Tratamentos para DPOC: como funciona, adesão e prevenção
Fazer o tratamento e utilizar a medicação corretamente evita exacerbações em quadros de DPOC
A Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica (DPOC) é a inflamação dos bronquíolos, com traqueobronquite e enfisema pulmonar. As causas podem ser genéticas, associadas a fatores ambientais, como tabagismo, e, em não fumantes, a exposição à poluição, queima de biomassa e até outras questões que podem ser fatores de risco na infância, como prematuridade, recém-nascido com baixo peso e asma.
A DPOC tem um início silencioso, com uma tosse cada vez mais frequente, dispneia e falta de ar progressiva. A pessoa começa a ter dificuldade para subir escada, por exemplo, até crises de falta de ar, inclusive em casos graves, estando em repouso.
Um estudo intitulado ‘Retrato da DPOC na visão dos brasileiros’, realizado pela biofarmacêutica Chiesi e com apoio da Sociedade Paulista de Pneumologia e Tisiologia, revelou que 30% dos pacientes abandonaram o tratamento sem consentimento médico. A pesquisa ouviu 2141 pessoas de todas as regiões do País. Além disso, 45% dos respondentes dizem que não procuram atendimento quando têm sintomas da doença. “Se você não adere ao tratamento, aumentará o risco de não melhorar. E queremos reduzir riscos no futuro: perda de capacidade pulmonar e crises”, enfatiza Luiz Fernando Pereira, coordenador de DPOC da Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia. O médico estuda e trabalha com pacientes com a doença desde 1986.
Para detectar a capacidade pulmonar, é feito um exame simples: a espirometria. “É simples de fazer e documenta a obstrução que a doença causa. Infelizmente, a comunidade médica, exceto o pneumologista, não pede esse tipo de exame normalmente”, lamenta.
Alimentação adequada, atividade física diária, parar de fumar, evitar exposição a fatores como poluição e fumaças, além das vacinas contra gripe, covid, pneumonia e herpes fazem parte do conjunto básico de medidas a serem tomadas para quem tem DPOC. O tratamento farmacológico é feito através de medicamentos inalados, com menos efeitos colaterais, e também alguns de uso oral.
Dispositivos para tratamento
Para o uso de medicamentos inalatórios, existem alguns dispositivos, como explica Luiz Fernando Pereira: “Temos os chamados pressurizados, a bombinha comum que você sacode, dispara e sai um gás – que hoje só tem gás hidrofluoralcano pq o CFC destrói a camada de ozônio. Depois, os inaladores de pó, que são os que mais crescem nos últimos anos. E qual é a grande diferença entre eles? O pressurizado tem que ter uma técnica muito correta que é: sacudir o dispositivo, expirar, soltar o ar e, no começo da inspiração, dispara e puxa fundo, lento e prende por 10 segundos”, diz. Para uma pessoa idosa ou em crise, esse processo se torna complexo
Já os inaladores de pó não têm de ter uma coordenação, segundo o pneumologista: “O que interessa é você fazer uma inspiração bastante profunda, pois é ele que gera a medicação. O remédio já está misturado com a lactose e quando puxa forte, quebra a lactose e libera o remédio. Enquanto nos pressurizados você prepara e puxa devagar e prender, o do pó não. Basta soltar o ar e prender”.
Ainda existe o chamado inalador de névoa suave. “Ele tem uma mola que, ao ser girada, cria energia. Quando você dispara, essa energia da mola se solta e gera o que é preciso para ter o aerosol adequado. E temos também os nebulizadores: de jato, os ultrassônicos ou os de malhas, mais modernos. Custa, em média, R$ 500, mas não temos os melhores broncodilatadores para nebulizadores no Brasil atualmente”, ressalta.
O melhor dispositivo é o que o paciente usa de forma correta. E a não adesão ao tratamento ou a economia de medicamentos de forma indevida podem gerar mais exacerbações.
Em entrevista ao canal da CDD no Youtube, Luiz Fernando destaca que médico e paciente precisam ter diálogo para chegarem a melhor opção de tratamento.
A importância a adesão ao tratamento
Como dissemos no início da reportagem, 30% dos entrevistados da pesquisa simplesmente abandonam o tratamento para a Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica e os motivos são diversos. Com experiência de quase 40 anos na área, Luiz Fernando Pereira, coordenador de DPOC da Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia, lista três tipos de adesão: o ‘sub-uso’, que é a mais comum; o uso incorreto, ou seja, usar o dispositivo de forma inadequada; e o uso excessivo.
“Cabe ao médico, realmente, tentar identificar. Se o profissional de saúde perguntar se o paciente está usando a medicação, a resposta mais habitual é que sim. Nós (médicos) temos que perguntar: ‘quantas vezes você ficou sem usar esse mês ou essa semana?’ ou ‘quando viaja, fica sem usar?’. Com isso a gente percebe melhor. Perguntar para a pessoa que está acompanhando na consulta”, afirma o pneumologista.
Verificar a quantidade de doses restantes no dispositivo e comparar com o período em que comprou ou começou a usar, também pode ser uma estratégia. Mas, muitas vezes, o paciente não percebe o erro. “Isso pode ser não intencional, por déficit de memória, por exemplo. E dinheiro. Hoje boa parte dos estados brasileiros têm seus protocolos. Aqui em Minas Gerais temos todo o arsenal de medicação. Quando não tem, às vezes precisa judicializar um remédio de R$ 200, o que não é uma boa coisa”, pondera.
Além das orientações do próprio médico, o paciente pode buscar auxílio em universidades que trabalham com doenças respiratórias e que podem ajudar com informações sobre manejo de dispositivos. O coordenador de DPOC da Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia, Luiz Fernando Pereira, participou de uma live no canal da CDD no YouTube. Confira: