19.04.2023 Saúde Pública

Yanomamis: outros territórios seguem ameaçados e preocupam movimento indígena

Por CDD

Garimpeiros migram para outras regiões do Brasil e provocam risco à população indígena; confira edição do ‘Saúde na Roda’

Autoridades nacionais e internacionais precisam tomar providências em relação à migração de garimpos após denúncia sobre destruição da população Yanomami, divulgada no início do ano. O alerta foi dado por representantes indígenas durante a exibição do programa Saúde na Roda.

O Dia dos Povos Indígenas, celebrado em 19 de abril, deu lugar ao tradicional ‘Dia do Índio’, através de um decreto presidencial de 2022. A mudança tem como objetivo explicitar a diversidade das culturas dos povos originários. O projeto de lei, na ocasião, foi da deputada federal Joenia Wapichana (Rede-RR), com relatório favorável de Fabiano Contarato (PT-ES).

A indígena do Povo Baré Putira Sacuena, biomédica, mestra em Antropologia na Concentração em Bio-antropologia e doutoranda pela Universidade federal do Pará, afirma que diversos lugares no Brasil estão ameaçados e que já foram denunciados para a Comissão Intersetorial de Saúde Indígena, o CISI. “E é algo que vem preocupando o movimento indígena. Os territórios Munduruku, o Rio Tapajós, os municípios de Itaitu e Jacareacanga, lá tem a questão da contaminação por mercúrio. Em Altamira (PA), onde o garimpo ilegal vai, a malária vai junto. Há 20 anos não tinha registro dessa doença lá, por exemplo”, relata. Putira ressalta que, há mais de 40 anos, o garimpo atua nos territórios Kaiapó, mas ainda não houve nenhuma providência tomada para parar a exploracao ilegal da area.

Luiz Penha Tukano, integrante do Conselho Nacional de Saúde representando a COIAB, Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira, e da Comissão Intersetorial de Saúde Indígena, e doutorando em Epidemiologia pela Fiocruz, conta que os garimpeiros que estavam em terras Yanomami migraram para outros lugares menos ‘visíveis’. “E tem outra questão: muitos deles saíram agora, mas voltam já já. A estrutura é tão forte dessas pessoas! E existem muitas lideranças indígenas que estão sendo perseguidas”, declara.

Em Surucucu, um dos lugares mais afetados pela crise humanitária, embora a emergência tenha entrado para a agenda do governo federal desde janeiro, a força-tarefa voltada para o atendimento à saúde e distribuição de alimentos ainda é insuficiente. “O adoecimento yanomami já estava acontecendo há muitos anos, porém, a gente estava em um governo que negligenciava completamente o que era a saúde indígena”, enfatiza Putira.

Tukano concorda e acrescenta: “Nos últimos quatro anos, vimos a malária quadruplicar na região. Isso já era um indicativo muito claro de que algo muito sério estava acontecendo. Foi algo invisibilizado ou talvez não era de interesse de quem estava monitorando na época. Era visível para quem estava fazendo a vigilância epidemiológica. Os profissionais de saúde deveriam ter alertado e, se alertaram, não foram ouvidos”.

Confira mais uma edição do programa ‘Saúde na Roda’. Camila Tuchlinski recebe a indígena do Povo Baré Putira Sacuena, biomédica, mestra em Antropologia na Concentração em Bio-antropologia e Doutoranda pela Universidade federal do Pará, e o doutorando em Epidemiologia pela Fiocruz Luiz Penha Tukano, integrante do Conselho Nacional de Saúde representando a COIAB, Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira, e da Comissão Intersetorial de Saúde Indígena.

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