08.07.2022 Saúde Pública

Teste rápido de Covid-19: o manual de uso

Exames que podem ser feitos em casa se tornaram o caminho mais prático para detectar o coronavírus e conter a sua disseminação. Veja o modo correto de usá-los

Depois das vacinas e da chegada da variante ômicron, ficou mais difícil diferenciar os sintomas da Covid-19 dos de uma gripe, resfriado, rinite alérgica ou outra doença respiratória. Esse quadro, aliado ao relaxamento das medidas de prevenção e ao o número considerável de pessoas assintomáticas, contribui para a disseminação do coronavírus, que já matou mais de 670 mil pessoas no Brasil. 

Daí a importância dos testes rápidos da Covid-19, especialmente no meio do ano, quando a chegada do frio em boa parte do país favorece aglomerações em locais fechados. Esse tipo de exame detecta os antígenos do vírus na secreção do nariz e pode ser realizado pelo próprio indivíduo com uma espécie de cotonete longo e estéril, chamado de swab nasal. 

Eles são indicados para quem tem sintomas (os mais comuns: febre, coriza, tosse seca e dor de cabeça) ou contato com alguém infectado nos três ou quatro dias anteriores e permanece assintomático.

Especialistas ouvidos pela Redação AME/CDD consideram os testes rápidos aprovados pela Anvisa seguros, confiáveis e fundamentais para controle da pandemia. Estudos feitos por pesquisadores da Escola Médica da Universidade de Massachusetts, nos Estados Unidos, acompanharam o desempenho dos testes de antígenos e do PCR ao longo de dois anos e chegaram a duas conclusões importantes. 

O estudo, ainda não revisado por pares (quando outros cientistas avaliam o trabalho antes da sua publicação para verificar se está tudo ok), foi o primeiro a comparar a sensibilidade desse tipo de exame com o PCR, conhecido por ser mais sensível para detectar a presença do coronavírus. 

“O PCR funciona amplificando o material genético do vírus. Por isso, é capaz de detectar quantidades extremamente pequenas de material viral”, explica a bióloga Melissa Markoski, professora de Biossegurança da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA) e membro da Rede Análise, um grupo de pesquisadores voluntários que se reuniram para o enfrentamento da Covid-19 no país. Em geral, o exame de PCR acusa a presença do coronavírus dois dias antes do teste rápido.

Uma pesquisa feita no Centro de Controle de Doenças e Prevenção dos Estados Unidos corrobora os achados mencionados acima. Após avaliar 225 adultos e crianças com diagnóstico positivo para a Covid-19, os cientistas verificaram que a sensibilidade do teste rápido aumenta à medida da escalada da carga viral no organismo. 

Publicado no prestigiado Jama em abril deste ano, o estudo revela que a sensibilidade de um primeiro teste isolado atinge o seu pico quatro dias após o início da doença, com um índice de 77%. Mas a repetição melhora a precisão: uma segunda avaliação de um a dois dias depois da primeira levanta a sensibilidade média para 85%.

“Nas pessoas que desenvolveram uma resposta muito boa à vacina e mascaram a multiplicação do vírus nos primeiros dias, pode haver alguma falha. Mas os testes em geral são confiáveis, e uma coisa é certa: se deu positivo no teste rápido, dificilmente o paciente não está transmitindo o vírus”, explica virologista Fernando Spilki, coordenador do projeto Corona-ômica BR, uma rede de laboratórios que faz a captação e sequenciamento genômico do vírus.  “Por isso, é um teste bom para acompanhamento de pessoas que já positivaram e querem saber a partir de que momento podem sair do isolamento”, completa.

Para garantir a acurácia do teste rápido, os especialistas recomendam fazê-lo no terceiro ou quarto dia desde o início dos sintomas, no período conhecido como “janela imunológica”, para garantir que a carga viral seja detectada.

“Uma pessoa sintomática pode apresentar o teste rápido positivo já no primeiro dia de sintomas. Mas o ideal é aguardar 48 horas para reduzir o risco de um falso negativo [quando o exame afirma que o vírus não está no organismo, mas na verdade ele está]”, diz Markoski. 

A boa notícia é que os exames disponíveis hoje nas farmácias apresentam um percentual menor de falsos negativos. “Os testes que ficaram no mercado são os que já vinham apresentando resultados melhores no passado”, observa Spilki.

Durante os dois dias de espera após o início dos sintomas, é necessário adotar as medidas de proteção, com o uso de máscaras bem vedadas e o isolamento social, para evitar a possível disseminação da doença. Em caso de o resultado ser negativo no primeiro teste rápido e o indivíduo estiver sintomático, o ideal é repetir a avaliação um ou dois dias depois. 

Se não quiser ou puder esperar esse tempo, a melhor opção é partir para o PCR. O exame identifica a presença do material genético do vírus a partir da secreção colhida no nariz ou na garganta por meio do cotonete longo. 

“O PCR consegue pegar o vírus mesmo em estágios iniciais da replicação. Até antes dos sintomas, é possível fazer o diagnóstico”, explica Spilki. Ele recomenda o PCR especialmente para quem está hospitalizado ou vai viajar para fora do país. 

No caso de pacientes que tiveram contato com alguém infectado, mas não apresentam sintomas, Melissa Markoski recomenda aguardar até o quinto ou sexto dia após o encontro para fazer o teste rápido – ou partir direto para o PCR antes disso. 

Atenção especial para pacientes crônicos

Para os pacientes com doenças crônicas, inflamatórias ou cardiovasculares, os testes rápidos devem ser feitos logo no início dos sintomas ou após o contato com alguém contaminado. “É ideal que o paciente seja acompanhado desde o começo para tomar precauções e fazer o tratamento para os sintomas”, alerta Markoski. 

Isso porque muitas dessas enfermidades são associadas a um risco maior de agravamento da Covid-19. Portanto, fechar o diagnóstico quanto antes ajuda a tomar as medidas cabíveis. Se houver alguma suspeita, converse com o médico. 

De acordo com Spilki, o teste rápido também é bastante útil para quem tem contato frequente com pessoas com condições crônicas, já que pode ser feito mais vezes de forma veloz. É uma forma de minimizar a exposição desses indivíduos ao vírus. Se der positivo, a orientação é, claro, adiar o encontro. 

Mesmo com sintomas leves, a Covid-19 pode ter um impacto prolongado e ainda não totalmente previsível sobre as células. Segundo Markoski, sabe-se que a doença ativa a expressão de receptores do vírus em diferentes órgãos, o que contribui para o aparecimento ou agravamento de doenças cardiovasculares e psiquiátricas, como depressão e ansiedade. 

“No caso do cérebro, os receptores do Sars-CoV-2 nas células neurais descompensam a regulação dos neurotransmissores, como dopamina e serotonina”, explica Markoski. “Se o paciente faz o acompanhamento, ele pode detectar esses efeitos precocemente”, reforça.

Em caso de teste rápido positivo, o Ministério da Saúde orienta uma quarentena de ao menos sete dias após o resultado – isso se os sintomas forem leves. Aqueles que tiverem o resultado de PCR negativo após o quinto dia já poderiam abandonar o isolamento, segundo a pasta. Mas isso é controverso.

Spilki alerta que cerca de 90% dos pacientes continuam positivos sete dias após o início dos sintomas – o número cai para 70% por volta de dez dias. “As pessoas estão voltando ao trabalho hoje com cinco, sete dias de isolamento. E a maioria está voltando positivo”, lamenta o pesquisador. Ou seja, há risco de contágio.

A bióloga Melissa Markoski recomenda que, se possível, o paciente cumpra o isolamento por dez dias, quando a carga viral cai a ponto de não oferecer mais risco de transmissão. “Sabemos que muitas empresas exigem que o funcionário cumpra apenas cinco. Neste caso, é preciso reforçar ainda mais as medidas de proteção”, conclui.

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