11.07.2024 Dermatite Atópica

Aberta consulta pública para crianças e adolescentes com DA

Por CDD

Crianças e adolescentes com Dermatite Atópica

Está aberta a Consulta Pública Conitec/SECTICS nº 37/2024. Ela busca opiniões quanto à incorporação dos medicamentos abrocitinibe, dupilumabe e upadacitinibe tratamento de adolescentes com DA moderada a grave e dupilumabe para o tratamento de crianças com a condição. Qualquer pessoa pode participar da consulta, através do portal gov.br.

De acordo com o parecer preliminar, a Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no Sistema Único de Saúde (Conitec) é contrária à incorporação destes medicamentos para o tratamento de crianças e adolescentes. Porém, a contribuição da sociedade ainda pode reverter esta decisão. Para a CONITEC, o custo-efetividade das tecnologias não é importante para as incorporações, mesmo com o parecer positivo dos especialistas e o relato do paciente testemunho na audiência pública sobre os tratamentos.

O que dizem os demandantes

O abrocitinibe, upadacitinibe e dupilumabe são medicamentos que contribuem para diminuir a inflamação e sintomas da DA, já que o abrocitinibe e upadacitinibe agem inibindo a enzima Janus Quinase (JAK), que está relacionada à liberação de substâncias inflamatórias; por sua vez, o dupilumabe é um anticorpo monoclonal. Ou seja, é um medicamento capaz de reconhecer proteínas específicas envolvidas no processo de inflamação da DA.  

Conforme o resultado dos testes clínicos, todos os medicamentos avaliados para adolescentes com dermatite moderada a grave (abrocitinibe, dupilumabe e upadacitinibe) apresentaram maior redução dos sinais clínicos e da intensidade da coceira. Além disso, essas tecnologias melhoraram a qualidade de vida, após 12 ou 16 semanas do início do tratamento. Já entre as crianças com dermatite moderada a grave, o dupilumabe foi mais eficaz na redução dos sintomas.

O que dizem os especialistas

De acordo com o médico dermatologista Wagner Galvão, a dermatite atópica (DA) é uma doença inflamatória crônica da pele que causa um impacto significativo tanto físico quanto psicológico. Uma pesquisa revela forte associação entre a DA e vários problemas de saúde mental, destacando a necessidade de tratamento precoce e eficaz.

Ainda de acordo com esse estudo, os pacientes com DA apresentam uma prevalência maior de condições de saúde mental como TDAH, ASD, transtorno de conduta e depressão em comparação àqueles com outras condições dermatológicas. Mais especificamente, as razões de chance (OR) para essas condições em pacientes com DA são significativamente elevadas: TDAH (OR=1.48), ASD (OR=1.54), transtorno de conduta (OR=2.88) e depressão em DA severa (OR=3.15).

Tendo isso em mente, a gravidade da DA está correlacionada com a incidência desses problemas de saúde mental. Pacientes com DA moderada e severa exibem maiores chances de depressão, ansiedade e distúrbios do sono. A inflamação crônica, característica da DA, desempenha um papel crucial no desenvolvimento dessas comorbidades psiquiátricas. Níveis elevados de citocinas pró-inflamatórias em pacientes com DA têm sido associados à depressão, ansiedade e outros problemas de saúde mental.

A duração da doença também contribui para o fardo psicológico. Pacientes com longa história de DA são mais propensos a desenvolver depressão e outras condições de saúde mental. Isso desta a importância de um manejo eficaz da DA ao longo do tempo.

Impacto na saúde mental

Dado o impacto profundo da DA na saúde mental, a intervenção precoce é essencial. Assim, um tratamento rápido e eficaz pode ajudar a mitigar a gravidade da doença e seu fardo psicológico associado. Ao controlar a inflamação e reduzir a natureza crônica da DA, o tratamento precoce pode prevenir o surgimento de problemas graves de saúde mental, melhorando significativamente a qualidade de vida dos pacientes.

Para o dermatologista Guilherme Muzy, existe uma demanda não atendida para o tratamento de crianças e adolescentes com dermatite atópica. Hoje, há apenas uma opção sistêmica, a ciclosporina. “A incorporação dos inibidores da JAK é muito importante, justamente porque a resposta (ou ausência) vai ser a mesma entre um e outro tipo de um inibidor da JAK. Ou seja, são medicamentos que, embora o mecanismo de ação seja semelhante, o funcionamento é muito único. Então, eles constituem opções terapêuticas que são necessárias no caso de uma doença crônica de longo prazo”, afirma o médico.

O que dizem os cuidadores

“Neste final de semana, gastei R$ 1.200,00 com shampoos, cremes e sabonete para a minha filha que tem dermatite atópica. É quase um salário mínimo! Isso para uma pessoa de classe média já representa uma grande parte dos ganhos mensais, imagina para alguém que sobrevive com um salário mínimo. É injusto, chega a ser imoral”, declara o consultor em saúde Mário Moreira, pai de uma criança de 7 anos que tem a doença. Os custos com tratamento profilático da doença não são computados no parecer de custo-efetividade da CONITEC e é um potencializador da progressão da doença. Dessa forma, ater-se ao custo do medicamento traz uma carga à família do custo total da doença.

O posicionamento da CDD

Diante das evidências apresentadas, a CDD destaca ainda a importância de termos mais opções para o tratamento de dermatite atópica, tanto para os pacientes, quanto para os médicos, tendo em vista que a DA é uma doença crônica com um potencial de perda de qualidade de vida muito grande, especialmente na infância e adolescência.

Por isso, fortalecer este tratamento tem um impacto valioso para a saúde física e mental dos pacientes e suas famílias. Vale ressaltar que os tratamentos hoje incluídos para pacientes de DA não atendem as necessidades reais e atuam de forma menos específica no tratamento. Isso significa que não há melhoria significativa do quadro geral das pessoas que vivem com DA.

Participe da Consulta Pública nº37/2024!

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