14.09.2023 Saúde Pública

Por que a vacina contra a dengue ainda não foi incorporada pelo SUS?

Por CDD

Anvisa aprovou a única vacina contra a dengue disponível no Brasil em março, mas está apenas na rede privada

A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aprovou, em março, a vacina Qdenga (TAK-003, do laboratório japonês Takeda Pharma) para todas as pessoas acima de 4 anos de idade até os 60, tanto para quem teve ou não dengue. Apesar disso, o imunizante está apenas disponível na rede particular de saúde. 

Cada dose custa entre R$ 301,27 e R$ 402,05, de acordo com preço tabelado pela Câmara de Regulação do Mercado de Medicamentos (CMED). Ainda devem ser somados impostos e custo operacional do serviço, segundo a Associação Brasileira de Clínicas de Vacinas (ABCVAC).

Em junho, durante uma audiência na Câmara dos Deputados, em Brasília, o representante do Ministério da Saúde, Daniel Ramos, da Secretaria de Vigilância em Saúde e Ambiente, afirmou que aguarda um posicionamento oficial da OMS sobre o tema e acredita que a vacina possa estar disponível no SUS até o fim de 2024. “Por conta dos trâmites de importação de um lote inicial, mas também de trazer essa tecnologia para Bio-manguinhos e a Fiocruz poderem produzir no Brasil”, ressaltou.

A infectologista da Unicamp Raquel Stucchi, consultora da Sociedade Brasileira de Infectologia, explica que a incorporação de vacinas no calendário do Ministério da Saúde exige um número maior de etapas: “Incluindo um estudo populacional a respeito de para quem a vacina será oferecida, qual a repercussão do custo dessa medida, etc. Então, esses estudos estão em andamento, por isso que ainda não foi incorporada”, diz. 

A especialista acrescenta que há a expectativa de que, nos próximos meses, seja aprovada uma vacina de fabricação nacional. “E seria em dose única, o que, do ponto de vista de saúde pública, seria muito mais vantajoso do que uma vacina em duas doses”, enfatiza.

Raquel Stucchi avalia que ter uma vacina contra a dengue no Sistema Único de Saúde é importante para evitar as formas mais graves da doença, com hospitalização e óbitos. No primeiro semestre deste ano, já foram registrados mais de 1,3 milhão de casos prováveis de dengue no Brasil, com 596 mortes confirmadas e 428 em investigação. As regiões mais afetadas são Centro-Oeste e Sudeste. 

“Agora, mesmo com a vacina contra a dengue no SUS, nós temos que lembrar que o aedes transmite outras doenças para as quais a gente não tem imunizante ainda, como chikungunya e zika vírus. E que as pessoas precisam ter o cuidado do seu entorno, no sentido de não deixar água parada, fazer essa fiscalização constantemente para que possamos reduzir também a ocorrência dessas doenças”, conclui a infectologista.

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