma doença rara, estima-se que ocorra em 1 a cada 10 mil ou 50 mil pessoas – como é muito subdiagnosticada é difícil ter números mais precisos. O Tipo 1 é o mais comum, com 85% dos casos e o Tipo 2 com 15%. Ainda não há dados sobre a incidência de AEH com inibidor de C1 normal, mas é o tipo mais incomum.
Causas
O Angioedema Hereditário (AEH) tem origem em um problema genético que causa uma deficiência na produção de uma proteína do sangue chamada inibidor de C1. Uma das funções desta proteína é a inibição da produção de bradicinina. Esta deficiência provoca um desequilíbrio bioquímico que acarreta inchaço.
A maioria dos casos de AEH são passados de forma hereditária – uma pessoa com AEH tem 50% de chance de passar o problema genético aos filhos. No entanto, 25% (um em quatro casos) das pessoas com AEH não têm histórico familiar da doença, e a condição tem origem em uma mutação no gene relacionado ao inibidor de C1.
As crises costumam ocorrer de forma espontânea, ou causadas por gatilhos que podem variar de pessoa para pessoa, como: ansiedade, estresse emocional, estresse físico (como machucados, cansaço extremo, atrito físico, entre outros), procedimentos cirúrgicos ou odontológicos, infecções virais, mudanças hormonais como gravidez ou menstruação, medicamentos etc. Aprender a reconhecer os próprios gatilhos é um passo importante para pessoas com AEH conseguirem manejá-los de maneira mais eficaz, evitando os surtos.
Sintomas
Os sintomas de Angioedema Hereditário aparecem durante os surtos e causam inchaço em diferentes partes do corpo, podendo variar em gravidade. A frequência e a duração das crises variam nas pessoas com AEH. Geralmente, pessoas que não estão recebendo tratamento para a doença têm um ataque a cada uma ou duas semanas. A maioria desses episódios dura de três a quatro dias. Os sintomas vão depender do tipo de crise que a pessoa tiver.
O tipo de mais comum de crise é a subcutânea, que envolve inchaço e vermelhidão em diferentes áreas da sua pele. O surto inicia com sensação de formigamento, em seguida, progride para um entumescimento extremo e doloroso. Esses sintomas podem impedir atividades cotidianas. Por exemplo, seus dedos podem inchar a ponto de não conseguirem dobrar e seus pés podem ficar tão inchados que não é possível calçar sapatos.
Este tipo de crise pode afetar as mãos e pés, rosto e boca, genitais e nádegas.
As crises abdominais se apresentam com distensão da parede do estômago e/ou do trato gastrointestinal. Estas crises podem provocar forte dor abdominal, náusea, vômito, diarréia, desidratação. É um fator diferencial da AEH, pois a dor abdominal recorrente é rara em outros tipos de angioedema. Este tipo de sintoma pode levar pessoas não diagnosticadas com AEH a cirurgias desnecessárias, pois a dor de uma crise abdominal pode ser confundida com outras condições que determinam intervenção cirúrgica de urgência – como apendicite ou rompimento de cistos no ovário.
O inchaço na garganta, pescoço ou língua são particularmente perigosos e potencialmente fatais, pois sem tratamento podem causar o fechamento das vias aéreas. Cerca de 50% das pessoas com AEH apresentam, ao menos, um episódio de crise na área laríngea durante a vida. Os primeiros sintomas podem incluir dificuldade de engolir e mudança na voz. Este tipo de crise é extremamente perigosa e requer atendimento médico urgente, logo nos primeiros sintomas.
Diagnóstico
O Angioedema Hereditário é uma doença rara, e a maioria das pessoas – incluindo médicos – não está familiarizada com ela até encontrar alguém que a tenha. Mesmo assim, como os sintomas vêm e vão, é comum que as pessoas com AEH permaneçam sem diagnóstico por muitos anos. Dores abdominais frequentes podem ser facilmente diagnosticadas de forma incorreta, às vezes resultando em cirurgias exploratórias desnecessárias. O inchaço em regiões como rosto e membros é comumente diagnosticado com angioedemas do tipo alérgico.
Pesquisas indicam uma média de 11 a 20 anos entre os primeiros sintomas, e o diagnóstico definitivo para uma pessoa com AEH, e mais da metade passam por outros diagnósticos anteriormente.
Em caso de suspeita de AEH, um médico alergista-imunologista deve ser consultado, esta especialização que diagnostica e trata a doença. O diagnóstico do AEH baseia-se essencialmente na história clínica e familiar e nos achados do exame físico durante as crises. A confirmação, entretanto, depende dos testes laboratoriais que avaliam a quantidade das proteínas C1 e C4. Estes testes também são importantes para confirmar se a pessoa tem AEH do tipo I ou II.
Existe também a opção de realizar um teste genético para AEH para pessoas que apresentem um nível normal de inibidor de C1, que pode determinar se há um defeito em um dos outros três genes que também foram demonstrados como causadores de AEH.
De acordo com as diretrizes brasileiras para o diagnóstico de AEH*, a condição é confirmada na presença de um critério clínico primário e um dos critérios bioquímicos.
- Critério clínico primário: Angioedema subcutâneo não-inflamatório com duração superior a 12 horas; dor abdominal de origem indefinida por mais de 6 horas; edema de laringe.
- Critério clínico secundário: histórico familiar de AEH.
- Critérios bioquímicos: deficiência quantitativa de C1-INH; deficiência funcional de C1-INH; mutação no gene SERPING1.
Tratamentos
O Angioedema Hereditário é uma condição crônica, para a qual não existe cura, no entanto seus sintomas são controláveis com o tratamento adequado e medicação.
O tratamento do angioedema hereditário mudou drasticamente nos últimos anos, com o desenvolvimento de novos medicamentos, mais eficientes para as crises: inibidor de C1 derivado de plasma, inibidor de C1 recombinante humano, antagonista do receptor B2 da bradicinina (icatibanto) e o inibidor da calicreína (ecalantide). No Brasil, até o momento, estão liberados para uso o inibidor de C1 derivado de plasma e o icatibanto.
A prescrição de um plano de tratamento é baseada na frequência na qual a pessoa tem crises, na gravidade destes, e em aspectos clínicos mais amplos. Pessoas com AEH devem ter acesso a medicação específica para tratar as crises assim que os sintomas aparecerem. Existem também medicamentos específicos que ajudam a prevenir crises futuras de longo e médio prazo.
É importante lembrar que medicações utilizadas para o tratamento de angioedemas alérgicos não funcionam para angioedema hereditário.
Manter um registro ou diário para entender seus sintomas e o que os desencadeia também ajudará você e seu médico a desenvolver um plano para controlar sua HAE. Com o manejo correto, você pode levar uma vida plena e ativa com AHE!
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*Fonte: Giavina-Bianchi, P. et al. As diretrizes brasileiras para o diagnóstico e tratamento de Angioedema Hereditário. Revista oficial da Associação Brasileira de Alergia e imunologia (ASBAI), 2017.